o meu filho é mesmo o mais fofo (repito-me, já sei)

[eu a fazer pequeno questionário sobre as miudas da escola e hipotéticas namoradas]

- essa não é da minha turma.
- mas é da escola.
- mas se não for da turma não passo o dia com ela
- então, mas isso não faz mal.
- oh mãe sei lá, não quero saber de miúdas, tenho idade é para me preocupar com videojogos.
[hesita por uns segundos]
 e com a porcaria dos impostos que o governo quer cobrar!

coisas que não têm piada mas eu rio-me na mesma

acontece-me responder a um anúncio para designer gráfico e pedirem-me (para passar à próxima fase do "recrutamento") propostas concretas para desenhar logotipos ou até mesmo o site inteiro da empresa.

fico na dúvida se consideram que lá porque uma pessoa é designer tem deficiências cognitivas graves ou se assumem que são muito "empreendedores" conseguindo trabalho à borla sem lhe chamarem estágio.

mas dou-me sempre ao trabalho de responder mandando-os para o real caralhinho, polidamente.

life sucks and then you die

quando recebes uma mensagem querida da tua filha adolescente quando estás atrasada e não há trânsito quando conheces uma pessoa com quem te identificas mesmo quando descobres que para a semana há um feriado do qual nem te lembravas quando encontras um sitio onde gostavas de viver (e talvez possas pagar) quando a tua série preferida lança uma nova série quando acordas tarde e afinal é fim de semana quando resolves fazer a tua comida favorita e ficou mesmo boa quando descobres um escritor novo de quem gostas muito quando alguém te oferece um presente que adoras.

sim, a vida é basicamente uma merda, mas depois há estes momentos.

nasci depois do 25 de abril

e possivelmente por isso nunca entendi a posição do meu avô que perdeu a maior parte dos amigos dele por motivos políticos.

a política sempre foi para mim uma coisa morna, com entendimento pacífico entre oposições e uma discussão saudável.

os amigos do meu avô eram oficiais carreiristas do exército, vindos de boas famílias, a quem interessava defender o status quo que a ditadura lhes proporcionava. ao meu avô também (sendo oficial do exército), mas nem por isso o fez e desprezou quem escolheu esse caminho - mesmo o melhor amigo.

foi preciso este momento de crise para entender o meu avô e nunca poderei dizer-lhe como afinal somos mais parecidos do que pensei, porque ele morreu há 6 anos.

coisas que me fazem rir (para dentro)

durante anos o estado - alternando entre um estado governado pelo PS e um estado governado pelo PSD - andou a subsidiar os construtores civis e a banca fazendo com que todos os portugueses tivessem uma casa sua (porque arrendar é para países pobres, como se sabe).

agora vão receber imis e imts à séria desses proprietários a quem proporcionaram uma casinha mesmo sua.

toma lá bolachas.

ao mesmo tempo a banca, enterrada em créditos à habitação que não consegue cobrar, nada agora em imóveis que vende ao desbarato, fazendo assim com que todos os imóveis deixem de valer seja o que for (porque apesar de tudo controlam o mercado imobiliário) e perdendo ainda mais dinheiro porque minam o seu próprio mercado e cobram spreads que a maioria não consegue pagar (porque o spread aumenta com o incumprimento).

toma lá bolachas outra vez.

fuck my life

quanto mais fodido estiver o país mais trabalho eu tenho. mas ganho o mesmo e pouco, para a quantidade de trabalho (qualidade não, é um facto) que tenho.

por isso paguem as dívidas e não vão na conversinha de merda dos bancos, é o que tenho para vos dizer.

