Olho em retrospectiva para a minha vida
e não me arrependo de nada. Demorei muito a chegar aqui, uma vida, três décadas.
Parece conversa "não me arrependo de nada", mas é mesmo assim. Vejo a minha vida (todas as vidas) como um percurso. Eu escolhi um percurso erróneo, armadilhado. Não tenho essa esperteza inata de fazer as opções certas logo à partida, preciso de errar muitas vezes (ou pelo menos uma vez) para perceber que aquela não foi a escolha certa.
Comecei por escolher o caminho que me parecia mais brilhante. Todos os outros me pareciam baços, aborrecidos. Depois, está claro, comecei a cair nas armadilhas, uns buracos mais ou menos fundos de onde me erguia a pulso. De cada vez que chegava ao topo, talvez fosse da luz do sol a bater noutros caminhos, talvez fosse da posição agachada de quem se ergue duma cova literalmente a pulso, parecia ver outros caminhos e pensava "talvez se...", mas pareciam-me demasiado longínquos, os outros. O cansaço da subida à força de braços e de pernas não me deixava fôlego para voltar tudo atrás, para pensar noutros caminhos.
Assim se passaram anos. Do cansaço, das armadilhas que ainda surgiam , o caminho tinha já perdido todo o seu brilho, e as armadilhas (de obvias que já se tinham tornado) não faziam grande mossa, bastava um pulinho para as contornar. Era demasiado evidente a existencia de outros caminhos, mas ainda assim sentia que era nesse caminho que me devia manter, como se por fatalidade de ter errado no caminho agora tivesse que pagar o erro fazendo o percurso até ao fim. Claro que isto era apenas uma grande estupidez, cobardia, falta de confiança.
Até que por fim, tendo uma dessas armadilhas mais bem disfaçadas me deitado por terra num buraco sem vista para o topo, depois da costumeira escalada a pulso, olho para o caminho do costume e ele já lá nem está, desabou sob o peso de todos aqueles buracos de armadilha, desfez-se em nada e, olhando para trás, também pouco se vê.
Por fim vejo outros caminhos, menos brilhantes e definidos, ainda a uma distância considerável. Sei perfeitamente que sou capaz de a percorrer, depois de ter conseguido escalar todos aqueles buracos de armadilha, qualquer percurso parece uma brincadeira. E sei que vou lá chegar, mais dia menos dia, a esse caminho que é o mais certo.
7 comments:
Não terá todo esse exercício de braços, pernas e espírito, deixado-te mais forte?
;)
Epá... nem sei q te diga... isto sou eu.. escarrapachadinha... só estou mesmo á espera q o caminho desapareça... :(
Claudia, sem duvida nenhuma!
de antologia :)
Apesar de ter saído com 5 meses de atraso continua actual.
Não esqueças nunca a ventura que foi o caminho ter desaparecido. Há quem não tenha essa sorte, mesmo depois de ter caído numa enorme armadilha muito bem camuflada. Aí sim é difícil sair de um caminho que é nosso, tortuoso e perigoso, ainda que não o queiramos percorrer.
“E sei que vou lá chegar, mais dia menos dia, a esse caminho que é o mais certo.” fica como lema…
Há cinco meses ou há cinco minutos... é sempre pertinente!
Conheces aquela "lenga-lenga" que diz que "o que não nos mata, torna-nos mais fortes"?!
É o teu caso!
Tu consegues chegar onde quiseres! Tenho a certeza! :)
Bjs!
Um grande beijo, minha querida. (amei este texto!)
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