9.30.2008

Da beleza consensual





foto Ramus Mogensen


Depois de debater aqui a beleza e a sua falta de consenso, eis que dou de caras com uma fotografia da Monica Bellucci.
Linda de morrer, com um corpo magnífico, bem capaz de ser o espécime feminino mais perto da perfeição que já vi.
Já ouvi homens menosprezar a beleza consensual apenas por isto, sentir necessidade de ir buscar ao um catálogo desconhecido amostras de beleza discutível cujo único mérito é não ser óbvia.
Já vi mulheres fazer o mesmo, mas de forma diferente. Os homens que apreciamos têm sempre estilos muito diferentes, mesmo entre amigas que se vestem e penteiam da mesma maneira.
Conseguimos usar o mesmo bikini, mas depois achamos piada a homens diferentes (ou sou eu que tenho uma sorte enorme com as amigas, nunca coincidimos).
Não vejo menos mérito na beleza óbvia, sim, ela está ali e nem se esforçou para isso.
Mas desprezar qualquer coisa só porque ela apareceu sem trabalho é fruto de alguma herança religiosa do passado. Actualmente já podemos julgar as coisas pelo seu valor, ou não?

9.29.2008

Porque sem elas

não poderíamos escrever aqui (nem noutros lados).

I love typography

Flashdance



Um amigo disse-me um dia que a maior parte da educação sentimental dele foi feita a partir de música lamechas. A minha há-de ter sido feita a partir de filmes dos anos 80.
Depois onde é que a coisa descambou já não sei precisar.

9.28.2008

Tenho vergonha

dos meus erros ortográficos.

E foram logo dois, em dois posts seguidos. Tendo sido apropriadamente corrigidos (sim, eu agradeço que me corrijam), devem lá estar registados nos feeds para sempre. A considerar se devo tirar os feeds, registo eterno dos meus pontapés na gramática.

In memoriam



Paul Newman 1925-2008

9.26.2008

Os meus agradecimentos

pelo esclarecimento.
Eu não lia, agora serei tentada a fazê-lo.
Ou não. A minha paciência quando se esgota raramente volta.
É pessoal, claro, o ermita congratular-se-à com isso.


daqui, viaOpen Eye

Uma foto captura um momento. Só que, por vezes, um momento encenado.
Outras ainda, quando nem a encenação é suficiente, a fotografia é composta.
Um momento é composto.
Quantos momentos foram compostos na nossa memória? Agora que queremos mesmo apagar pedaços traumatizantes, porque não podermos adicionar outros: reconfortantes, elecrizantes, fascinantes?
Poderemos um dia tratar a memória como um pedaço plástico e moldável, esquecendo o que não queremos mais lembrar, lembrando o que nunca nos aconteceu mas que nos teria feito felizes se tivesse acontecido?

(eu quero).

9.25.2008

Vejo-a a entrar na escola

por entre as grades.

- É tão bonita, a mana, não é?
- Sim.
- Achas mesmo - Tom de absoluta surpresa, assumi que ele diria "não, é parvalhona" - a cara, é bonita?
- Não. Nas roupas que ela veste.

Tão pequenino e com tanta noção de estilo. Meu rico filho.

daqui


Eu acho que não. Digo a toda a gente que não.
Mas por dentro, há uma parte de mim que acredita que sim.
Eu prezo mais esta parte do que qualquer outra. É ela que me faz sentir viva.

9.23.2008

Das mensagens



foto Nan Goldin

vim a casa e lembrei-me de ti. Hoje não trabalho.


Claro que lembraste. Sabes que eu estou a pensar noutro.
Não te preocupes, em tempos foi ao contrário, estava com ele e pensava em ti.

Da reunião de pais

- O que é que o professor disse sobre mim?
- Que tu lês mal, não fazes os exercícios de Matemática, só fazes disparates nas aulas...
- Oh, vá lá, a sério.
- Não disse nada, eu não perguntei. Só as mães que tinham dúvidas é que fizeram essas perguntas.
- E o computador? Aquilo é tão manhoso...
- Ainda não é para já. É para o avô, se ele quiser.
- Não. É para mim.
- Tens um computador no quarto, precisas de mais?
- Sim, queria um portátil.
- Também eu queria. O meu está a dar o berro.
- Gostava era daquele da maçã.

[a coisa promete]

9.22.2008

Qualquer dia ainda defendo a volta aos corpetes



foto Horst P. Horst

Tem certamente a ver com ter acabado de ler "Um quarto com vista para a cidade" que concluo, nem todas as mudanças que impomos uns aos outros em sociedade resultam bem.
Tudo era bem mais simples quando todos os lugares a ocupar estavam bem demarcados. Pouca mobilidade, opções reduzidas, mas sem dúvida segurança.
Sempre achei que demasiadas opções confundem mais do que ajudam. Mas admito que possa ser uma questão muito pessoal.

