10.30.2009

hands on



daqui

faço as pazes com o meu corpo demasiado anguloso - sem formas voluptuosas nem arredondadas, sem interesse - nas fotografias de modelos.

[as pessoas magras têm complexos, as pessoas bonitas têm complexos, as pessoas inteligentes têm complexos. todas as pessoas têm complexos. só que algumas não o podem confessar].

toothache



daqui

ela pergunta porquê e eu a explicar-lhe que
- ah e quando eu queria fazer qualquer coisa, ir a algum lado, ele nunca vinha comigo, nunca queria vir.
- então não era seu amigo, mãe, a Mariana até à casa de banho comigo vem, se eu lhe pedir.

e de repente saudades das amizades de adolescência, da entrega completa, total, sem medo de, sem restrições auto impostas. não sei bem porquê, se no fundo eu continuo a viver estas coisas da mesma maneira. como se tivesse dez anos.

10.29.2009

love is

estar a enviar um mailling para 5.000 pessoas e sorrir ao descobrir o nome dele no meio daquilo tudo. sorrir para um monitor de computador como uma pessoa idiota. e parar nesse nome. só para o poder escrever duas vezes, uma vez à mão, outra no teclado, como uma pessoa estúpida.

[claro que o amor não é isto].

reminder



daqui

comprar shampoo.

10.28.2009

Bagdad Bob


Alguns ainda se lembrarão de um Ministro-clown de Saddam Hussein, o Ministro da Informação Muhammad Saeed al-Sahaf.

Sempre que aparecia na televisão, na II Guerra do Iraque, em 2003, dizia coisas absolutamente apalhaçadas para justificar o que se passava no campo de batalha.
Uma das mais divertidas foi esta:

It has been rumored that we have fired Scud missiles into Kuwait. I am here now to tell you, we do not have any Scud missiles and I don't know why they were fired into Kuwait.

A sua principal característica era pintar cenários côr-de-rosa e de vitória para as tropas iraquianas no combate com os americanos. Já com as tropas americanas dentro de Bagdad, disse que os iraquianos estavam a dar-lhes tanta tareia que os soldados americanos se suicidavam aos milhares nos muros da cidade:

I can say, and I am responsible for what I am saying, that they have started to commit suicide under the walls of Baghdad. We will encourage them to commit more suicides quickly.

Outra fantástica:

Now even the American command is under siege. We are hitting it from the north, east, south and west. We chase them here and they chase us there. But at the end we are the people who are laying siege to them. And it is not them who are besieging us.

No fundo era um optimista, um alheado da realidade.

Admito mesmo que, em certa medida, acreditasse em algumas coisas que dizia. Lembro-me muito dele. I miss him. Mas não sofro muito com isso, porque todos os dias há políticos que têm tiradas dignas daquele maravilhoso truão e que se encarregam de me matar saudades.

Há sinais claros de que a direcção do PSD tem vindo a passar à imprensa, de forma muito discreta, a ideia de que os resultados da passagem de Manuela Ferreira Leite e da sua equipa à frente do PSD até foram muito positivos. A edição de ontem de um jornal dava eco desse balanço positivo.

O propósito destes recados não é divertir-nos. É tão simplesmente o de preparar a sucessão de Manuela e justificar a entrega do partido a alguém da sua equipa, descartando a necessidade de uma renovação. Se a coisa até foi boa, em equipa que ganha não se mexe. Olha o caso do meu Sporting.

10.27.2009

works on paper

Entre homens e mulheres, as amizades tendem a não ser muito mais do que falhas de comunicação.

[é lamentável mas quanto mais depressa encararmos a verdade, mais rapidamente a vida segue o seu curso tranquila, com os ocasionais sobressaltos que lhe assistem].

10.26.2009

Os pássaros são assustadores?

No sábado passado consegui obter esta imagem na Piazza Navona.
A extraordinária organização deste gigantesco bando de pássaros fez-me lembrar, por um momento, os outros pássaros, os "Pássaros" de Hitchcock.

