9.30.2007

A propósito do post anterior,

lembrei-me de uma história da qual não me lembrava há anos, a da minha filiação na JS.

Teria os meus 15 anos quando um amigo meu, filiado na JS, concorrendo à presidência da Associação de Estudantes do nosso liceu, me pediu, entre as muitas assinaturas que ía pedindo dia-a-dia: "assina aí para a lista, sff". Estupidamente assinei, como sempre fazia, e qual não é o meu espanto (horror e vómito) quando passado uns dias ou semanas recebo em casa um cartão da JS com, imagine-se, o meu nome inscrito.
Meia passada com a coisa andei uns tempos atrás desse meu amigo para que tratasse da situação e ele a evitar-me.
Um dia encontra-me à saída da Mexicana e dá-me um sermão, não tinha gostado da carta que eu tinha enviado ao António José Seguro (na altura o presidente da Jota Esse) explicando os métodos de recrutamento pouco ortodoxos dos seus partidários e exigindo o meu desvinculamento imediato da coisa. Ao que parece o presidente ter-lhe-ia dado uma enorme descompustura e talvez ele tenha visto o seu futuro partidário a ir por água abaixo.
Virei-lhe costas com um singelo "rapaz, depois de andar 3 meses a pedir-te que tratasses da situação e sem obter resultados, era isso ou uma carta para a tua mãe".

Hoje em dia seria piada, a forma como na altura o meu pânico estava intimamente ligado a que um dia pudesse querer fazer carreira na política e ter algures estado associada ao PS.
Ou talvez não tenha assim tanta piada se considerar que a Teresa Caeiro foi nomeada Secretária de Estado da Defesa (cargo que acabou por não exercer) por ser filha e neta de oficiais de marinha.
Ora eu, sendo filha, neta, bisneta, sobrinha-neta e trisneta de oficiais das forças armadas teria potencial para chegar a ministra, quiçá não fosse a cartinha ao António José Seguro.

9.29.2007

Sulista eltista

fico feliz por não me ter filiado nesse partido quando, há 16 anos atrás, me enfiavam diariamente propostas de filiação debaixo do nariz. Poupo-me ao trabalho de me desfiliar hoje.

(obviamente não será apenas por o senhor ser do Norte).

9.28.2007

Numa loja de chineses,

esse metaverso onde se encontra tudo o que não é preciso e nunca se encontra o que precisamos (a minha irmã uma vez comprou uns dados de peluche para o carro do namorado), vasculhando à procura de sacos de pano necessários para a escola dele (necessidade que seria facilmente suprida não fosse a minha proverbial falta de talento para a costura), descubro um objecto absolutamente extraordinário: uma capa para a máquina de lavar. Será para não terem frio? Já estará patenteado?

Os meus filhos

são tão, mas tão cultos que dormem sempre com livros na cama.

Ah sim

também acho. Chamar àquilo sentido de Estado (é assim, é com as duas maíusculas, com as duas minúsculas?) é um exagero, quanto muito seria sense of self (não tem tradução em português, tem?)

Ao homem da minha vida

Eu sei que daqui a uns tempos não me vou lembrar nem de metade disto. Dos teus dedos a enrolarem o cabelo enquanto chuchas. Dos teus beijos, muitos, tantos ("eu pumeto que agora vai ser sem língua, mãe").
Eu sei que não falta muito para entrecortares as nossas conversas com muitos dahhs, para achares que a mãe é velha ("a mãe não é vela, é nova") e uma seca e que talvez nessas alturas eu também já tenha esquecido o cheiro dos teus cabelos na minha cara, do calor dos teus braços no meu pescoço quando te pego ao colo ("ai, não aguento, tou cansado").
Eu sei que algum dia, não muito distante, não quererás que eu te leve à escola, que te vá buscar ou mesmo passear comigo na rua ("mãe, eu quero ficar contigo sempe, sempe") e espero conseguir recordar-me que algures ao longo do nosso tempo as coisas foram muito diferentes.
Eu sei que haverão discussões entre nós em que nos esqueceremos de todas estas coisas ("mãe, eu adóu-te, a ti e à mana") e que estes tempos, do difícil que são fisicamente, vão parecer tempos maravilhosos e cor de rosa e em que era tão fácil lidar contigo.
No meio da minha péssima, fraquíssima memória, espero pelo menos lembrar-me de onde guardei estes textos (se me lembrar algum dia de o fazer)

9.27.2007

Espera, é mesmo isto

quando for grande quero ser "deputada eleita pelo círculo do Resto do Mundo".

