A menos de um mês de fazer um ano de blog. A menos de 1 mês de fazer 3 anos de blogosfera.
Debato-me menos com esta questão e mais com outras.
Em Janeiro esta minha amiga esteve em minha casa, foi a última vez que a vi. Vive ela agora noutro continente e eu noutra cidade e raramente falamos. Isto porque tudo o que seja comunicação virtual (mails, msn, blogs, chats) é muito estranho para ela, não gosta e causa-lhe uma enorme confusão. Será então de prever que, tendo passado ela uma semana em minha casa no auge desta minha febre, as nossas conversas tenham passado muito por este tema. Suponho que a verdade (se é que tal existe) esteja aí no meio das nossas opiniões: para ela estas formas de comunicação são apenas maneiras de evitar o encontro real, contribuindo em absoluto para um futuro em que as pessoas perderam já a capacidade de interacção pessoal e se limitam a comunicar usando interfaces.
Para mim era excelente (devo dizer que nem nunca tinha entrado numa sala de chat e nutria/nutro mesmo grande desconfiança pelas mesmas), algo que nunca substituiria nada e que servia para quando era impossível a tal interacção pessoal.
Estando dentro das coisas torna-se impossível olhar com distância que permita isenção na análise destas coisas.
Mas, é um facto que nos 11 anos de generation gap entre mim e a minha irmã, eu saía de casa todos os dias para ir ao café com os meus amigos e ela fica sentada em frente do computador a falar com os dela. É um facto que a interacção pessoal é infinitamente mais rica do que qualquer outra (e tive das conversas mais profundas da minha vida no msn e no sl, mas todas as minhas memórias provêem de momentos que se passaram mesmo, ainda que seja com as mesmíssimas pessoas). Mas também é um facto que muitas vezes não a podemos ter e por isso, mais vale ter outras formas de comunicação do que nenhumas. O problema existe (e existe sempre) quando ficamos tão habituados a estas formas alternativas que as preferimos às não-alternativas (por preguiça, por facilitismo), aí dou razão à minha amiga (mas baixinho, que sei que ela não lê blogs).
6 comments:
É só outra forma de comunicação (repito mil vezes). Sabes, eu e tu também temos um generation gap, que não sinto mas que se revela em algumas coisas práticas: eu sou do tempo (lol!) em que não havia net. E calhou nesse tempo pré net, ter passado cinco anos longe dos meus amigos todos. Nesses anos escrevi centenas de cartas e recebi outras tantas. Nunca senti qualquer "virtualidade" nessa forma de comunicar e, talvez por isso, nunca me tenha debatido com as tuas dúvidas sobre esta forma mais rápida e mais eficaz e que não precisa de selos. Não, não substitui a presença física, mas quando esta não é possível, consola, mata algumas saudades e, como se dizia antigamente, "mandam-se notícias".
Apesar de as pessoas acharem isto da comunicação por escrito uma coisa nova - nunca conheceram senão a net - como é que pensas que há muitos anos, quando não havia quase carros e as viagens demoravam horas e horas e as pessoas se viam uma ou duas vezes por ano, essas pessoas comunicavam? Por escrito, como é evidente. Nada disto é novo, é mais velho que sei lá o quê. O resto, conversa, que nunca a interacção pessoal foi tão fácil como agora, nunca o mundo foi tão pequeno.
Do que entendi, quando vivi fora, foi que as pessoas que não gostavam de comunicar por escrito não era por lhes fazer confusão: pura e simplesmente não tinham a mais pequena paciência para escrever cartas.
Catarina, não nego nada daquilo que escreves.
Também eu sou do tempo em que não havia net. Ou havia mas eu não usava porque aquilo era lento e sem interesse. Quando ia de férias eram cartas e postais todos os dias às minhas amigas (porque também ninguém tinha telemóveis aos 15 e 16 anos), quando os meus pais viveram fora, era também assim que falava com a minha mãe quase sempre (mais do que por mail). Era uma espécie de continuidade da relação, para que esta não se perdesse.
Mas há um momento, sim, em que a causa e a consequência se intercruzam e é só aqui que dou razão a quem critica: o momento em que deixamos de nos esforçar por criar condições para nos encontrarmos pessoalmente porque podemos fazê-lo de outra forma.
Sim, nisso és capaz de ter razão, não sei. Mas também não tenho a certeza - falo por mim agora - que o esforço não se faça por haver alternativa. Eu, por exemplo (até por esses anos) que me habituei a estar longe das pessoas e a lidar com isso e já era uma criatura "solitária" antes (é o meu feitio, preciso disso, numas alturas mais do que outras), não é por comunicar seja de que forma for, que me esforço mais ou menos. Não tem nada a ver; comunico com alguns amigos, outros nem sequer isso, não deixamos de ser amigos. É uma coisa difícil de explicar ou então é simples, sou uma egoísta egocêntrica bicho do mato. ;) Um dos meus melhores amigos diz que sou uma espécie de cobra (sem sentido negativo), que se vai escapando sempre. Preguiça, falta de paciência, falta de tempo, cansaço acumulado que nos faz preferir ficar no sofá com um livro a ir beber copos. Esse meu amigo é meu amigo há mais de 25 anos e nunca trocamos uma palavra escrita (nem um sms sequer). Mas se lhe telefonar neste momento, ele dirá "olá maria catarina, então quéfeito?" e dois segundo depois é como se tivéssemos falado todos os dias em todos estes anos (e se calhar por termos passado grande parte deles exactamente assim, a falar todos os dias, que as coisas se transformam desta maneira).
Mas se ele me ligar a dizer "preciso de ti agora" vou de onde for preciso a correr.
Assumes-te assim solitária, mas apesar de tudo vais sentindo diariamente essa necessidade de comunicar, a diferença está apenas nos meios que utilizas.
Peço desculpa pela intromissão mas acho que tudo se resume a essa frase - Mas se ele me ligar a dizer "preciso de ti agora" vou de onde for preciso a correr.
Virtuais ou reais, precisamos de amigos ou das memórias deles para sentirmos esses sorrisos que invariavelmente nos ocorrem.
Beijo
Talvez sejam apenas os sinais dos tempos. Não mais do que isso. Nesta minha curta experiência na blogosfera, descubro a cada dia gente que escreve muito e muito bem, paralelamente à linguagem estranha que os mais novos vão desenvolvendo.
Eu não escrevia cartas há muito tempo antes de falar com as pessoas assim. Só tive um diário na adolescência. E por isso tenho descoberto que é bom andar por aqui. Ou parafraseando o Fausto, "o que eu andei pr'aqui chegar"!
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