Parto do pressuposto que estamos mesmo fritos.
Quando o governo pensava que tinha margem para manter níveis altos de despesa em 2010, com os TGVs e apoios vários, eis que as grandes agências de rating nos colocam sobre outlook negativo devido ao endividamento excessivo e ao défice.
Isso significa, trocando por miúdos, que ou há sinais claros nos próximos meses de que é possível cortar esse défice e endividamento, ou o rating da República é de facto reduzido, como aconteceu à Grécia, que está à beira de um ataque de nervos.
Uma diminuição do rating significa taxas de juro mais altas para todos e crescimento nulo. E o crescimento nulo gera mais desemprego e menos receitas fiscais. E consequentemente mais défice. Estamos presos por num círculo vicioso.
A situação é realmente grave. Não nos iludamos.
Há uma razão central para tudo isto: de 1994 a 2000 os rendimentos nominais dos portugueses cresceram demasiado à custa de despesa pública, subsídios comunitários e crescimento induzido do exterior, sem que se fizesse qualquer reforma estrutural que melhorasse o tecido produtivo.
A globalização que se intensificou a partir do ano 2000, com o crescimento da China, apanhou-nos na curva, com salários altos e uma economia antiquada.
Normalmente, a solução seria uma desvalorização forçada e brutal da moeda, para ajustar a economia. Mas não podemos porque estamos no euro.
Por isso, estamos condenados a uma estagnação prolongada, e até mesmo um declínio, se não aceitarmos todos um grande sacrifício: um ajustamento nominal.
Ou seja, aceitarmos uma redução de salários da ordem dos 10%, para adequar mais os salários ao nível da nossa real produtividade.
Isso seria brutal para muitos de nós, mas teria os seguintes efeitos de curto prazo:
a) reduziria a receita fiscal, é certo, mas a despesa do Estado em salários da função pública reduzir-se-ia também.
b) tornaria, num abrir e fechar de olhos, a nossa mão-de-obra mais competitiva, atraindo investimentos estrangeiros que vão para outras paragens.
c) permitiria uma redução dos custos dos nossos produtos, que poderiam ganhar mais facilmente mercados.
d) permitiria a criação mais barata de novas empresas e o reajustamento das que estão activas.
e) diminuiria o desemprego e, consequentemente, aumentaria o número de pessoas que pagam impostos, aumentando de novo a receita fiscal.
f) o rating da República, com a diminuição do défice, aumentaria e teríamos juros mais baixos.
g) em 4 ou 5 anos poderíamos assistir a uma recuperação dos salários e estaríamos, de forma sustentada, muito melhor do que agora.
É duro, de facto. Mas a vida fácil dos anos 90 do século passado já lá vai e temos de fazer alguma coisa para evitar cair no abismo.
3 comments:
me-do, Martim. pavor. e aqueles que vão falir pq o poder de compra das pessoas baixa? e o ainda maior endividamento e crédito mal parado que vai decorrer desses 10% a menos? a irlanda vai baixar 10% nos públicos mas como é possível mexer nos salarios dos privados?
Clara, estás versada em ciências económicas...
É uma questão de opções. Se a economia se mantiver estagnada e os juros subirem, poderemos ficar com taxas de desemprego à espanhola a muito curto prazo (neste momento andará nos 17% aqui ao lado). A nossa já deve ir em 11%.isso não provoca diminuição do poder de compra e crédito mal-parado?
E a subida dos impostos que se prepara? Tem efeitos semelhantes na amputação de receitas aos privados do que o ajustamento nominal, com a desvantagem que passa o dinheiro para o Estado que o aloca ineficientemente, em vez de reduzir custos às empresas (como acontece no ajustamento nominal que proponho).
Não tenhas medo. As meninas bonitas e inteligentes como tu sobrevivem bem a todos os ajustamentos....
eu????? sou a maior ignorante em ciencias economicas do mundo. ao pé de ti então...
era tão bom [ser menina, bonita, inteligente e sobreviver bem aos ajustamentos].
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