10.25.2009

Julgamentos morais sobre a conduta de terceiros

No princípio dos anos 50, no ambiente moralmente opressivo de uma pequena Universidade Americana fundada pela Igreja Baptista, Marc Messner, um jovem filho de um talhante kosher, que se dedica ao estudo e nada mais que ao estudo, engraça com uma colega bonita mas completamente diferente do comum e que frequenta as mesma aulas que ele.
Os pais dela, Olivia, de seu nome, são divorciados. Ela ela teve um problema de bebida e tentou suicidar-se. Um cocktail explosivo face à mentalidade ainda muito limitada da América profunda de cinquenta.
Assim que ganha coragem para a convidar para jantar, Marc, completamente inexperiente, sente-se dominado pelo desejo e, no regresso a casa, pára o carro e ousa, um pouco a medo, o contacto físico. Ora, pois Olivia não só não resiste como se mostra partilcularmente activa e desinibida.
Marc está cheio de ideias modernas, é ateu, lê Bertrand Russel e tem alguma intolerância para com os colegas normaizinhos. Mas isso não o impede de cair numa armadilha moral, que vem a condicionar todo o seu destino.
O que Olivia faz dá-lhe prazer, mas ele considera-a uma galdéria por o ter feito, e afasta-se dela.
Quando se reencontram por acaso, ela explica-lhe que fez aquilo porque gostou dele. E diz-lhe: "Eu-quis-dar-te-aquilo-que-querias. São palavras assim tão difíceis de entender"?
Philip Roth, no excelente Indignação, recentemente traduzido para português, ao contar esta história, evidencia uma verdade moral simples: dos relacionamentos íntimos à política, passando pelos pequenos favores ou condescendências que recheiam a nossa vida social, é uma hipocrisia condenar moralmente aqueles que fazem algo que que mais não é que aquilo que, no fundo, apenas corresponde ao que procurávamos e desejávamos.


10.23.2009



Nathan Coley

e se eu já tiver esgotado o número de pequenos milagres que me estão reservados?

on my way

estou assim sempre. a caminho de. ainda aqui sentada, a minha alma - cansada de ser sexta feira - já se pôs a caminho de casa [Gotas de abacinhos, mãe?] e está a passar no sítio mais feio de lisboa, com o nome mais deprimente que conseguiram arranjar mas que se lhe adequa como uma luva [buraca]. falta tão pouco para chegar a casa e ter os teus braços no meu pescoço [mãe, posso dar-te um beijo na boca?]

birthday



foto Helmut Newton


o meu colega de blog, Martim, faz anos.
os meus parabéns e eternos agradecimentos por partilhar comigo esta viagem que até para mim, em certos dias, se torna tremendamente aborrecida.

10.22.2009

silly season

já chove. tenho frio. olho para o edredon na dúvida. gosto tanto do meu edredon. é mesmo a única coisa de que gosto no inverno. também gosto um bocadinho dos saltos muito altos de algumas botas de inverno.
parece-me que a silly season já terminou. por isso vamos começar a ignorar as polémicas do anúncio, da Maitê e do Saramago e começar a pensar em coisas sérias. como isto.

10.21.2009

love me or leave me

true blue

à medida que envelhecemos a verdade vai-se tornando uma espécie de incómodo que urge purgar aos pedaços. dizê-la inteira e sem analgésicos a alguém não passa de uma brutalidade insensível.
queremos a verdade mas não aguentamos a verdade.

10.20.2009

the usual suspects

- tens tanta piadinha. se calhar quando cresceres não vais ser actor, como diz a Isabel, mas sim palhaço.

- nem pensar, mãe. eu gosto de dizer piadas mas é de fixes.