Ah, mas Lisboa



é outra cidade tão e tão diferente.

Muito, muito boa a revista. Os cronistas são tão pragmáticos que poderiam mesmo escrever neste blog.

Prémio virtual a quem adivinhar o nome da ovelha.

faltas

ou de como o tempo consegue dourar até as coisas mais obscuras.
Há umas duas semanas que não vou à praia (seria impensável lá) e hoje fiquei com vontade de comer uma francesinha no Capa Negra (coisa que, em 3 anos no Porto fiz umas duas vezes, mas enfim).

9.26.2007

Hoje

almocei com uma amiga. Gostei muito.
Porque as amizades afinem-se (de afinidade) e depois afinam-se, com o tempo.
Claro que (como sempre) falei demais e deixei falar de menos.
Para a próxima estarei melhorada, prometo.

Nem era tanto assim, já desconfiava.
Que tudo passa, como uma onda (mesmo aquelas grandes, os tsunamis, também eles passam e acabam numa espuminha que vem morrer aos nossos pés). O tempo faz com que todas as memórias se esbatam em tons pasteis, eu nunca gostei de tons pasteis, de coisas mornas a morrer aos nossos pés. Aquilo que contigo aprendi, porém, era isso que gostava de guardar em mim, a paz, a calma, a memória do que nunca poderíamos ter (nunca vou saber se quererias ter, e parece-me mesmo que nem tu saberás) e do que isso provocou em mim nesses dias em que escrevi o texto.
E nem mesmo isso sei se consigo. As coisas à minha volta, palavras, pessoas, imagens, tudo isso me afasta dessa sensação por muito que me esforce para a guardar. A normalidade, por oposição à santidade é sempre um apelo demasiado forte. Ou sou eu tão demasiado normal, real, carnal que não me consigo aproximar dessa sensação do que por mais do que uns momentos.

Originalidade

vou ser a única blogger portuguesa a não fazer um post sobre o Weeds esta semana (ou este já se pode considerar?)

A propósito (de nada) tenho google reader e bloglines e nunca, mas nunca coincidem no numero de feeds. E onde é que esconderam o botão "mark all read" no google?

Hoje é quarta, certo?

então contribuo para o movimento:



Julian McMahon, da melhor série de televisão actual.

9.25.2007

Comer

uma pastilha sem açúcar é um bocado como ouvir uma piada seca, a única sensação que transmite é o sabor a fracasso.

Note to self:

treinar um "que bom!" verdadeiramente entusiástico para quando alguém me anunciar a sua primeira gravidez. O sorriso amarelo e o "nem imaginas no que te vais meter" entredentes não causam nos outros uma boa impressão minha.

Não sei o que faça

Detesto o you tube. Não publico coisas dessas, não as abro nos blogs dos outros, aquilo irrita-me, não consigo ter paciência para ver um inteiro, os tempos de carregamento da coisa desesperam-me.
Nisto sinto-me completamente só na blogosfera, duvido que alguém partilhe desta minha incapacidade.

9.24.2007

Sono

enxoto-o como às moscas num almoço de verão. A lembrar-me das moscas num almoço de há pouco tempo, o calor, moscas às dezenas e de repente todas a poisarem num peixe meio abandonado, quase propositadamente depositado para ser o chamariz das moscas, de fartos que estávamos das enxotar.
O meu sono, não faço ideia de quantas horas ou minutos dormidos a menos porque há muito que não tenho relógios em casa, enxoto-o diariamente, perseverantemente, desde que acordo até que me deito e sem grande sucesso. É feito das noites sucessivas de vómitos dos meus filhos, das muitas chamadas nocturnas, dos muitos acordares sucessivos, das muitas manhãs de fim de semana a acordar cedo.
Incomoda-me, distrai-me, abstrai-me, domina-me, como as moscas meias zonzas em cima do peixe (ali deixado para ser mordido por elas) e não só não consigo formular um pensamento em condições como também não escrevo nada de jeito.
Perdoem-me então, é do sono.

