10.31.2008

Visto de cima

o átrio enorme parece minúsculo. É o cais da estação Baixa-Chiado e está apinhado de gente que se amontoa.
Um segurança passa à frente de todas as pessoas que se acotovelam, paradas escrupulosamente antes da linha amarela com bolas em relevo. Imagino que peça para se chegarem para trás por segurança, as pessoas são muitas e poderão empurrar-se demasiado. Penso como é irónico ele fazer isso de costas para a linha e mesmo na beira do cais, da posição onde estou parece demasiado tentador para alguém que se encontre perto dele dar-lhe um leve encontrão mesmo sem querer ou por curiosidade de ver um corpo cair à linha. Que som fará quando a carruagem vier, que pedaços serão despedaçados primeiro, o que veremos, ficaremos cobertos de sangue e de massa encefálica?

(porcaria de imaginação gore)

Subi as escadas a correr

para ir buscar qualquer coisa, o telemóvel, chaves de casa e chaves do carro na mão. Subi e lembrei-me, em criança tanto invejei os objectos que só os adultos podiam usar, umas chaves de casa, chaves do carro. O quanto quis ser adulta só para poder segurá-los, chamá-los meus, o desprezo que os adultos pareciam ter por eles e o quanto eu iria prezá-los.
Mal sabia eu a pouca piada que tem possuir um carro, uma chave de casa. É sempre assim, as coisas perdem logo a magia toda quando se tornam nossas.

10.30.2008

Serviço informativo

Ontem à noite o mundo mudou. Para melhor.
A minha nova sobrinha* nasceu.
Bem-vinda M.!

*não, não somos irmãs

Chiado



"Atravesso um mundo rural suspenso na iminência do aguaceiro, uma manta de arrozais descosida pela linha ferroviária, planícies perto e vulcões na distância, aldeias imóveis, mesquitas e madrassas, camponeses curvados, mulheres em chador, crianças em rodopio. Apetece pensar que as pessoas são mais felizes neste universo pastoral: Mas não são, a relação do ser humano com a felicidade é igual em todo o lado."
Gonçalo Cadilhe, A lua pode esperar

Aproveito estes primeiros dias para tirar fotografias como os turistas. Sei que não durará muito, o meu estado de graça. Serão poucos mais os dias em que ninguém se importa com os meus erros, poucos mais os que me espantam, nos quais consigo ver a cidade reflectida nos olhos assombrados dos turistas.
Em breve será banal escalar as profundezas da estação de metro, daqui a pouco não me maravilharei com os rapazes na rua vestidos com fatos de mergulho e um cartaz a pedir abraços. Vou deixar de reparar nas fachadas com letreiros antigos e nos cafés fashion remodelados por estrangeiros. Será para mim igual almoçar nos Armazéns do Chiado ou no Nood, por isso registo aqui agora.
Percorro a rua com a máquina na mão, ninguém estranha, menos ainda aqui onde todas as coisas peculiares se juntam, onde as línguas se misturam, onde os pedintes se distinguem com dificuldade dos outros e sempre pelo tom de voz, nunca pelo aspecto.

E depois penso nisso, que viajar é ter esse assombro constante, e não me admira que seja tão viciante para quem já viajou muito (não sou eu, infelizmente) continuar a querer viajar sempre e mais.

10.27.2008

Penso muito nisso



foto Martin Schoeller


Naquilo que conhecemos das pessoas que lemos todos os dias. Achamos que conhecemos, talvez pesemos as suas palavras e as interpretemos de forma completamente distorcida. Nós não somos o que escrevemos, o que lemos, o que dizemos, o que mostramos, o que escondemos. Nós somos um somatório e uma subtracção de tudo isso. Admitir que podemos aqui (bloga) encontrar afinidades, proximidades, intimidades, inimizades, é admitir que as podemos encontrar em todo o lado (e podemos). Na sala de espera de um consultório, num banco de escola, num amigo de um amigo, num colega de emprego, numa pessoa na qual batemos no carro.
Mas aqui como lá fora, todas essas coisas exigem tempo, dedicação, disponibilidade, química.
Nem sempre são possíveis. São muitas mais as vezes as quais se tornam impossíveis.
É por isso (aqui como em todo o lado) precioso encontrar, manter essas relações. Assumir que elas não estarão sempre lá. Elas não estarão sempre lá. Só isso.

