Aqui
e aqui
e aqui.
Eu sei que há muitas maneiras de viver a paternidade.
Gosto pouco de falar deste assunto. Acho banal o que nos aconteceu. Plenamente banal, um dia éramos uma família e depois já não éramos, tão comum. Mas é que. Um dia nós éramos uma família e seremos sempre. Porque seremos sempre o pai e a mãe daquelas crianças, nunca cessaremos de ser a família deles. E a família não se escolhe. Às vezes temos sorte com o que nos calha, outras nem tanto.
No dia em que decidimos deixar de ser uma família eu (não num gesto magnânimo, num gesto banal, pouco pensado) "ofereci" (entre parêntesis porque eu nada possuía que pudesse oferecer) custódia conjunta ao pai dos meus filhos. Respondeu-me "não posso" (mais uma banalidade). Durante esse primeiro ano achei que era minha responsabilidade tentar que eles passassem tempo com o pai. Os "não posso" cresceram até serem tudo, tornaram-se banais, esperados, instituídos. Não posso. Só. Não posso ser pai dos meus filhos. Posso levá-los uma vez por mês ao cinema e às compras, mais do que isso não posso.
Posso passar a tarde do dia de Natal com eles, algum outro feriado não posso. Posso passar 10 dias de férias com eles (embora tenha 25 para mim) mais não posso.
Não vou debater com ninguém as razões do não posso do pai dos meus filhos, são razões de ordem pessoal dele, não me interessam. Ao fim de um ano, desisti de debater fins de semana falhados, aniversários e festas de fim de ano esquecidos. Não pode, acabou.
Sabemos todos (sim, eles também) que quando quer (ou pode, sei lá) vem buscá-los sem nenhum limite imposto da minha parte.
Quando a lei contempla "dever de prover sustento" (obrigação) e "direito de visita" (não obrigação) está a defender-se a ela própria (à lei interessa-lhe é que não haja indigentes), mas se já tantas causas forçaram a lei a ser alterada para que a lei as defendesse a elas, a pouca veemência com que vejo o direito à paternidade ser defendido faz-me sempre pensar que talvez esta lei defenda mais interesses do que aqueles que ofende (perdoem-me os pais que querem ser presentes, eu sei que os há, estou só a falar em maiorias).