2.27.2009

Das constatações fúteis

Não me apetece escrever. Isso é óbvio em todos os posts que não publico aqui. Não me apetece escrever e agora encho isto de fotos. Não me apetece escrever e cito o livro que estou a ler. Não me apetece escrever e comento as notícias de última hora do público, os debates desinteressantes da AR, os comportamentos desviantes do PM, a crise, o avião que caiu em Schipol, as conversas redondas do escritório sobre gays e casamentos, as unhas compridas do mindinho do director financeiro. Não me apetece escrever com mais de 140 caracteres, espalhar-me aqui quando é tão mais fácil manter a compostura noutro lado.

Por isso, não escrevo.

2.25.2009

Gostar de homens



daqui

Não é por falsos moralismos

que este blog não vai falar da vagina do Courbet (salvo seja). é mesmo porque já não se pode ouvir/ler falar mais nesse assunto.

2.23.2009

Há um proverbio português lindo

como só os provérbios portugueses conseguem ser, cheios de fados e capazes de acabar com as ilusões de uma pessoa numa mera frase atirada ao acaso para o ar por alguém que não gosta lá assim muito de nós.
É esse provérbio o "filho és, pai serás" naquela do "tás armado em bom, vai ver como te fodes quando cá chegares". E, invariavelmente, bate certo.
É por isso que aos 9 anos a minha filha faz dramas Shakesperianos à mesa do jantar durante os quais me pede uma "faca do Ikea, das afiadas" para cortar os pulsos, em geral quando vem de casa do pai. Outras vezes faz o mesmo ao pai.
E eu "filha fui, mãe tenho de ser" vou engolindo e não sabendo lidar isto, vou fingindo que está tudo bem sem na verdade achar que está alguma coisa bem, assumindo que sim, a culpa é minha, que se dois anos volvidos do divorcio tudo ainda é tão doloroso e à pele para ela é porque "filha fui, bem me fodo agora", que se calhar a sucessão de erros que tem sido o meu percurso não abona em nada na saúde mental de duas crianças e "filha fui, ao menos que tivesse aprendido alguma coisa com isso", fazendo de conta que sei lidar com alguma coisa quando nem com as minhas coisas sei lidar só finjo que não estão lá e ignoro, quantas vezes ignorei as coisas deles se "filha fui, mãe me tornei" não poderia ser melhor mãe do que a péssima filha que fui, não há volta a dar.

Dos óscares (red carpet, não vi o resto)

Prémio linda-e-talentosa-óscar-totalmente-merecido:

Penelope Cruz (Vintage Pierre Balmain).

Prémio piroso-de-ir-às-lágrimas:

Mickey Rourke

Prémio giras-giras-giras:

Alicia Keys (Armani Privee)


Natalie Portman (Rodarte)
(gosto de cor de rosa, mas elas estão mesmo giras)

Prémio é-só-a-mim-que-este-casalinho-enjoa?

Brangelina

Prémio há-maneiras-melhores-de-dar-nas-vistas-do-que-com-um-vestido-horrendo (safa-se o colar):

Amy Adams

Prémio como-é-possível-ir-à-Prada-e-voltar-vestida-com-uma-cortina-de-banho?:

Jessica Biel

Prémio casal-com-mais-pinta-dos-óscares:

Sean e Robin Wright Penn

Prémio vestido-feio-e-a-hanna-montana-não-tem-postura:

Miley Cyrus

Prémio revelação-da-noite-vestido-e-joias-fabulosas:

Taraji P. Henson (Roberto Cavalli)

Prémio não-despeças-o-teu-fashion-adviser-não:

Byoncee

Prémio verdadeiro-vestido-dos-óscares:

Marissa Tomei (Versace)

2.20.2009

Pelo Afonso

O Afonso Tiago já desapareceu há um mês em Berlim. Assinem aqui a petição.

2.19.2009

Gostar de mulheres



A Malu Mader vem a Portugal.

Deve fazer parte da nossa natureza

nunca estarmos contentes com o que temos, que se formos magras é porque somos magras demais e não há roupa que nos sirva, andamos à roda da secção infantil, se formos gordas é porque nada nos fica bem e se estivermos mais ou menos é porque temos peso a mais e temos é de ir para o ginásio para perder aqueles quilos (e depois constatarmos que nada nos serve e temos de usar roupa da secção infantil). De uma forma alargada podemos aplicar isto a tudo na vida ser casado/solteiro, ter/não ter filhos, trabalhar/ficar em casa. Há poucas coisas que sejam indiscutivelmente positivas como as férias, estar apaixonado, receber um elogio ou um aumento.
Isto para dizer que a minha filha no dia dos namorados recebeu 2 presentes de 2 rapazes diferentes (e não deu nada a nenhum), ficou aborrecida, tal como ficou quando passou por um grupo de miudos no colégio do irmão e lhe assobiaram. Eu entendo-a. Mas como seria se lhe dissessem que era feia ou assim?

2.17.2009

Da idade

lembro-me bem, mas tão bem. a cara da minha mãe e da voz dela a exclamar "nunca gostei, sempre achei horrível, que queres!". isto dizia quando voltavam a estar na moda coisas dos anos 60, como calças boca-de-sino. eu não entendia de todo, as calças pareciam-me giras e achava que a minha mãe era uma retrógrada cheia de mau gosto. hoje vejo perfeitamente. isto não é estilo. é copiar (nem sequer é refazer, é mesmo tudo copiado) a década mais pirosa da história da moda - os anos 80. pois afadiguem-se nos chumaços elefantinos e nas calcinhas afuniladas com elástico por baixo do pé. para esse peditório já dei e há erros que não se cometem duas vezes.

