Era hoje.
Teresa sonhava todas as noites com esse dia, desde há três anos e meio. Assim tinha sido desde a primeira noite naquela cela, o medo a corroer-lhe as entranhas e barulhos estranhos que pareciam vir das paredes. Um balde no chão, aquilo enojava-a. Um lavatório, uma cama (ou deveria chamar-lhe catre?), uma mesinha e uma cadeira. Achou que não ía conseguir dormir, do pavor daquilo tudo, guardas, outras presas que certamente não iriam gostar dela, ela não pertencia ali (isso sabia-o) e só o azar de ter conhecido o homem errado a tinha atirado para ali (como alguns erros se pagam caro, pensou). Não se arrependia de o ter feito, a ela nenhum homem havia de tocar e ficar inteiro, a não ser por esses três anos e meio que iria perder, tempo de pavor e de pesadelos.
Acabou por conseguir adormecer, ao fim de algumas horas, e nem sonhou com a prisão mas sim com o dia em que haveria de sair. Esse sonho repetiu-se todas as noites durante esses três anos e meio.
Tinha chegado o dia e agora Teresa temia a liberdade que tanto sonhara. As pernas tremiam-lhe à porta da prisão e viu o jardim mesmo em frente. Apeteceu-lhe correr por esse jardim mas teve medo que olhassem para ela, que percebessem que vinha da prisão, que a apontassem.
Atravessou a medo a rua, tropeçando nos passeios e chegou por fim ao jardim. Estava deserto à excepção de uns casais nada interessados no resto do mundo.
Inspirou fundo, o ar ali era muito diferente, começou a sentir-se intoxicada com tanta liberdade. Era livre, podia fazer o que queria e tudo o que lhe passava pela cabeça fazer eram coisas potencialmente perigosas.
Correu pelo jardim, inspirando a liberdade como podia, meia zonza com tanto espaço para percorrer, com tanta largura de vida.
2 comments:
É um facto. A liberdade, assim absoluta, também pode assustar.
Bjs
A liberdade é sempre uma coisa boa
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