Comida virtual

aqui.

Nós

-Mas quantos carros tem?

-São uns 5.

-Quem deu esses carros todos?

-Foi a avó M., eu quia aquela pista, então negociámos.

Ouvido no café:

ele: Então vá, paga já a cena.

ela: Não é a cena, é o comer.

9.22.2007

Do futebol

prometi, não foi? (não tencionava cumprir, mas aconteceu).

Eu não gosto de futebol. Nem é não gostar, é daquelas coisas que me passam perfeitamente ao lado, perto dos ranchos folclóricos, das novelas da tvi, das revistas cor-de-rosa, dos livros da Margarida Rebelo Pinto: sei que existem, faço uma ideia do que são, compreendo que existam pessoas que se interessem por estas coisas, mas não me peçam para as ver ou ler, não consigo, não despertam em mim ponta de interesse, dão-me sono, fazem-me desligar e a minha mente vai divagando sobre todos os outros assuntos.
O meu conhecimento sobre jogadores de futebol não vai além do Figo, Eusébio, Cristiano Ronaldo e Beckham mas se me perguntarem onde joga cada um deles (se é que ainda jogam em algum lado) sinceramente não vou conseguir responder.

Ainda assim, e meramente por herança genética, simpatizo com o Sporting e sinto uma pequena aversão visceral ao Benfica. Pode até estar relacionada com as cores da coisa, aquele encarnado por todo o lado não me parece minimamente promissor, lembro-me que o meu pai não consegue comer alimentos de cor vermelha, poderá ser algum desses genes em mim.
Pois bem, nunca tendo passado, no estádio do Sporting, do centro comercial da coisa, em duas semanas consegui ir ao estádio do Benfica por duas vezes já. E parece-me que vou lá voltar 3 vezes por semana a partir de agora.

Descobri entretanto que chamam à coisa "catedral". Talvez haja uma explicação científica para isso, mas a mim parece-me que deve ter sido nome dado por aqueles cromos que andam para lá mascarados de jogadores (pessoas com mais de 10 anos com equipamento de um clube de futebol, please...) e que imaginam que aquela águia seja uma representação de Deus (certamente possuem oratórios daquilo a em casa e uma réplica em tamanho menor pendurada sobre a cama, à laia de protecção).

9.21.2007

Parabéns

ao Pedro, dois anos de blog.
Só não concordo de todo com isto.

Vícios

Não contente com o facto de ter passado as noites em branco a vomitar desde 6ª, o meu aspirante a actor conseguiu cometer a proeza de perder todas as chuchas. Mais uma noite maravilhosa e uma manhã intensa entre muitos "ai, eu não aguento sem chucha!" e pontapés à irmã (da ressaca) pelo menos até às 9 da manhã, quando a farmácia abriu. A capacidade dramática desta criança é impressionante, se o deixo na escola 2 horas, quando chego "a escola foi horrível mãe, tive tantas saudades tuas!", se anda mais do que da porta para o carro ou do carro para a porta "ai, eu não aguento mais, estou cansado, pega-me ao colo", se vai a uma consulta "este médico é óptimo, mãe, o outro era uma seca!".
Permito-lhe todos os vícios, do biberon à chucha para evitar os dramas para os quais me falta tanta paciência, e depois penso, se há homens feitos que se debatem com vícios, porque não há-de ele aos três anos os ter?

9.19.2007

Será possível

descobrir alguém pela maneira de escrever, pelas palavras que escolhe publicar, a maneira como conjuga frases e tempos verbais, pela cor das fotografias com que ilustra os posts, ou a forma como pontua?
Quando começamos a ler as palavras dos outros, aqui ou em livros, revistas, jornais, ser-nos-á possível não imaginar o estado de espírito de quem escolheu aquelas e não outras palavras?
E ao fim de certo tempo de lermos alguém, conheceremos mais intimamente esse alguém do que alguns seus amigos pessoais?
E quando já conhecemos quem de facto escreveu e lhe adivinhamos o tom, a intenção, o não-escrito por entre o escrito?

