Aborrecidíssima nesse outro sítio onde já só faço tempo para me ir embora (não quero dar parte fraca de quem já não tem pachorra para estas coisas), encosto-me ao bar gigantesco à espera que a minha amiga peça uma bebida (podem ser horas aqui), vejo uma rapariga numa outra ponta do bar. É muito bonita, linda, o suficiente para se destacar numa multidão de milhares de rostos que se encostam ao bar. Vários homens vão àquela parte do balcão a pretexto de pedir uma bebida. E são homens de aspecto suburbano, de cabelo à Cristiano Ronaldo, obviamente lêem revistas do social ou não estariam ali naquele caldeirão de wannabes. Vejo-a sorrir vagamente, não dá conversa mas também não os afugenta antipaticamente (como eu e as minhas amigas faríamos). Ao princípio estranho mas depois entendo, é provável que toda a imagem que essa rapariga tem de si própria tenha sido construída à volta das palavras dos outros, que se passar um dia em que ninguém lhe diga que é bonita se ache feia, que se sinta a desaparecer quando for perdendo atributos físicos.
Assim é que podemos nascer com(o) um bilhete de lotaria premiado mas de nada serve se não soubermos gerir o prémio.