- [suspiro].

wishlist









10.19.2009

too litlle too late



Dita e Scarlett

quando somos novos inexperientes ingénuos inocentes ou seja lá o que for, achamos sempre que aquela vez há-de ser a única última maior desesperada para sempre.
depois crescemos e descobrimos que atrás de uma vem outra. e depois outra. isto parece fixe e dá-nos um aspecto muito moderno, sempre cool e sem grandes dramas.
mas, make no mistake, o que nós gostávamos mesmo era de ainda ter capacidade de acreditar que aquela havia de ser a única última maior desesperada para sempre vez.

10.18.2009

A aspirina com Coca-Cola é uma droga fatal?

Antes do 25 de Abril, havia uma coisa chamada “condicionamento industrial”. A ideia era simples: a instalação de indústrias de relevo dependia de licença ou autorização mais ou menos discricionária do governo, que a negava quando os interesses da Nação estivessem em perigo.

O esquema protegia os grupos económicos nacionais da concorrência internacional e permitia que prosperassem à sombra da bananeira, mesmo se economicamente ineficazes. Foi por isso, por exemplo, que a Coca-Cola só entrou no nosso País em 1977. Antes era bebida non grata para o governo do Estado Novo.

Para ajudar à festa, espalhavam-se falsos rumores que atingiam a honorabilidade da marca. Lembro-me bem, ainda muito pequenino, para aí em 1973, de, no banco de trás do Fiat 850 Special Sport amarelo torrado da minha tia, ouvi-la contar à minha mãe sobre a pedrada fatal que uns jovens tinham apanhado em Angola por terem misturado Coca-Cola com aspirina. Um perigo, um perigo. As crianças não esquecem as histórias de terror.

Depois do 25 de Abril, os grupos económicos instalados com a protecção do Estado foram nacionalizados e os empresários perseguidos.

Por causa disso, na segunda metade da década de 70 e primeira da década de 80, podia dizer-se que havia uma clara e renhida luta de classes no País, com radicais clivagens ideológicas e sociais.

O CDS e o PSD, por exemplo, eram partidos muito ligados à agenda dos grandes empresários e para a restauração do capitalismo de mercado, pugnando pelas reprivatizações.

As nacionalizações provocavam uma divergência fundamental entre o CDS e o PSD, por um lado, e o PS e o PCP por outro, já que estes últimos as defendiam com unhas e dentes.

Quem ia a Cascais às discotecas, nos anos 80 não encontrava “betinho” de pullover Ted Lapidus à volta da cintura que não fosse do CDS ou do PSD e que não odiasse os “súcias” e os “comunas”.

Entretanto, no final dos anos 80, princípios dos anos 90, o Estado devolveu aos grupos económicos perseguidos aquilo que ilegitimamente lhes tinha expropriado.

E pronto. Acabou-se a razão para a luta de classes. Na posse do que era seu, os empresários deixaram de ter agenda ideológica. Deixaram de se importar com o capitalismo de mercado. O ideal era que o Estado os protegesse, como dantes. Não com o condicionamento industrial, que esse não é já possível no mundo globalizado e na União Europeia. Mas, por exemplo, gerando encomendas e contratos.

Para este tipo de ajuda os empresários já não precisam de um partido específico, de classe. Isso até é mau. Convém ter pontos de apoio em todos os partidos do chamado “arco da governabilidade”.

Os contratos e negócios não têm ideologia. Uns tantos empresários inteligentes passaram a fazer múltiplas no Totobola. Passaram a acolher, com afecto, colaboradores de destaque que apoiam diferentes partidos, incluindo o PS.

Hoje já não é nada possidónio um betinho de Cascais apoiar o PS.

A classe empresarial mais elevada continua a ser a classe social mais influente e dinâmica no País. Reparte-se entre o PS e o PSD. E não está nada interessada em liberalismos. Está mais preocupada em assegurar contratos.

Em rigor, é com isto que se tem de viver. Os escândalos financeiros do capitalismo anglo-saxónico, de matriz liberal, deixam-nos sem alternativa de monta. A única causa por que vale a pena lutar agora é muito simples: contratos, pois sim, mas com verdade e transparência. Só isto. Não é verdade que a aspirina não possa ser bebida com Coca-Cola.