(estar em contra ciclo nunca é bom).

sou uma boa cidadã

vou fazer queixa dos serviços públicos e de quanto nos cobram por eles em portugal e mandar para aqui.

aceita

que vais ter dias maus

aceita que alguns amigos vão deixar de o ser

aceita que vais sofrer por amor

aceita que se calhar não vais conseguir aquela carreira

aceita que alguém vai gritar contigo sem mereceres

aceita que os teus filhos vão fazer coisas de que não gostas, muitas vezes

aceita que este ano ainda não vais à Índia

aceita que uma pessoa de quem gostas não vai gostar de ti

aceita que vais ficar doente às vezes

aceita que muitas vezes não te vai apetecer

aceita que há pessoas mais novas e mais giras

aceita que quase nunca vais dormir tanto quanto te apetece.

e depois.

dorme quando puderes

diverte-te com os teus filhos enquanto eles não estão completamente parvos

faz planos para a Índia para o ano

planeia uma carreira diferente

sai mesmo sem te apetecer

diz à pessoa que te gritou para falar mais baixo, sem gritares

sai com pessoas novas

lembra-te de todas as pessoas que já gostaram de ti e de quem não gostaste

(parece um anúncio do sumol e é, mas sem o budget)

aceitação é A (minha) palavra de 2012.

"pregar um prego na cabeça até um tipo cair morto"

o branqueamento da História que os Alemães fazem, escondendo o melhor que podem de si próprios as atrocidades cometidas durante a WWII, não é diferente daquele que nós fazemos em relação à Guerra Colonial e muito particularmente em relação aos Descobrimentos.

Fomos grandes, fomos ricos, os mais ricos da Europa, por causa do ouro sim, por causa das especiarias não, por causa dos escravos sim (sobretudo por causa dos escravos). Todos tivemos História no Liceu e em quantos livros está isso escrito? Está bem, por vezes a realidade é mais dura do que podemos suportar e é assim para a Alemanha também.

Mas neste momento a História não tem (nunca terá) tanta importância como o presente. E se devíamos ter aprendido alguma coisa com o passado (europeus, cidadãos do mundo em geral) é que estamos todos ligados, dependemos todos uns dos outros, se lançarmos uma bomba atómica no outro lado do mundo estaremos a comer cereais com radiação daí a uns dias, se explorarmos um país durante uns anos daí a umas décadas estaremos a ser explorados por eles, se forçarmos um povo à miséria para mantermos um sistema que não funciona, entraremos também na miséria quando o sistema ruir porque as estruturas que o mantêm só funcionam em conjunto.

Vivemos rodeados de informação e continuamos ignorantes como sempre em relação aos Humanos (a nós próprios).

já sei que ninguém tem o seu emprego de sonho

but a girl can dream.

quero um emprego onde possa usar pijama todo o dia.

ou

paginar a vogue austrália (aposto que se vivesse na austrália já me apeteceria levantar de manhã).

começo a detectar um padrão

todas as mensagens que a minha filha me manda são com links para sites onde vendem tenis ou telemóveis. será que me quer dizer alguma coisa? será que afinal não se lembrou apenas da mãezinha e de lhe mandar uma mensagem fofa?

dialogos possiveis

filha dixit: professora de EV sucks.

mãe dixit: para ser artistica não precisas de aulas de EV.

filha dixit: e eu pratico, em casa.

mãe dixit: reblogar fotos no tumblr não conta como arte.

filha dixit: fotografia é uma arte!

(mãe pensou em todas as vezes que tinha sido idiota na adolescência e encolheu os ombros).

aquele momento confuso

em que uma pessoa com quem simpatizas acaba com um tipo giiiiiiiiiiro.

dormi mal, basicamente foi isto

qual é o interesse de colocarem fotos em redes sociais de há 20 anos ou cheeinhas de efeitinhos para esconder as imperfeições?

se já se aperceberam que não são o brad pitt mais vale serem honestos, what's the fucking problem?

felizmente a maioria de nós não é o brad pitt.

hoje acordei sem esperança

amanhã não sabemos (e, claro, espera-me um dia de merda pela frente).

na minha encarnação anterior devo ter sido um homem gay

não imaginam como é triste ser uma mulher tão visual.

