4.30.2007

Saudades

Estou sem eles uns dias, sozinha.
Apercebo-me agora que é a primeira vez. De todas as outras tive companhia quando ficava sem eles.
Deve ser por isso que a cabeça ainda não se desligou, ainda penso em ir vê-los às camas antes de me deitar, passo pelos quartos e espanto-me das camas estarem feitas e tudo arrumado.

Não, não é verdade que lhe chamo Zoe. Em pequena era Cuca, agora quando está longe e ao telefone, Princesa. O resto do tempo trato-a pelo nome e muitas vezes aos gritos, a ralhar. Que posso fazer se essa é a minha função, educá-la, e se o faço quase sempre sozinha?

A ele trato-o pelo nome, sempre. Também tinha diminutivo (Duda) mas nunca foi particularmente usado. Na verdade muitas vezes invento outros nomes para ele mas é duma forma tão inconsciente que nem me lembro agora quais são (a memória, pois).
É tão despachado que não parece precisar de mim para nada (a não ser para lhe comprar kraks, bolos e gelados, que pede inecessantemente) diz que é um homem e pronto, faz tudo sozinho, desde pôr o cinto no carro a vestir-se.
Embirra comigo porque a cadeira do carro é de bebés (não é, é banquinho, tem é costas) e que ele é um homem, quer cadeiras de homem.

4.29.2007

Hoje, Parabéns

Mãe.

Um dia já fomos uma, agora duas, diferentes e que nem sempre se compreendem.

Um dia lembro-me de ser pequena e da Mãe me deitar todas as noites, dos nossos rituais (eram 3, lembra-se?) e de me dar sempre muitos, muitos beijinhos.

Um dia virámo-nos de lado uma para a outra e deixámos de nos entender de todo, agora recuperamos aos poucos desse dia.

Um dia a Mãe tornou-se minha amiga, confidente, sempre sem deixar de ser mãe.

Um dia a Mãe foi o meu apoio sem palavras e eu demorei a descobri-lo.

Parabéns.

4.28.2007

Um bocadinho redutor, eu sei

A partir de certa altura passei só a ler blogs de amigos. Ou a só ser amiga de quem escreve blogs que leio?

4.27.2007

Da má memória

preciso de arranjar mnemónicas para tudo.
Quando me vou a ensaboar no banho nunca sei se já me ensaboei antes ou não (muitas serão certamente as vezes que me o faço 3, 4 vezes seguidas).

Será só a mim que isto me acontece?

Memória visual é tudo, para mim (olfactiva também um bocadinho).

4.26.2007

Eu agora

gosto do Pedro Abrunhosa (não das músicas, claro).
É que passei por ele de carro e ele acenou à minha filha.

4.24.2007

Uma fábula para hoje:

"Na margem de um grande rio estava, um dia, um sapo que se preparava para o atravessar.
Enquanto isso chegou um escorpião. Também este precisava chegar à outra margem, mas não podia fazê-lo porque os escorpiões não sabem nadar. Percebeu que o sapo era a única possibilidade de chegar ao outro lado e pediu-lhe para o ajudar a atravessar o rio:

-Deixa-me subir às tuas costas e transporta-me até a outra margem. És grande o suficiente e não te cansarás.

Mas o sapo, que bem conhecia o veneno do escorpião, respondeu:
- Nas minhas costas? Estás louco! Vais me picar e injectar o teu veneno e morrerei!

E o escorpião:
- Então, porque faria isso? Preciso de atravessar o rio. É do meu interesse que tu vivas.

Com este raciocínio conseguiu convencer o sapo, e subiu para as suas costas. O sapo entrou na água e começou a nadar, levando consigo o escorpião. Assim que chegaram ao meio do rio, no ponto onde era mais forte a corrente e maior o esforço do sapo, o escorpião levantou o rabo e enterrou o ferrão com toda força nas costas do sapo. Enquanto o veneno mortal se difundia no seu corpo, sentindo que a vida se esvaía, o sapo exclamou:

- Maldito desgraçado, Não vês o que fizeste? Ambos morreremos: eu envenenado e tu afogado! Por que fizeste isso?!

E o escorpião, já se a ponto de se afogar:
- Porque eu sou um escorpião e esta é minha natureza."

4.22.2007

Cedo de manhã

entra na minha cama sorrateiro como um ladraozinho, deita-se ao meu lado a mexer no cabelo e a chuchar na chucha. Mesmo fazendo de fininho, acorda-me sempre e encho-o de beijinhos: "és meu."

Até há pouco tempo ria-se e respondia:

-não sou nada, sou do pai.
-meu meu meu, foi na minha barriga que cresceste antes de nascer, o meu sangue era o teu sangue e misturava-se, misturavamo-nos os dois, ninguém sabia onde eu começava e tu acabavas.
-sou do pai!

Agora já aprendeu:

-és meu. Meu, meu, meu.
-és minha. Minha minha minha.