2.16.2009

Não pensem

que não estou tão feliz com o sol como os outros. que não festejo interiormente a elevação da temperatura. que não me regozijo pelo aumento da luminosidade. que não penso em tirar os bikinis da gaveta e sentir os grãos de areia a escaldar na sola dos pés. a pré primavera que deu origem a tão profusos e eloquentes posts - embora não propriamente originais - que imagino seja capaz de levar à loucura cabeças menos racionais, a mim e à minha filha só nos dá para vomitar. não damos para mais, lamento. ou não lamento, se calhar.

2.13.2009

Do dia dos namorados



A pessoa começa a receber newsletters e notificações logo no início do mês, o que significa duas semanas inteiras com o mundo a lembrar-nos os losers - o termo politicamente correcto é "pessoas com sentido de selecção extremamente apurado" - que somos por não termos ninguém com quem gozar dos casalinhos bregas que jantam fora, enquanto secretamente esperamos receber um presente (em privado, claro, ir jantar fora com o namorado neste dia é como ir para o trabalho mascarada na segunda de carnaval - impensável).
Calhando a um sábado sempre é maneira das crianças se safarem dos cartõezinhos que são obrigadas a fazer na escola. Ou seria, se os professores não se lembrassem de antecipar a coisa para hoje. Na escola dele a educadora, muito pouco dada a manifestações românticas em criancinhas, mandou-os escolher um "amigo especial" (para mandar cartão, suponho), ele foi escolhido pelo Diogo.
Ora eu adoro a diversidade, quero mais é que toda a gente (quiçá mesmo animais) possa casar entre si, adoptar, tudo e um par de botas. Mas tenham dó, não ando a pagar um colégio para me transformarem o puto em rabiças (é que nem o deixaram escolher se queria mandar para uma miuda ou um miudo).

2.10.2009

Eu sei que não é fácil passar por um divórcio



mas estou certa que a Madonna arranjava um rebound guy com mais pinta do que este Cristiano Ronaldo brasileiro.

via Hands off of my manolos.

Tem cuidado com aquilo que desejas

Sei o que pensava e sentia quando escrevi este post. Mas fui ignorante ao fazê-lo. Qualquer trabalho criativo é doloroso, sai-nos das entranhas como um pequeno filho, a cada momento pronto a desiludir-nos, nem sempre se porta como queremos, quase nunca sai como imaginámos, às vezes pior outras melhor. Mas. É nosso, é trabalho, tem significado. Uma vez saído para a rua, faz-nos corar de orgulho (ou de vergonha), foi produzido e saiu-nos das mãos, ao fim do dia é uma pequena compensação pelas horas em que nos torcemos lamentando a falta de inspiração e de vontade de fazer aquilo, ao fim do dia é qualquer coisa que fizemos e que, no fundo, nos deu algum gozo, teve um resultado. E sim, sinto-lhe a falta todos os dias, a todos os momentos em que emburreço cumprindo a custo a função mais idiota do mundo, em que mato horas quase sempre a pensar em como sair daqui e voltar para o outro lado.

2.04.2009

2.02.2009

Dos arquitectos



foto Fernando Guerra
casa no martinhal, Sagres - ARX Portugal


Há uma piadinha antiga que diz que arquitecto é o homem que não foi suficientemente macho para ir para engenharia civil nem suficientemente gay para ir para Design.
Pois eu não concordo. Há na maioria dos arquitectos (os que levam aquilo mesmo a sério, que são quase todos) uma competitividade monstra, um desejo absurdo de ver tudo o que os outros projectaram e superá-los. Há em cada um um deles desejo insano de deixar uma obra, um património que nunca desaparecerá, que será documentado, estudado, admirado, invejado. Uma obsessão em rasgar a natureza, em marcar um terreno eternamente pelo seu próprio punho.
Não me lixem se isto não é tão masculino como deixar a tampa da sanita levantada.

Mais uma vez

a Vieira escreveu tão bem aquilo que eu não consegui porque:

1. Não tenho propriamente a mesma capacidade de expressão escrita.
2. Como estava toda a gente tão maravilhada com o filme, assumi que a culpa era minha, ter achado aquilo muito fraquinho e desprovido de significado, o que demonstra bem o quão em baixo anda a minha autoestima (e possivelmente até com razão para tal).

Já várias vezes tinha reparado que o sexo nos filmes de Woody Allen costuma ser mau e tardio, acho que já devo ter visto todos os filmes dele e chego sempre à conclusão que aquilo mete muitas palavras, que os preliminares são sempre duas personagens sentadas num café ou num restaurante e um a virar-se para o outro, no mesmo tom com que diria "tenho de ir ali à frutaria, queres vir?", diz "e se fossemos para a cama", a coisa não dá pica e perpetua (ou talvez seja até culpado pela instituição do mito) o mito do "sexo intelectual", mau e tardio como nos filmes do Woody Allen. Mas isto não passa de uma teoria minha, que praticamente nada sei sobre intelectuais. E talvez ainda menos sobre sexo.

pessoas com extremo bom gosto