10.16.2009

i'm really more of a dog person

Achieving life is not the equivalent of avoiding death.
[Ayn Rand]

não há qualquer nexo de causalidade entre a forma como vivemos ou como morremos. descobri ontem que afinal os gatos eram da empregada da minha avó.
não que isso tenha importância, a forma como morremos. a mim assusta-me mais a forma como envelhecemos.

10.15.2009

i could get used to this

desço e subo demasiado baixo demasiado alto demasiado rápido. hoje é bom e viciante. amanhã já não sei.

10.13.2009

copo meio cheio

agora que a minha alma agoniza aos bochechos convulsivos e se esvai em sangue, posso aproveitar o CV novo para enviar para os sítios onde queria trabalhar [ou qualquer desculpa é boa para desviar a atenção da alma daquilo que lhe caiu em cima]

[em modo repeat] se trabalhar fosse uma coisa boa não te pagavam para fazê-lo

10.12.2009

Os assaltantes eram de Leste

Na madrugada de sexta para sábado, os pais de um grande amigo meu foram assaltados em casa. Foram alvo de violência física e psicológica durante um par de horas, até darem tudo o que tinham de valor. Os energúmenos, encapuçados e com sotaque de Leste, queriam sempre mais. Não se contentavam. Homejacking, é o nome desta hedionda prática. O Correio da Manhã fez primeira página com o acontecimento.
As vítimas, na casa dos sessenta anos, estão muito fragilizadas psicologicamente. Quem sabe não recuperarão mais. Serão assaltadas outras vezes, dezenas delas, agora por pesadelos.
Se estivessem a passear pelas zonas mais escuras da Ribeira, poderiam ter sido assaltadas pelos gangues do Aleixo ou de Miragaia ou pelos Gunas.
Mas descansavam em sua casa e os assaltantes eram de Leste.
Se deixassem o carro com um telemóvel à vista na zona da Avenida de Roma, um "adicto" do Relógio poderia partir-lhes o vidro e levar-lhes o dito.
Mas descansavam em sua casa e os assaltantes eram de Leste.
Se fossem a Setúbal passear pela Avenida Todi nas noites quentes deste Outubro, um bando da Belavista podia gamar-lhes as carteiras.
Mas descansavam em sua casa e os assaltantes eram de Leste.
Portugal é um país demasiado fraco para lidar com estas novas ameaças de violência. Continuamos a receber demasiado bem quem não conhecemos.
Elogiamos a integração dos imigrantes de Leste, cuja cultura afinal não compreendemos bem. Franqueamos-lhes a portas, com um sorriso politicamente correcto nos lábios. Ignoramos que os países de Leste têm uma história de violência e desprezo pela vida humana incomparáveis, que se impregnou bem fundo na identidade dos seus cidadãos.
As máfias de leste são uma coisa abstracta para nós.
Nunca colocamos a hipótese da nossa simpática empregada moldava dever favores e prestar informações sobre os nossos pertences aos conterrâneos marginais e violentos que cá a puseram clandestinamente, em condições sub-humanas.
Não sabemos. Só nos preocupamos em preencher lugares com essa pobre gente, em empregos subqualificados, que os nossos conterrâneos há muito deixaram de querer.
Não nos preocupamos em registar a origem, a morada, os dados dessas pessoas, e em confirmá-las. Em pedir-lhes os papéis.
As autoridades não se obrigam a um período de vigilância e acompanhamento, por exemplo, de três anos, sobre a actividade que os imigrantes desenvolvem no nosso País. Seguindo-os no emprego e no desemprego e cruzando a informação com notificações obrigatórias das entidades patronais. Achamos isso desumano, ou muito dispendioso.
E depois gastamos o couro e o cabelo a tirar impressões digitais e a recolher DNA da casa das vítimas. E em prestar-lhes "apoio psicológico". Pobres de nós.

se por acaso se lembrassem de tornar o election day feriado por cá, até teria ido votar



assim [não] sendo, o meu domingo foi mais produtivo, mesmo em fast foward.