10.24.2008

Paz



foto Elton Melo

Alguém se deu ao trabalho de me escrever um longo mail a insultar-me numa língua estrangeira, pelo facto de eu não ter respondido a mails de engate dele.
O blog é meu, eu não obrigo ninguém a lê-lo, era o que me faltava ter de me justificar pelas razões pelas quais o mantenho, se tenho ou não comentários e porquê, se respondo ou não aos mails que me enviam pelo endereço do blog - respondo sempre, a menos que não me apeteça.
Eu que me gabava de nunca me ter desentendido com ninguém na blogosfera em quatro anos e quatro blogs diferentes, finalmente encontrei quem se tenha ofendido imenso apenas por eu não ter feito...nada.
Posso continuar a gabar-me, acho. Eu hoje fiz as pazes com o mundo e o mundo comigo.

Em podendo escolher*



foto Georges Antoni


Preferiria ser esta. É menos aborrecido e mais honesto. Eu aborreço-me com (demasiada) facilidade.

*(é claro que poderia escolher, não fosse a minha moral a minha maior e mais forte carcereira)

10.23.2008

Do metro

Não sei se para o comum dos mortais é tão complicado como para mim andar de metro. Desde a máquina dos bilhetes, aos canais abertos/fechados/de dois sentidos/de sentido contrário, passando pelo mapa da coisa e terminando nas direcções do cais, tudo é passível de aprendizagem e me confunde. Bem sei que é questão de hábito, mas uma vez não habituada, como hei-de entender o que significa "zapping" na máquina de bilhetes (ainda não sei), ou saber de cor que estações ligam a outras, quanto tenho de andar dentro de uma ligação para chegar ao cais seguinte ou qual o percurso mais rápido entre duas estações (que com ligações diferentes podem duplicar o numero de estações e ainda assim demorar metade do tempo por ter menos mudanças de linha).
O pior de tudo para mim é quando chego à estação onde quero sair e dou de caras com um cais, setas para lados contrários e direcções como "praça da alegria" ou "rua do salitre".
Ora tirando três anos, eu vivi toda a minha vida aqui, o que dá 30 anos a percorrer a cidade, tenho a sensação que conheço razoavelmente as ruas, sei onde é a rua do salitre, não faço ideia de onde fica a praça da alegria. E isto acontece-me em todos os cais (tirando aqueles em que não conheço nenhuma das ruas).
Custava muito por pontos de referência para o comum-dos-mortais-que-não-decora-o-mapa-toponímico-de-lisboa, tipo "S. Jorge" e "Tivoli"?

Não sei o que o resto das pessoas faz quando está perdida, eu a conduzir perdida vou sempre atrás do carro com mais pinta (claro que já fui parar ao fim do mundo com este esquema brilhante). Eu no cais do metro e extremamente atrasada para uma reunião, sigo o blogger mais bem apessoado que encontro. Ainda dizem que os blogs não servem para nada*.

*bom, o meu não serve mesmo para nada.

(sim, saí no lado certo).


10.22.2008

Dos esqueletos nos armários

Na casa onde cresci não falávamos sobre sexo. Na casa dos meus pais, falar sobre dinheiro era (é) feio e, à mesa, impensável (pior ainda do que os cotovelos sobre o tampo ou pôr a faca na boca).
Como é que não dei em prostituta é qualquer coisa que roça o mistério.

(empenhei-me em contrariar tudo o que os meus pais defendiam menos as regras de boa educação, valha-me isso).

Em criança/adolescente



foto Joshua Hoffine


quis ser psiquiatra. Não psicóloga, não psi-qualquer-coisa, psiquiatra.
Atraía-me o abismo da loucura, o desequilíbrio químico do cérebro que tornava pessoas que tinham sido bebés fofos, crianças adoráveis, possivelmente adolescentes normais, em adultos capazes de actos horrendos, de auto-mutilações e sabe-se lá mais o quê.
Algum filme que terei visto, possivelmente.
Agora que penso nisso, nada me parece atraente nessa função; nem sequer acredito na psicanálise, os psis são médicos e essa é a profissão menos apelativa do mundo (com excepção talvez para pedicures e cozinheiros), tocar em corpos estranhos, cheirá-los, ouvir os seus queixumes, aturar os seus humores, conviver com a morte e a doença todos os dias, em todos os momentos.
Mas ainda sinto o apelo de ficção-cientifica da alteração de humores, da mudança de personalidade, das cambiantes da mente por factores externos.
Ontem ao comentar com uma amiga que estava farta de estar tão indiferente, quando preferia ter vontade de andar aos tiros a tudo, ela responde-me com uma frase de psicologia positiva, uma espécie de tirada de coaching comportamental e depois desculpa-se "oh, estou assim muito positiva, é dos anti depressivos, não tenho culpa".