Ao fim de certo tempo de andar aqui, de conhecer pessoas que aqui andam também, é exercício inevitável. Sabemos que quem escreve iradamente será provavelmente magro, novo, de cabelo liso e curto, gestos enérgicos.
Que a textos longos e nostálgicos pertencerão a uma senhora de certa idade, cabelos ondulados, riso fácil.
Que quem se prolonga infindavelmente por temas políticos será certamente um advogado bem instalado, barriga proeminente, gravata em tons de azul e carrinha com dois bancos de criança atrás.
Mas acima de tudo sabemos que estes clichés só muito raramente se aplicam na vida real.

9.18.2007

Por vezes

quando escrevo posts como este, imagino que algumas pessoas possam lê-lo e, vaidosamente, imaginar que se refere a elas. Se algures no tempo hesitei em publicá-los por causa disto, rapidamente esta hesitação se transformou num encolher de ombros, que responsabilidade tenho sobre a imaginação dos outros?
Ainda bem para eles, se pensarem, ficam mais contentinhos da vida.
Certeza, certeza, tenho de que a pessoa a quem são dirigidos não o lerá e que, caso o fizesse, não imaginaria que seriam para ele. Isto sim me dá vontade de pontapear qualquer coisa pelo caminho.

Tenho net finalmente

e roubo uns minutos entre as slices, as provas reais e a loiça para escrever isto. Não que isto, este post, seja importante, ou belo ou maravilhoso por aí além. Não que escrever sobre fantasmas seja original ou vá mudar a vida a alguém que o leia ou mesmo que o escreva. É só saudades de escrever, talvez.

Enquanto vivi fora havia, associada a estar fora, uma espécie de anonimato que, se por vezes me pareceu brutalmente cru e frio, outras vezes trazia consigo a calma que só o anonimato pode trazer. Essa maneira de começar de novo, sem trazer atrás de si nenhuma história, nenhum fio pendurado. Fora, eu que sou normalmente uma pessoa intimidante e não propriamente afável no trato, poderia tornar-me amorosa, dessas pessoas de quem toda a gente gosta e quer estar perto. Poderia, não fosse dar-se o facto de eu não saber ter outro eu que não o meu, assim não propriamente afável no trato.
Voltei há uns meses, sem me lembrar da quantidade de coisas que afinal tinha deixado para trás. Eram mais do que imaginava, são sempre mais, suponho.
Era escusado era aparecerem-me todas ao mesmo tempo.

9.16.2007

SEO*

Agora se durante os próximos meses eu só fizer posts sobre futebol, a Maddie, sexo, mulheres nuas, Benfica, Sccolari, terei o blog mais visto do mundo?



*Search Engine Optimization, ferramenta de marketing para optimizar as buscas num site.

9.12.2007

Porque hoje

falei com um amigo de outros tempos, sendo que os outros tempos seriam mais outros locais, mas aqui tempos e locais confundem-se, a vida passa à velocidade da luz e um mês é um ano em vida de blogosfera, sobre isto sei que já escrevi. Mas escrevo este post que pertence afinal lá, e lá daria azo a discussões várias, a risos (meus muitos certamente), numa espécie de revivalismo.

Uma mulher que goste de si própria não admite faltas de educação, faltas de respeito, falta de piada, desinteresse, falta de cultura, falta de higiene, falta de esforço.
Uma mulher que se adore é por isso completamente inacessível.

9.10.2007

Pois

minha querida, acho que sim, que existem pessoas assim que nos ligam os botões todos. Mas se falas de homens, e contemplando a minha fase "bem podem morrer a tentar antes que consigam sequer ligar um único botão", nem imaginas a paz interior que se ganha sem isso.

9.08.2007

To be or not to be

a criança mais nova vai de caixa craniana na mão para a escola. Porque do que ele gosta mesmo é do "cébero e do encéfalo".

9.06.2007

Enquanto a saudade

se dissipa nesses pequenos gestos indiferentes e diários, no barrar da manteiga no pão, no apanhar a roupa, no pegar nele ao colo porque chora, no atender do telefone. Enquanto isso, sei que não te vou esquecer nunca.
E não apenas porque não posso, mas até mesmo porque não quero.
E agora sim, é a primeira vez que tal acontece.