10.08.2009

Estrelinhas flutuantes




Ahá!
Fisguei um micro-partido que defendia, nas legislativas, a nacionalização da grande propriedade e dos serviços básicos, entre os quais os transportes, a sustentar agora, nas autárquicas, a municipalização dos solos e dos transportes públicos. E quando forem as presidenciais? A presidencialização?
Alinhei a estrela à esquerda (trata-se de uma fotografia subaquática tirada por mim no Algarve)pelo conselho da Clara, num post abaixo.

1917-2009




Irving Penn

gestão de expectativas

Expect the best. Prepare for the worst. Capitalize on what comes
[Zig Ziglar]

imaginemos o sr. X., vai casar e precisa desesperadamente de um roupeiro novo para a roupa da futura mulher. veio a saber, numa conversa de corredor, que o IKEA vai ter uma promoção de roupeiros e marcou no calendário o dia da promoção e a referência do roupeiro que vai comprar. no dia marcado, à hora de abertura da loja acotovelou-se para entrar com mais uns milhares de pessoas. acontece que roupeiros daqueles só haviam 14 para venda e o sr. X foi o 15º cliente a chegar à zona de promoções de roupeiros, já vazia. furioso, procura um vendedor e faz a sua reclamação. embora no folheto de promoções esteja claramente escrito "limitado ao stock existente", o sr. X está furioso e tenciona deixar uma reclamação por escrito. é chamado o apoio ao cliente e o gerente oferece ao sr. X nova promoção: um roupeiro maior ao qual é feito um desconto de peso, ficando apenas por mais 10% do valor do primeiro mas com muito mais espaço e o formato exacto para tapar o buraco que o técnico da TV cabo deixou quando furou a parede do quarto para passar o cabo. o sr. X aceita a oferta e vai a correr telefonar à noiva, explicando devidamente que escolheu o maior roupeiro do IKEA. a noiva fica exultante com o espaço que terá para guardar a roupa no futuro e nem se maça quando o sr. X lhe conta que irá a 2 jogos de futebol nesse fim de semana.

imaginemos agora o sr.Y. neste fim de semana combinou com um grupo de amigos uma excursão no Douro no seu iate. tem tudo pronto e está prometido que um dos amigos levará a amiga da mulher recém divorciada que o sr. Y acha imensamente interessante. claro está que o sr. Y consultou todos os sites de meteorologia que existem e todos lhe garantiram tempo perfeito para o fim de semana: sol e vento suficiente para ir à bolina umas milhas pelo Douro, avistando vinhas enquanto se deliciam com o champanhe da reserva especial do amigo e as ostras que o sr. Y mandou vir do adriático. no sábado de manha, porém, rebenta uma tempestade monumental e são forçados a desmarcar o passeio. o sr. Y passa o resto do fim de semana enfiado na cama a beber jameson, furioso por ser derrubado por um factor que não controla.
na verdade, poderia ter pegado no seu jacto particular e ter ido até Zermat, onde a neve estava perfeita e bastaria um telefonema para a empresa que toma conta do seu chalé acender a lareira, rechear a despensa e preparar os quartos para os amigos. mas o sr. Y não se lembrou disso.

10.07.2009

O estranho homicídio de Sofia Azinhaga. Uma novela policiária em post(a)s

Post(a) 1

O Inspector Apolinário marcava encontros pelo Meetic e lixava-se sempre.

Desta vez, jantava vegetariano com uma fulana que não parava de falar sobre Astrologia e ainda tinha metade do Tali do Psi no prato, enquanto ele já tinha rapado o seu e queria pedir a sobremesa.

Apesar de ser um Inspector da Judiciária habituado à rudeza da profissão, Apolinário apagava-se perante as mulheres. Aos hábitos corteses que a mãe lhe incutira acrescia a mãe de todas as timidezes. Ainda por cima, não era um homem bonito, não senhor.