Sejamos justos

eu há bocado passei uma meia hora ao sol, estendida num puf que me caiu, literalmente, do céu.

Da televisão a meio do dia

o conceito why bother em larga escala, aplicado a todos os canais sem excepção. Só os velhos, doentes e crianças pequenas é que estão em casa a esta hora, não vale a pena fazer programas para isto.

("as famílias portuguesas estão quase em falência técnica" tem de ser a melhor frase que ouvi nos últimos tempos. Aquilo terá teleponto?)

Preciso de férias

e ontem ao lanche queixei-me ao meu amigo. Eu não preciso de férias. Precisava de não ter insónia crónica e cavalgante, não faço ideia de quando dormi a última noite seguida.
Então, e porque a vida tem estas porcarias cada vez que abrimos a boca, ele aparece-me do pai a arder em febre, eu imagino-me a levá-lo ao médico de manhã e a passarmos o resto do dia muito sossegados, em sestas, a ver televisão, sem fazer nada.
Imagino, porque depois (e porque a vida tem sempre estas merdas, agora em vernáculo) passo a manhã em salas de espera, os dois com uma neura terrível, chegamos a casa e eu tenho que trabalhar e ele só chora, quer por força que eu jogue na consola dele o jogo que não consegue, eu com um artigo para fazer e ele aos berros, à hora do almoço o telefone a tocar e mais um folheto para fazer (nem instalei ainda as fontes, estive a fazer douradinhos), e agora também não consigo instalar porque tenho de ler todas (todas) as instruções do jogo do MacQueen, os mails estão a cair e será certamente mais trabalho, mas tenho-o a respirar em cima de mim mãe por favor, joga comigo e tenho tanto sono, sim, sim, mais valia ter ido trabalhar.

9.19.2008

Ao almoço

o meu Amigo disse-me, em tom de confissão, "Os homens gostam é que não lhes liguem nenhuma".
Não era propriamente novidade e respondi-lhe que também nós, afinal somos todos, e mais parecidos uns com os outros do que queremos admitir.

É por isso, porque quero que me deixes em paz de vez, que te vou encher a caixa de mails de mensagens fofas, que te atrofio o telemóvel com sms ridículas, que te ligo sabendo que não atendes para deixar a minha voz aos sussurros no teu voice mail, que espero à porta do teu prédio e te persigo pela rua até à pastelaria onde tomas o pequeno almoço, que encho os teus posts de comentários desapropriados, que não paro de fazer piscar a tua janela de messenger com palavras indecentes ao longo do dia, que espero pela hora em que sais para ir ao café e, à frente dos teus colegas, te faço uma cena de ciúmes de qualquer coisa que não tenho.
E é por isso que tiro da gaveta a cópia da tua chave que não cheguei a devolver e te espero sentada no sofá às escuras até de manhã, que enfio na mala do teu portátil post its com frases copiadas de livros manhosos, que deixo debaixo da tua almofada fotografias nossas de outros tempos, que te acordo a meio da noite com toques de campaínha.

Ou então não.

9.17.2008

9.16.2008

Por alguma razão

que me escapa completamente ao entendimento, faz parte do meu job description (e de todos aqui na empresa) fazer dog-sitting a um cão.
Regra geral o cão tem uma sitter fixa. No entanto, na ausência desta, cabe-me a mim o papel. Ora eu não entendo nada de cães, não fui criada perto de animais, e hoje esta falta de entendimento fez com que eu me visse forçada a apanhar dejectos do cão à porta de um café. Acho que mereço um aumento. Ou no mínimo um dia de férias, à laia de compensação.
[...]pensava que os homens que não gostavam de mim, ou me maltratavam, deviam ser muito mais extraordinários do que os outros, que me adoravam. Como se fossem uma raridade. Há aqui um elemento de interrogação, de conquista, como se fosse à caça.

E de vaidade.

Exactamente. (risos) Por que é que este não olha para mim? Um colega podia ser estúpido, mas bastava o facto de não notar a minha presença para achar logo que era um tipo especial.

Curioso. Ainda hoje é assim. As mulheres sempre se sentiram entediadas pelos deslumbrados.

Sem dúvida. O sadomasoquismo mete também vaidade, usou a palavra certa.[...]

