sei do dia em que me apercebi disto. passagem de ano de 1999 para 2000, ligeiramente depois da meia noite.
passei esse ano em Maastricht. à meia noite fomos à baixa da cidade, lembro-me que não nevava mas havia uma máquina que atirava neve para o meio da rua. nesse momento eu tinha 25 anos e o meu pai 49. então o meu pai ia comigo na rua e ao passarmos a máquina que atirava neve por uma janela eu disse uma coisa qualquer sobre a passagem do milénio e ele respondeu-me "sabia que este dia ía chegar. toda a minha vida esperei que este momento chegasse, a passagem do milénio. sabia que nesta altura já teria 49 anos, mas nunca pensei que me sentisse tal e qual como quando tinha 25".
foi nessa altura que percebi que a idade era a coisa mais ingrata do mundo, porque quando temos 15 achamos que aos 20 vamos ser mais velhos e sentir-nos de forma diferente, quando temos 20 achamos que vamos chegar aos 30 e ser outras pessoas e por aí em diante. e no entanto, pese embora o facto da idade ser aparente para todos à nossa volta, mesmo que os filhos dos amigos nos tratem por tia [foi o dia em que me senti mais velha do mundo, a primeira vez que isso aconteceu] e ainda que ninguém nos peça identificação à porta de uma discoteca, por dentro ainda temos 15.
pensamos da mesma maneira ansiamos pelas mesmas coisas e mesmo que alguns sonhos tenham já morrido foram certamente substituídos por outros que almejamos exactamente com a mesma veemência. mas nem por isso nos podemos portar como tal.
9 comments:
não sinto assim como tu. mas percebo perfeitamente o que o teu pai sentiu. por outro lado acho que há um lado residual em nós, uma espécie de núcleo que é mesmo imutável. e isso torna a idade a coisa mais ingrata do mundo.
Sinto tal qual o que descreves. Que alívio ver uma descrição tão perfeita do que também sinto.
isso, sim e' isso.
Sinto tanto isso
Eu continuo com 25 anos. E Maastricht é um sítio perfeito para sentir isso que o teu pai sentiu. De que lado do rio estavas? (que importa essa pergunta, dirás tu....)
Maastricht tem um rio?
Clara, Maastricht é cortada ao meio por um rio, o Mosa ou Meuse, com uma ponte bonita. De um lado, é a cidade velha, muralhada, do outro a cidade nova, com alguns hotéis e bares de design e o comércio. É muito bonita. Estive lá em 2004, num passeio de carro por aquela parte da Europa, que me levou à fabulosa Monschau, na Alemanha, mesmo na fronteira belga e holandesa.
Martim, os meus pais viveram lá 3 anos e claro que acabei por atravessar a ponte mas não me lembro do rio ser marca entre a parte antiga e nova. acho que estava na parte nova, mas já não me lembro.
Conheço bem Munschau, de Verão é bonito, tipo óbidos alemão, mas de Inverno e coberto de neve é lindíssimo.
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