Pois era tudo isso que agora o paralisava face à ruidosa gralha de cabelo escarlate que tinha a sua frente, e que ele tomara por uma normalíssima cor castanha na fotografia a preto e branco, cheia de sombras, e que pensava ser apenas expressão de sensibilidade artística, afixada no portal do Meetic.

Como um azar nunca vem só, a manga esquerda da camisa, demasiado comprida para o braço curto do Inspector, eclipsara totalmente o Tissot quartzo do pulso, pelo que ler as horas implicava um ostensivo safanão que pusesse a cebola a descoberto, gesto inadequado para um cavalheiro.

Para agravar, a sua maçadora companhia havia retirado o seu próprio relógio do pulso e, à medida que discorria sobre as forças ocultas do Universo, girava a pulseira de metal dourado fechada em torno do dedo indicador. Assim, nem olhando de soslaio para aquele Citizen quartzo rotativo podia Apolinário aferir a duração do seu suplício com discrição.

A libertação de Apolinário chegou sob a forma de uma imprevista chamada de serviço. Tinha de ir, explicou à ruivaça, por causa de um homicídio. Pedia desculpa, muita. Mas é que, ainda por cima o cadáver tinha sido descoberto no Gabinete de Sua Excelência o Ministro das Ciências Sociais e da Língua Portuguesa.

CONTINUA

10.06.2009

mesmo básico

design parolo = align center.
design = align right/align left/justify.

as hipóteses de falhar são de uma para quatro. e ainda assim conseguem acertar na errada tantas vezes.

10.02.2009

baby blog mood

bisneta - eles estão a comemorar o quê???? 60 anos de comunismo???? estão a comemorar isso??? não têm vergonha?
bisavó - olha, mas sabes tu o que é o comunismo?
bisneta - sei que matou milhões de pessoas, sei!

[seguiu-se a explicação politicamente correcta do comunismo blá blá blá as pessoas dão tudo ao estado e depois o estado distribui pelas pessoas blá blá blá mas então as pessoas não podem escolher o que querem fazer nem vestir nem ler nem onde moram nem nada porque é o estado que decide por elas blá blá bla]

eu juro que tento explicar a coisa sem preconceitos mas eu não sei explicar a coisa sem preconceitos.

10.01.2009

Gostar de barbas [à quinta e nos outros dias da semana também]



Patrick Petitjean

Simplex [ou como andando por aqui há 34 anos a pessoa aprende a ser indiferente a tudo]

este ano passei o meu filho para uma escola oficial. a escola obriga a uma declaração médica aquando da entrada da criança na escola. a educadora passa a primeira semana de escola a pedir a declaração - com toda a razão uma vez que o ministério vai obrigá-la [mais cedo ou mais tarde] a enviar as fichas de inscrição das suas crianças devidamente acompanhadas da declaração médica.
hesito entre enviar um mail ao pediatra particular da criança, que a passará sem o ver, ou pedi-la no Centro de Saúde. opto pela segunda, mesmo sabendo que terei de marcar consulta com um médico qualquer - à nossa família não foi atribuído médico de família desde que mudámos para a freguesia, há dois anos atrás. as razões são logísticas, o C. S. é muito mais perto de casa do que o consultório particular.
ligo para o C.S., descubro afinal que já tenho médico de família, mas noutra extensão: foi-me atribuído um a duas semanas das eleições, que coincidência espantosa.
ligo para a nova extensão a pedir consulta para a declaração médica obrigatória, a pessoa que atende pergunta para que quero a declaração e responde, singelamente, que se é para o Jardim de Infância, vai pedir ao médico de família que a passe [uma pessoa que nunca vi à frente] e posso levantá-la daí a 2 dias.

o estado que obriga à entrega de uma declaração médica para a frequência de um estabelecimento de ensino próprio é o mesmo que declara aos médicos que passem declarações para frequência do estabelecimento de ensino sem verem as crianças [aqui deve ser a parte simplex da coisa].

pessoas com extremo bom gosto