4.21.2007

Esclarecimento

Do último post, quando disse que ía fazer uma pausa e escrever para dentro era literalmente isso que ía fazer (e faço). Não parei de escrever, parei foi de publicar o que escrevo aqui, deixo as palavras lá sossegadas nos drafts porque não tenho que incomodar as pessoas que se dão ao trabalho de me ler com os meus pequenos dramas pessoais.
Escreverei para fora quando o que tiver a dizer for mais positivo, seja de facto uma contribuição e não um desabafar contínuo de amarguras que foi o que nisto se tornou.
Porque as coisas são mesmo assim, acho que não vou demorar muito a voltar (fartinha de tristezas, também).

4.09.2007

Em pausa

mais ou menos definitiva.
Porque agora só quero escrever para dentro (a ver se me encho de palavras).

4.05.2007

Eu tinha um amigo

bom, esta não será a expressão correcta.
Eu pensava que tinha um amigo. Aqui há muitos anos uma pessoa que, por via das circustâncias, ainda se encontra casada comigo disse-me qualquer coisa como "Os homens não têm amigas".
E eu acreditei mais ou menos (porque essa era também a experiência de vida que tinha).
Depois um dia eu acreditava que tinha um amigo, sim ele já tinha passado essa barreira e voltado para trás, ele próprio não se definia como meu amigo, mas de alguma forma eu queria acreditar que aquilo não era verdade, que sim os homens também têm amigas e fiz uma coisa que me custa imenso a fazer, sobretudo com homens: confiei nele.
Claro que se veio o provar em três tempos que não era amigo coisa nenhuma e ainda para mais numa altura em que só isso me arrancou um bocado da alma. Isto o meu suposto amigo nunca vai saber o que é, para isso era preciso que ele um dia tivesse tido uma.

4.04.2007

Ainda à espera do fim

.

Este rapaz parece viver dentro da minha alma.

4.03.2007

Olho o meu corpo (II)

Os nervos à flor da pele, cada vez mais. Não o aguento mais "maaaaaaaaae!", o dia todo, a meio da noite, às 7 da manhã, toda a manhã, tarde, choraminga para tudo, "mãaaaaaaaaaaaaaaae!", tapo os ouvidos para não o ouvir mais, não aguento, as mãos tremem-me, fui buscar os calmantes, martelo as teclas do computador, sou a única mãe que não quer ser chamada? Não quero ser. Não quero que seja o meu fim-de-semana. Não aguento, a exaustão, o choro constante, "mãaaaaaaaaaaae!".
Sinto a Catarina dentro de mim, a corda dela a apertar-me o pescoço, é verdade sim, ela e eu coincidimos várias vezes ao dia. "Mas tu és mais sólida", quem me dera acreditar nisso, Catarina. Todos os dias eu não sou sólida, liquefaço-me. Não há comprimidos que superem isto, os gritos por dentro, ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh. Quero gritar o dia todo, chorar, liquefazer-me em lágrimas. Quero sim que o meu corpo desapareça, que se torne invisível. Não quero que ninguém me chame "mãaaaaaaaaaaae!" quando eu não estou com estrutura para o ser, desfiz-me disso há quase 1 ano, no dia 6 de Março "mãaaaaaaaaaaae!". Acabou-se tudo, tudo, tudo. Morri toda nesse dia, fiquei em fantasma, não tenho estrutura para me aguentar no mundo dos vivos. Não, Catarina, eu não sou mais sólida, é provável até que seja mais gasosa.
Preciso de ti, minha querida Rita, tanto, tanto, tanto.

Go with the flow

Eu tenho uma amiga que remata quase todas as conversas com esta bela frase "go with the flow". Sempre que a oiço dizer isto, embora entenda bem o que ela quer dizer, penso que se está a tentar convencer de alguma coisa, que aquilo é dito para ela, que no fundo se trata de autoconvencimento. "Go with the flow". E quê? Deixar passar tudo ao lado? Não mexer uma palha? Não se maçar com nada do que se passa à volta, não ligar?
Não só me é imposível viver assim como não vejo nisso quaquer espécie de interesse.
Eu gosto muito, muito desta minha amiga, mas não quero nunca "Go with the flow". Prefiro ser responsável pelas minhas tristezas, alegrias, mas sem dúvida, não ter arrependimentos por ter ido com a maré. De a ter (à maré) a controlar a minha vida e o meu destino. Arrisco-me mais? Sem dúvida? Sofro mais? É provável. Vivo mais (ou com maior intensidade)? Ah pois é.
Fartinha de estar estacionada estou eu.

4.02.2007

Às vezes tenho pena

Deixo passar aqui tantas coisas deles sem registar.

A minha miúda fez ontem 8 anos, veio da colónia e eu falhei miseravelmente não indo lá buscá-la (e até tinha feito um bolo especial para levar). A minha vida pessoal a intrometer-se na vida dos meus filhos como eu achava que nunca ía permitir.
Enfim, espero poder compensá-la de alguma maneira, as coisas estão complicadas este ano para todos, e espero também que ela compreenda isso.
Sei que está a crescer depressa demais, contigências da vida, das coisas como se têm passado. Mesmo ele deixou de ser um bebé para querer (e na maioria das vezes conseguir) fazer sozinho tudo o que lhe apetece.
Nada disto me aborrece minimamente, gosto que eles amadureçam rápido, não me assusta a velocidade com que a vida vai passando, eu própria gosto de caminhar a um passo acelerado.
Só não gosto quando me deixo assim falhar.

pessoas com extremo bom gosto