Pior ainda é quando vem tudo junto

Por vezes, tal como em hora-de-ponta há quebras de tensão, também em momentos de ponta há quebras de tesão.

(pequeno reminder de como a vida pode ser ainda pior do que comer bolachas de pipocas)

10.21.2008

Da próxima vez que me perguntarem porque não tenho comentários no blog, faço minhas as palavras da Ana

[...]Ter comentários num blog é o mesmo que deixar aberta a porta da nossa casa e deixar entrar no nosso espaço, mexer nos nossos objectos, gente que vai ao teatro ver espectáculos da Teresa Guilherme, gente que lê livros da Margarida Rebelo Pinto e afins, gente que gosta da Rita Ferro Rodrigues e da Margarida Pinto Correia, gente que participa em eventos como a mais bela bandeira do mundo, gente que vive em Agualva-Cacém e vai para Quarteira e Armação de Pêra passear, debaixo do ordinário sol algarvio, nalgas esturricadas, cheias de celulite e estrias.[...]

é ler tudo, tudo, tudo.

Serviço Público

ou descobri como se descartam os posts-fantasma (posts que apagamos do editor de texto mas que já foram cachados nos leitores de feeds, ficando por isso para sempre nos feeds de quem subscreveu) - sou pouco esperta, tive de ver publicado assim para entender como era - não é apagar o post. É editá-lo e escrever "post apagado" ou qualquer coisa semelhante.

Apercebo-me



foto Erik Almas

através de um comentário na caixa de outro blog (e não só) que fui-me gradualmente transformando nessa pessoa inócua e sem pecadilhos que algures no tempo almejei ser. E que quase sempre fui.
Bloquei-me de tal forma que por vezes (quase sempre) não parece existir outra possibilidade e nisso nem tudo é mau.
É como comer uma daquelas bolachas integrais feitas de pipocas: não sabem a nada, não engordam e provavelmente são boas para todos os órgãos do corpo. Mas não dão gozo absolutamente nenhum.

(detesto-me assim)

10.20.2008

Dos dinossauros benzocas

- O tio Rex comia chocoletes dos outros dinossauros mortos.
- Chocoletes? Que bom eram assim muito docinhos?
- Não, mãe! O tio Rex só comia os crânios dos outros.

De vez em quando,



Bernard Henri Levi

quando a esperança começa a esmorecer imenso, Deus envia uma amostra para os Media para que a fé não desapareça por completo. Eles existem, homens simultaneamente giros, com pinta e inteligentes. Claro que depois, quando aprendemos a ler as entrelinhas de Deus, há qualquer coisa que se clarifica ainda mais; existir existem, mas são casados.

10.17.2008

Trust source

Perguntando a qualquer informático que mails devemos abrir ou não, a resposta será provavelmente "trust source". É abrir os que vêm de fonte segura, de quem conhecemos.
Claro que isto não previne o spam, as pessoas que conhecemos também enviam spam. E mensagens que dão sorte. E piadinhas batidas.
Mas pelo menos evitamos algum spam. Ou por outra, se apanharmos um vírus, ou formos vítimas de phishing, pelo menos estamos acompanhados pelos nossos amigos.
É aplicar o conceito em larga escala. O nosso universo social ficará certamente reduzido, mas muito mais seguro.

(porque toda a gente sabe que só os estranhos é que nos enganam).

Ontem



foto Robert & Shana Parkeharrison


Recebi um mail em resposta a um Curriculum que enviei. Era um mail muito agradável, parabenizando-me pelo meu "percurso profissional" (coisa que desconhecia ter) entre outros cumprimentos. Umas linhas à frente percebi o motivo: a pessoa que o enviara pretendia que eu trabalhasse para ele sim, mas de graça.
Ainda assim, foi simpático, por isso na resposta vou evitar contar que ambas as empresas onde trabalhei ultimamente (a actual e a anterior) abriram falência.
Até porque estou convencida que não passa de uma coincidência absurda.

10.16.2008

Na escala da Vieira

Eu teria de ser esta:

[...]A modelo/apresentadora/relações públicas de discoteca foleira, que finge que tem fome para parecer feliz e saudável. O procedimento é em tudo idêntico ao da pessoana, com a diferença de que aquela não gosta nem nunca gostou de comer e é por isso magra/magérrima, embora faça questão de dizer em público que adoooora comer, que come de tudo e que o seu prato favorito é feijoada, mas que nunca engorda nem vai ao ginásio, pois já nasceu assim, é genético, tal como a mãe e a avó. Esta, quando a comida lhe chega, tanto lhe faz como lhe fez e ingere apenas o suficiente para se manter de pé, fingindo que o faz com genuíno prazer, para se enquadrar no ambiente.[...]