Gosto

da MFM.
Já tinha gostado quando li o Bilhete de Identidade e gostei ainda mais ao ler a entrevista. Identifico-me com ela em tanta coisa. O que é capaz de fazer de mim uma espécie de intelectualóide (por muito que queira negar).

9.15.2008

Por alguma razão

que não compreendo mas aprecio, os meus almoços de família são na Gulbenkian, a um Sábado ou Domingo.
Este Sábado, o momento alto foi quando a minha avó viu finalmente o alargador da minha irmã ("que coisa tão estúpida foste fazer"). Foi moderada, parece-me.

A vingança é um prato que se come frio

Às quatro da manhã os bares da Bica estão fechados e os do Bairro Alto já deram o que tinham a dar. Aborrecidinha, resolvi devolver a insónia a quem tanto se aplicou a oferecer-ma, várias vezes.
Não resultou, óbvio. Não recebi uma mensagem bem disposta em troca, foram duas.
Estamos mal quando nem uma vingançazinha da treta consigo levar até ao fim.

(lembro-me agora que tenho um fraquinho por homens que guiam só com uma mão. Nada original, portanto, gostar de bad boys).

9.12.2008

O meu amigo

ao ler o post, responde qualquer coisa como, that's why you date me, mas é preciso que se diga que não, que o nosso desafio é sermos demasiado amigos para termos dates ou merdices entre nós, mesmo quando bebemos demasiado vinho tinto.

E agora se o Universo se invertesse



mais do que ser um desafio (quero/não quero, quero mas só se..., gosto/não gosto, apetece-me/não me apetece, preciso/estou farta), gostava de ter um desafio (quero/não quero, quero mas só se..., gosto/não gosto, apetece-me/não me apetece, preciso/estou farta).

9.11.2008

O mundo não acabou

Vês que passou mais de um ano desde a última vez que nos vimos.
É verdade que a saudade se dissipou, como sempre acontece quando nos deixamos enredar pelo dia-a-dia (e isso é sempre, não é?). Também já te tinha dito que não sou pessoa de grandes gestos, até estes ínfimos me são custosos, mesmo sabendo que não me lês, mesmo sabendo que não queres saber.
Só para te dizer que não, não me esqueci. E que se há alguém que levo comigo para a eternidade, és tu.

9.10.2008

O mundo pode acabar

hoje (ou daqui a uns meses) e eu com tanta coisa que ainda não fiz (e quero fazer).

(como por exemplo, estoirar 1 mês de renda nuns sapatinhos destes, que haviam de me ficar lindamente).

Mal me sento para jantar

e já está.

- mãe, o que é um aborto?

Sex talk

Um amigo queixa-se que sempre que o sexo se torna bom, elas apaixonam-se e perde a piada, outro gaba-se das conquistas sexuais que atinge agora em divorciado, outro fala-me dos islandeses, outro ainda queixa-se de não ter sexo há demasiado tempo. A minha amiga evita ter sexo para não se apaixonar e pede descrições detalhadas das relações dos outros. À mesa do almoço debatemos o número de orifícios corporais.
Passamos tanto tempo a falar de sexo que seria uma espécie de milagre se sobrasse algum para fazê-lo.

9.08.2008

Escrevo agora sem vontade



Salvador Dalí, The Persistence of Memory. 1931.

quase por obrigação, há dias assim. As palavras estão-me engasgadas, quase me sufocam, mas parecem não querer tomar a forma certa de um texto, de qualquer coisa legível.
Passei a semana anterior num estado sobre-humano, sem fome, sem sono, sem cansaço. O absurdo sob a forma de uma receita médica e, parecendo perfeito, viver sem necessidades, é completamente desprovido de sentido, de humanidade.
O meu blog fez dois anos na sexta e nem dei por isso. Sou pouco dada a datas e comemorações, mas por alguma razão elas ficam-me gravadas e perseguem-me quase só quando não as quero lembrar.
Por isso o fim de semana passou por mim sem dar por ele, apanhei um escaldão na praia porque não me lembrei que o tempo passava, falhei uma festa porque não me apercebi que perdia qualquer coisa (desculpa).
Do tempo que passou, não recupero o que perdi.

9.04.2008

Por muito que tentem esconder



Escritório de Sarah Palin


Os republicanos são bregas.

