3.03.2009

Pergunta-me muitas vezes



foto Sam Bassett

preços de casas, de apartamentos, sonha com a casa antiga do Porto, não sei a quem sairá com esta obsessão pelo imobiliário (talvez a ti, sei lá).
E esta, quanto custa, se ganharmos o euromilhões podíamos comprar, e com piscina. E esta tem piscina, mãe?
Escuso-me a explicar-lhe porque não jogo no Euromilhões e me passa ao lado se moro num palácio ou num T1 desde que não tenha de andar às voltas para estacionar o carro. Que não acredito em soluções mágicas/imediatas/abruptas como as lotarias e que nisso não sou tipicamente portuguesa, que não ligo aos sinais exteriores de riqueza e, em podendo optar, preferia guiar um Smart a um Audi (apesar de gostar de Audis e nisto dos carros ela também pensar como eu).
Mas obriga-me ao exercício, que casa é que a mãe comprava se ganhasse o Euromilhões e imagino-me no meio do campo. Digo-lhe isso que iria para o Alentejo ou Ribatejo e vivia no meio do nada, com espaço à volta e cavalos. Que talvez contratasse um professor para dar aulas de equitação às crianças da vila-mais-perto-do-meio-do-nada e que o meu sonho era andar todos os dias de calças de ganga e galochas cheias de terra até ao joelhos, passar dias sem ver um carro nem me apertar numa carruagem de metro e que teria internet para saber o que se passa no mundo porque afinal já é isso que faço e obviamente que ela torce o nariz a este meu desejo de campo e natureza, desejo de campo e natureza que temos todos e se manifesta no apreço ao cheiro da terra molhada mas que ela, como miuda que nunca pôs os pés fora de uma cidade, ainda não viu acordado.
E depois penso - aliás não penso, sei - que tudo isto é só vontade de fugir da minha vida, de mudar para o lugar mais distante que possa haver. Eu própria nunca vivi um dia fora da cidade.

4 comments:

Corine said...

pois a vontade de fugir da nossa vida acontece, de formas e tempos diferentes mas acontece. troço também o nariz a essa coisa das galochas e da terra, por muito dias que passei nesse 'estado de graça' mas uns optam pelo 'no-meio-do-nada' e eu optaria pelo 'no-meio-de-tudo'. Fic o também à espera do euromilhões para poder nunca voltar. Largar esse conceito. O voltar passar a ser para a frente, para outro lugar.

paddy said...

Eu fugi da minha vida de campo para uma de cidade.

Catarina said...

eu passo horas e horas nesse exercício mental... que casa comprava se fosserica. quanto custa uma casa no sacramento e em santa catarina? pesquiso t2 e t3 e depois pesquiso vivendas que nunca terei...
e acredito - o meu psicanalista preocupava-se imenso com o meu fetiche imobiliário - que a solução de tudo está algures numa dessas casas.

manda a miúda lá para casa!

Clara said...

Catarina, isso sei eu, por isso é q te linkei.
Eu faço o mesmo com empregos (embora cada vez menos).

pessoas com extremo bom gosto