1.30.2007

Ondas

Eu tenho uma amiga. Eu tenho a sorte de ter várias amigas, amigas muito boas que nisso escolho-as a dedo e sei que tenho escolhido muito bem.
Mas eu tenho uma amiga. Se acreditasse em almas gémeas, ela seria a minha e possivelmente teria que mudar a minha orientação sexual para me juntar a ela (e ela também). Mas não acredito (ufa!).
Eu já passei muito tempo com essa amiga, muitos e muitos dias juntas de tal forma que viviamos quase na casa de uma da outra, se calhar os nossos pais nem sabiam bem onde morávamos, se não dormíamos em casa era porque estávamos na casa da outra e pronto, nem pensavam muito nisso.
Acho que houve dias em que eu não sabia onde começava eu e acabava a minha amiga, eramos uma, eramos duas, duas cabeças em sintonia que nem sempre precisavam de comunicar verbalmente para saber exactamente o que a outra pensava. Esta minha amiga não lê blogs, por isso sei que não vai ler isto mas também não é por isso que estou a escrever.
É de independências.
Eu cresci a querer ser independente. Eu cresci a querer que os maus ganhassem nos desenhos animados só para o final me surpreender. Eu cresci a querer que os meus filhos fossem independentes, a adormecerem , alimentarem-se, a lidarem com os outros por eles mesmos. Eu tenho pressa que eles cresçam. Eu cresci a querer estar sozinha nos bons e maus momentos (ou a achar que nem pode ser doutra maneira). Não pode ser fácil viver com uma pessoa assim, admito.
Das ultimas vezes que vi a minha amiga (raramente nos vemos agora e sempre que a vejo ela muda radicalmente a minha maneira de pensar) conseguiu mostrar-me porque é que não posso ter medo de usar todas as palavras e todos os assuntos com os miudos.
Mostrou-me também quão longe o meu desespero pela independencia me tinha levado: aí estava eu, a centenas de quilometros de todos os que gostava e sem ter conseguido atingir nada daquilo que queria para mim. Isso não era independencia, era ser estupidamente orgulhosa e arrogante. Era ter desistido de tudo por me recusar a pedir ajuda.
Foi-se embora antes que eu pudesse ter aprendido a ser diferente. Agora mergulho meia perdida no meio das palavras dela.

2 comments:

LP said...

Sem razões para saber das vossas razões, parece-me que tens realmente uma GRANDE AMIGA!

Papoila said...

Dizes "aí estava eu (...) sem ter conseguido atingir nada daquilo que queria para mim". Sem te conhecer, atrevo-me a dizer que podes não ter conseguido nada do que querias, mas isso não quer dizer que tomando outras opções terias conseguido ou serias hoje em dia mais feliz. Não quer dizer também que não venhas a conseguir, com as opções que fizeste no passado e com a tua actual situação.
Um beijinho, e ainda bem que tens uma amiga assim.
:)

pessoas com extremo bom gosto