A cabeça do urso. O caranguejo. A almofada. O sofá.

via uma casa na praia
Manhã cedo, a porta abre-se. Entro de cabeça baixa, como sempre, com medo de que o estremunho me distraia e o chão me falte. Encaixo-me entre corpos a cheirar a fresco e é então que te vejo. Primeiro andar. Estás mais bonito do que nunca: umas rugas subtis, finas como nervuras de folhas, enfeitam-te os olhos risonhos, que obviamente se divertem ao repararem em mim. Segundo, terceiro. Percorrem-me as curvas recentes e as saliências antigas; trepam-me, como se dois miúdos à solta num campo em busca de flores e de insectos ou apenas de coisas que os distraiam, enquanto eu estática, parada, avariada. Ofendida. Quarto andar. Com um agrado tão displicente que mais parece fortuito, dás-me um abraço fraterno e mostras-te contente, como quem há muito não visse um amigo querido de quem já pouco se lembrasse. Quinto. Só que eu não te quero contente, nem que estejas sinceramente agradado por me veres, ora essa. Sim, sei que estou óptima, não preciso que mo digas. Sexto. Quem pensas que és para me olhares assim bem disposto e te congratulares com a minha presença? Quem?, para eu te ser tão indiferente ao ponto de te mostrares genuinamente simpático comigo, atirando-me com o sorriso encantador que dispensas habitualmente aos passantes, aos meros conhecidos, aos amigos distantes? Sétimo andar. Quero-te compungido, ao menos incomodado; quero que me olhes com a expressão aflita que fazem os que dão de caras com a sua maior perda mas tentam disfarçar. Podes até cobiçar-me um bocadinho ou reconheceres o meu perfume dos tempos em que mo lambias do pescoço. Oitavo. Apresentares-te um tudo nada perturbado, ou apenas nostálgico, pronto. Engole um suspiro, reprime um soluço. Nono, décimo andar. Mas não fiques contente por me veres, isso não, santa paciência. E muito menos te mostres indiferente ao nos despedirmos, sem qualquer resquício de desespero. Décimo primeiro, é aqui que eu saio. Atreve-te a não vires atrás de mim e a ficares aí, a acenares-me com ligeireza, beijinhos até um dia. Mostra ao menos uma certa pena, faz um gesto para me alcançares, um arremedo de lamento. Gagueja, mete os pés pelas mãos, transpira demais, embacia o riso dos teus olhos com a névoa de uma certa tristeza. Não? E um amuo ou um beicinho antes de a porta se fechar?

9.03.2008

Prisão

não lido bem com o passado, não sou resolvida e quero mais é que tudo volte a ser como era. Quero voltar a ser pequena e chorar porque detesto o colégio onde as empregadas nos enxovalham pela farda incompleta, onde mastigo plasticina e cheira a chão encerado. Quero voltar à preparatória para esconder o olhar dos fetos de cavalos mortos e em formol dos corredores. Quero voltar ao liceu e aos cigarros fumados em cima das árvores, aos toques para o intervalo e a saltar por cima do muro para entrar na lateral. Quero entrar na primeira faculdade, voltar a sair, entrar na segunda, chumbar dois anos, entrar na terceira. Voltar a engravidar da minha filha e passeá-la nos corredores da faculdade, ter o meu primeiro estágio, primeiro emprego, segundo, terceiro, quarto, deixar de trabalhar, ter a minha primeira casa mesmo minha (nossa), entrar com a minha filha no primeiro colégio (com a farda completa).
Quero tudo de volta mesmo sabendo que na verdade não quero. Que era infeliz e mudei por isso, ou mudaram as coisas apenas porque não poderiam ficar iguais. Mas. Quero.

9.02.2008

Roubar posts

é crime intelectual. Ter um post roubado* por este blogger é uma espécie de honra.

*(sei bem que não foi roubado, ao contrário da Margarida Rebelo Pinto, acredito em coincidências e sei que o PM não lê o meu blog).

Apercebo-me que tive uma insónia muito grande

quando não passei à frente uma música da Calcanhoto* no iPod.

Bem feita para não me esquecer de não beber café ao jantar.

*(está lá porque na verdade a coisaPod é da minha filha)

9.01.2008

Coisas verdadeiramente importantes das férias

O meu puto já dá cambalhotas e ela gosta de fazer manicure francesa nas unhas dos pés da mãe.

(estas é que são as verdadeiras conquistas)

De volta

Como eu, vejo pessoas a arrastar-se de volta ao trabalho. Não sei se sentem (como eu) que de repente há pessoas e carros a mais por todo o lado, que é preciso andar às voltas para estacionar, parar em todas as passadeiras e muitas vezes a meio da estrada para deixar atravessar, que há pessoas a conduzir bêbedas às 9 da manhã, em contra-mão, que é preciso fazer de novo o circuito das duas escolas antes do emprego e custa, ainda estou a caminho e já tenho dores nos músculos dos ombros e quero fugir de novo para um refúgio qualquer.

pessoas com extremo bom gosto