o meu é quando passo metade do dia com medo de me enganar numa merda importante no trabalho. gosh, a minha vida é um buraco.

já passou

estarmos demasiado expostos a um assunto, por muito que necessitemos dele, dá cabo mais tarde ou mais cedo da nossa (minha) sanidade mental.

foi por isso que deixei de ler blogs políticos. foi por isso que fiz hide a todos os updates de pessoas que só falam de política no face e é por isso que estou com phones agora.

prometo que vou tentar (mesmo) não falar mais sobre política ou sobre a crise.

o que a crise nos deixou

o josé gil diz que somos infantis e somos:

não procuramos saber a fundo aquilo que questionamos e aceitamos como certo o que nos dá prazer ouvir (e actualmente temos todas as ferramentas de busca do mundo)

gritar com quem nos está a prestar um serviço (empregado de café ou seja lá o que for) é a atitude cobarde de quem não tem coragem para reclamar com o sujeito correcto (o superior hierárquico que nos humilhou).

utilizar uma cunha para ter uma vaga para um filho numa escola melhor é a mesma coisa que desviar de fundos e mandar um banco para a falencia (o pressuposto é o mesmo).

se queremos mudar podemos começar por aqui (mas, meus fofos, ninguém gosta de mudar).

a crise explicada pelos adoradores do mercado

era uma vez uma série de países que se consideravam o velho continente mas cujas economias nunca chegavam perto da de países que tinham colonizado eles mesmos, nomeadamente, a dos bárbaros-comedores com as mãos-incultos americanos.

aborrecidinhos com esta causa, os países desse continente superiormente culto e inteligente resolveram juntar-se até formar uma união de tamanho semelhante à dos bárbaros (porque o tamanho interessa, todas as mulheres e até mesmo alguns homens sabem isso).

assim foi que deram origem a essa bela criança de seu nome "euro" que, tendo dezenas de paizinhos e mãezinhas pronto a acarinhá-lo, foi crescendo melhor numas casinhas do que noutras, até porque a atenção e a disciplina (aka fiscalidade) era completamente diferente numas do que nas outras - o que faz todo o sentido numa união financeira!

enquanto se debatiam para ver qual deles conseguia fazer chichi mais longe, o euro e dólar iam comprando rebuçados às outras economias que nunca seriam concorrência para eles, esses miudos pobres e descalços da india, china e alguns palops.

de repente, surpresa!:  esses desgraçados lhes que costumavam fazer os tpcs e projectos da escola por meia duzia de tostões eram agora quem lhes andava a comprar os brinquedos que - por falta de dinheiro para outras necessidades mais básicas - iam sendo obrigados a vender.

a surpresa não seria surpresa nenhuma se entretanto esses ídolos (mercados) maravilhosos tivessem ouvido aquilo que andaram a dizer desde sempre: que os recursos são finitos e escassos.

estava tudo bem desde que fossem escassos para outros.

generation gap

a minha filha acha inacreditável que eu prefira ficar em casa a ir à bica numa sexta feira à noite. eu acho inacreditável como é que demorei tantos anos a entender que prefiro (ela, claro, não prefere, mas também não vai).

nunca é demais dizer que o meu filho é o mais fofo

de manhã enquanto demorávamos no meio do trânsito expliquei-lhe sucintamente a crise e porque era tão difícil combatê-la (sim, os miúdos vivem aterrorizados com isto da crise). no fim perguntei-lhe o que é que ele faria se fosse do governo, para acabar com a crise. ele respondeu:

aumentava menos os impostos, porque seria melhor ir pagando a dívida mais devagar mas sem destruir o país.

(resta-me dizer que a seguir lhe expliquei porque é que não pode ser assim).

john cusack

és tão fofinho, quase um kevin costner ao contrário, que era capaz de ver todos os teus filmes.*

*fofinho as in, só faz filmes decentes.