Só que eu não sou bem assim. Eu como pouco, mas mal. Eu nunca pus os pés no ginásio. Eu só como chocolates, comida frita ou grelhada desde que tenha muito molho, massas, arroz, batatas. Adoro hidratos de carbono, dispenso a carne. Eu fico cheia com três dentadas num chocolate. Eu sou muito magra. O suficiente para algumas pessoas acharem que sou demasiado magra (leia-se magra de forma não muito atraente). E agora? Vou-me encharcar em comida só porque tive a sorte de não engordar como as outras? Vou tentar ganhar peso só para não ser olhada de lado como se fosse anoréctica? Vou fustigar-me porque as outras mulheres da minha idade pesam o dobro de mim e às vezes tenho de me vestir na secção de crianças? Ou porque uso o numero de calças mais pequeno que existe?

É isso ou ir ali comer mais um bocadinho da mousse de chocolate que a minha avó me mandou ontem.

(decisão difícil).

Depois de um mês de insónias



foto Edward Weston

O sono serve como desculpa para tudo; para sair de casa de gabardine e sandálias, para demorar muito tempo a fazer seja o que for, para não ligar a todas as coisas a desabar à volta, para deambular sem sentido pela net, para ignorar todos os apelos, para chegar tarde a todo o lado.

Sim, não restam senão ruínas, mas ao menos que se possa dormir descansado sobre elas.

(eu posso passar fome e frio, o que me enlouquece é a falta de sono).

10.15.2008

Eu pensava que era explorada

afinal sou é uma espécie de poetisa.

(melhor)

Porque deixou a sesta



foto Lilya Corneli


Chega às nove da noite embebido em sono. Aninha-se no meu braço no sofá e enrola-se como um gato. Esconde a cara, tem a chucha e não quer que ninguém veja (em casa sou um bocadinho bebé, na escola sou crescido). Ela deita-se ao lado.
Durante tanto tempo estive demasiado imersa noutras coisas para reparar nisto. Eles, nós, são casa. Somos casa. Não é o sítio onde estamos, o que temos ou o que não temos.
É isto, o cheiro a cabelo lavado, o toque da pele, o calor que emana deles. Estejamos onde estivermos, é isto.

(medo).

10.14.2008

Publicidade institucional



'OLHAR AS ARTES DO OUTRO',

a decorrer no Museu de Artes Decorativas Portuguesas da Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva, será realizada amanhã, dia 15 de OUTUBRO, pelas 18H00, a conferência

'Nós (e) os JUDEUS',

Pela Prof Doutora Maria José Ferro Tavares,
Historiadora da presença judaica em Portugal e Professora jubilada da Universidade Aberta, Lisboa.

Este ciclo de conferências é organizado no âmbito do Ano Europeu para o Diálogo Intercultural e em conjunto com a Associação MultiCulti - Culturas do Mediterrâneo e com o apoio da Fundação Euro Mediterrânica Anna Lindh para o Diálogo das Culturas.

Museu de Artes Decorativas Portuguesas
Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva
Largo das Portas do Sol, nº 2
1100-411 Lisboa
tel. 21 881 4600
fax. 21 881 4683
www.fress.pt

10.13.2008

Às pessoas que me lêem pelos feeds

Ignorem por favor os três posts anteriores a este. Eu vou tentar fazer o mesmo.



foto David Nightingale

10.09.2008

Da carestia



foto Carl de Keyzer

Durante muito tempo, toda a vida parece-me agora, persegui essa sensação de segurança que só me lembro de ter em criança. À noite, deitada na cama, ouvindo os sons da cozinha lembro-me de pensar que nada me poderia alguma vez atingir.
Acho que persegui essa sensação de tal forma que tive de a arrasar de todo, de destruir tudo aquilo que tinha construído em torno dela para ver se ela se mantinha. Não manteve, antes desapareceu por completo mas sobrevivi sem ela, ainda que para isso tivesse de ir desligando fios. O problema de ir desligando é que há sempre fios que vão na voragem (afinal não era esse, era o do lado) ou corremos o risco de os ir desligando um a um até irem todos à vida.

(tenho tantas saudades de viajar. gostava de ir à india. a minha filha tem cara de indiana. é tão bonita).

