2.04.2008

Desde o momento em que li

isto que o carrego comigo. É preciso que se diga que admiro muito a Vieira, que lhe bebo as palavras como sagradas, que não só lhe invejo a mestria na escrita como a maneira totalmente independente como escreve, eu sou um pouco assim também, mas mais comezinha, mais pequena, ainda me incomodo demais com o que os outros pensam de mim para escrever como a Vieira e limito-me a admirá-la e a pensar que um dia também eu conseguirei fazer o mesmo (mas com menos talento nas palavras).
Quando li esse texto lembro-me de ter achado "pronto, o pouco sentido que a minha vida tinha perdeu-se por completo". Mas realmente é parvo. Que sentido poderá o sofrimento dar a uma vida? Dor, agonia, o Corpus Cristi, a remissão de pecados, aprender, sofrer, viver, sofrer, crescer, sofrer.
De há uns tempos para cá tem sido esse o meu ciclo. A dor não dá sentido à vida, não nos faz melhores, não nos evoluí, nada nos ensina a não ser que somos frágeis. Não fui melhor mãe da minha filha por tê-la tido de forceps sem epidural do que do meu filho que nasceu de uma cesariana escolhida.
Não me tornei superior no dia em que acordei no hospital meia submersa num charco de sangue, sozinha. Nesse dia em que pedi que o meu marido me fosse levar um café porque desmaiava de enxaqueca e em que ele me beijou culpado sabe-se-lá do quê. Desse dia em que lhe vomitei o beijo (ou o café em forma de beijo) e que fim mais apropriado pode ter um casamento do que uma poça de sangue e beijos vomitados?
Não sou melhor nem mais nada agora em que a minha vida é uma sucessão de maus momentos do que era quando tudo era perfeito e envolto numa neblina transparente de beleza.
Não, o sofrimento não nos torna melhores nem superiores a nada, basicamente ele nada nos ensina a não ser a fugir dele.

8 comments:

LP said...

Não, não nos torna melhores mas não nos tornará mais fortes?

Anonymous said...

Obrigada pelas suas palavras.

Escrever o que sente não tem mistério nenhum, é uma questão de honestidade, só isso.:)

Já percebi que passou um mau bocado, não saberia consolá-la, não a conheço, não sei o que se passou. Pelo que escreve, deve ter sido mau. Não sou pessoa de conselhos nem de diatribes morais, só vim aqui dar-lhe um beijinho e desejar que 2008 lhe corra melhor (muito melhor).

Ah!, mas pelo menos uma coisa posso dizer-lhe: não é que isso passa (não sei se passa) mas, tal como escrevi no meu texto que lincou, o tempo atenua e suaviza muito as coisas. A felicidade está por aí, no futuro, ao virar da esquina. :)

Sofia Vieira

Clara said...

Lp, se considerares força capacidade para enfrentares os maus tempos sem te ires abaixo, então acho que sim, que torna.

Sofia (uau, a Vieira comentou no meu blog!), obrigada. Tratemo-nos por tu, uma vez que já fomos companheiras de blog, pode ser?
Eu também acredito nisso, estranhamente (porque a vida me corre cada vez pior), cada vez acredito mais.
Bjs.

Anonymous said...

Se fosse absolutamente católica (sou mediana) dir-lhe-ia que Deus está a testar as suas capacidades de resistencia. Não digo. Digo lhe que a vida não lhe tem corrido bem, é verdade. Venho cá há muito e denoto uma descida de alegria e um aumento de "azares". Trate de si. Mime-se. Mime os seus. Aceite o que lhe dão e faça disto uma festa. Minorize as merdas (que toda a gente tem) e não perca a esperança (e se possivel, o sorriso).

Anonymous said...

Por tu, pois claro. Desculpa, nem me lembrava disso, sou uma despistada... devo ter parecido uma presunçosa, mas nem me lembrei de que nos conhecíamos de outras paragens (risos). Beijinhos!

LP said...

Clara, até podias preferir não ter essa capacidade mas só tens de te orgulhar dela. E os bons momentos estão quase quase a chegar :). Um beijo

Anonymous said...

"E, quando tu te encontras abatido, se é o caso, pede ao teu Eu Superior para mostrar a Rosa do teu coração."
ANDRÉ LOURO DE ALMEIDA

susana said...

um beijinho.

pessoas com extremo bom gosto