Muitas vezes

à beira desse precipício fundo onde jazi durante meses ainda não há muito tempo, nessas vezes, oiço por dentro "nunca Deus dá a cruz maior que as costas". Em simultâneo com a voz do meu professor de arquitectura do segundo ano (o arquitecto Nuno Mateus), quando eu protestava por ele me ter mandado reproduzir uma casa do Rem Koolhaas em inúmeras maquetes e plantas, "dou o trabalho conforme a capacidade o aluno". Olhei para a minha colega que ficou com o pavilhão de Barcelona e senti-me de alguma forma recompensada.

9.05.2007

Do mais novo

diz as coisas mais incríveis, muito próprio dos seus 3 anos.

-mãe, o outo pai tá a ficar velo.
-Outro pai? Mas quantos pais é que o menino tem?
-dois.
-dois? Quem são?
-o pai e o avô.
-E qual é que está a ficar velho?
-o pai.

Hoje, 1 ano de blog

1 ano de vida escrita aqui. Ou parte dela pelo menos.

Aprendemos muito neste ano (eu e o meu blog). Tanto, tanto (eu, um pouco por intermédio dele) que agora só temo já não ir a tempo de corrigir todos os erros anteriores.

9.04.2007

E também

das coisas que escrevo, nada é aquilo que quero dizer. Das coisas que digo também não.
Grito-me toda por dentro mas calo-me para fora, que nada do que quero dizer é passível de ser ouvido por outros.

Desde que voltei de férias

que não consigo escrever nada de jeito. As palavras saem-me atabalhoadas, pouco claras. Nada faz sentido, pareço gaga no papel (como se chama a gaguez da escrita? Existe termo para isso?), deve ser da confusão geral em que me encontro.

Existirá alguém que não tenha

medo de envelhecer? E desse medo, o que mais tememos? A morte? A degradação do corpo? A aniquilação do espírito? A solidão?

Digo já que medo, medo tenho de ir perdendo, uma a uma, todas as minhas capacidades físicas mantendo as da mente intactas. Deve ser um bocado como fazer uma operação de coração aberto com anestesia local, protagonizar um espectáculo triste sem saber sequer quando aparece o final.

9.03.2007

Eu que

pinto as unhas e as arranjo (pés e mãos), tenho voz fina (não fininha, normal), cabelo comprido, só uso sapatos com salto e bikinis na praia. Eu que sempre achei que era muito normalzinha, pronto, sem grande pachorra para certas coisas como comédias românticas e musiquinhas da Celine Dion, mas de resto passo horas a falar de cabeleireiros e consigo manter uma conversa sobre roupa. Por isso custa-me um bocado a entender quando me dizem, duas pessoas diferentes já esta semana, que tenho feitio de homem.

9.01.2007

A coisa (III)

Depois destas duas coisas, tinha que vir a terceira (ou não, mas vá).

De vez em quando acontecem, essas coisas. Sem razão aparente, talvez, como disse a Margarida, elas sejam um propósito em si mesmas.
Ao fim de um certo tempo habituámo-nos a viver com ela e não há já sequer uma ponta de angústia ligada à coisa. Ela é.
Assim como é, perfeita, intocável, imutável. É assim porque não vive na realidade, existe apenas como uma metáfora, num mundo paralelo ao real e só aí ela pode ser como é, ideal. Um dia trazida à luz, efectivada, ela tornar-se-ia banal, corrompida, cheia de pequenos buracos como o são todas as coisas. Assim como está, imaginária, não causa angústias e também não traz grandes alegrias, é um facto. Mas assim foi ela desde sempre, assim concebida e, se algures no passado isso me enraiveceu, entristeceu, agora só me causa alegrias.
Bendito o dia em que até as coisas que não posso ter me causam alegria.

PS: Durante o tempo que mediou o ter escrito o post (no bloquinho) e a tê-lo publicado aqui (hoje), a coisa, sem que eu sobre ela tivesse qualquer espécie de controlo, virou-se, transmutou-se, transferiu-se para outra coisa. Em tudo semelhante. Em tudo diferente. Ainda assim o post manteve-se válido, em tudo absolutamente igual, talvez as minhas palavras sirvam afinal todas as coisas e as submetam ao que escrevo. Ou então são as coisas que me aparecem sob estas formas como que a indicar-me algo, nada de muito místico, apenas o caminho natural a seguir que tantas e tantas vezes pedi a Deus para me indicar.

Adenda: afinal é mesmo a quarta vez que falo na coisa

pessoas com extremo bom gosto