10.07.2008

À porta do supermercado



foto Richard Avedon

Estão vários como ele. Mas ele é diferente. Vejo-o a correr para o meu carro e antes ainda de estacionar estou a afirmar "hoje não lhe dou moeda" mas sei que não é verdade. Ele enfeitiçou-me e não há vez nenhuma que não lhe dê a moeda. Ele não pede. Limpa-me uma mancha de resina que anda há meses no capot do carro. Sorri quando saio. Gosta do meu filho e o meu filho gosta dele. Sorri muito. Chama "lagarto" ao meu filho por ele ser do Sporting. Cheira a vinho mas tem um discurso absolutamente coerente. E sobretudo, sorri sempre, não se queixa, antes dá a impressão que tomou a profissão de arrumador como coisa séria, carreira a seguir na vida e a desempenhar na perfeição.
Faz-me pensar, o que fará uma pessoa como ele, fluente na fala, transbordante de simpatia, amoroso com as crianças ("olha a mana, vai para o pé da mana"), escolher este modo de vida dependente da caridade dos outros.

Já dentro do supermercado estaco à frente da prateleira dos vinhos. Não percebo nada de vinhos e atormentam-me as memórias que cada um deles me traz de alguém - O Monte Velho do V., o Duas Quintas do T., o P.P. do P., e por aí adiante - penso nele, provavelmente entende mais de vinhos do que eu e ajudar-me-ia a escolhe-lo.

Quando saio, é ele que vem a correr, limpou-me o resto do capot e vem-me ajudar com os sacos. Ao meu agradecimento responde, laconicamente, "não custa nada ajudar". Sorri ainda.

A coisa é simples, nós é que a complicamos.

10.05.2008

Da Academia do Cérebro

Por algum motivo que terá possivelmente a ver com o facto de o meu emprego ser tão intelectualmente estimulante como ler a caras, tenho jogado muito a esta coisa numa consola de um dos meus filhos.
Tento ignorar o facto de o jogo ter sido concebido para crianças e eu nem ter nunca tido mais de um "B" no exame final, afinal o meu cérebro está a expandir-se (segundo eles) e isso é que conta.
No final do exame a massa informe com óculos que faz de professor dá a avaliação nas várias matérias. Ora eu, tendo resultados aceitáveis na maioria das matérias, falho miseravelmente na "lógica".
Não me espanta. E espantar-me-ei ainda menos quando a massa de óculos finalmente se deixar das prelecções politicamente correctas e disser a verdade:
"Embora você tenha a mania que é esperta, os seus raciocínios não têm absolutamente lógica nenhuma. Cada vez que tiver de tomar uma decisão, pese cuidadosamente todos os parâmetros da decisão, aconselhe-se com todas as pessoas que conhece e por fim faça exactamente o contrário daquilo que decidiu. É a melhor hipótese que alguma vez terá de acertar em alguma coisa".

10.03.2008

Noutros dias penso que sim



foto Helmut Newton

que deveria fazê-lo. Na impossibilidade de te ter, não podendo recorrer à lobotomia para curar a absoluta insanidade de te querer ter, deveria ao menos poder culpar-te por isso (a culpa é tua, sabes), deverias ser tu também a carregar ao menos metade desta bagagem, deveria poder acordar-te a meio da noite com gritos histéricos quando não consigo dormir. Não é justo ter que entrar todos os dias na minha casa vazia (detesto entrar em casa, sabias, não não sabias, sabes tão pouco de mim) tens de ser tu a aturar as minhas crises e não outros, inocentes.
Ser civilizada, ter de guardar tudo isto como nada (o mesmo que peço - exijo - dos outros que sentem o mesmo por mim), sem nada mostrar, é o que torna pessoas normais em assassinos.
O pior de tudo, o mais ridículo, é eu saber - sei - que todo o meu desespero não passa de um auto-jogo mental. No dia em que te tivesse, desprezava-te como fiz quando eras meu.

10.02.2008

Momento orgulho de mãe*

- Olha aqui o que a mãe pôs no blog ontem.

- Ah, isso é da Vera Wang, não é?

*escrito in loco, in situ, aka no chão da sala.

10.01.2008

Eu hoje acordei assim



Sim, sim eu também tenho momentos-princesinha-pirosa-sainha-de-tule-e-piruetas-de-ballet-aos-7 anos ou achavam que as sapatilhas lá em cima eram só para enganar?
Este vou atribuir ao facto de ter conseguido finalmente, ao fim de três noites, acabado de ver o fiel jardineiro. Aqueles últimos 20 minutos foram soporíferos, mas bonitos.

pessoas com extremo bom gosto