11.29.2009
O Dubai aqui tão perto.
Já estive para ir ao Dubai, uma das sete cidades-estado que compõem os Emirados Árabes Unidos. Mas a ideia acabou por não me entusiasmar.
Qual era o objectivo? Sol e praia.
O Dubai praticamente não tem petróleo. Os rendimentos das actividades em torno do ouro negro representam apenas 2% do PNB. O resto vem de uma intensa actividade imobiliária, turismo e investimentos financeiros. O Dubai é uma praça livre para a actividade financeira e para o comércio, através do tão divulgado DIFC (Dubai International Financial Center), para a direcção do qual foram contratados especialistas europeus de renome.
O Dubai acalentava sonhos de expansão megalómanos no imobiliário e no turismo.
Naquele pedacinho de areia, sob um sol inclemente, projectam-se ilhas artificiais, em forma de palmeira. Constroem-se torres arrojadas que glosam as alturas de Manhatan. Constroem-se enormes pistas de ski indoor.
Em suma, desafia-se a ordem divina. Estende-se a terra para o ar e mar, traz-se a neve ao deserto. Planta-se finança em terra das tâmaras. Planeia-se um concentrado de mundo num espaço mínimo. Uma cidade global, diziam os dirigentes locais.
E como? Da mesma forma de sempre. Faz-se isso com o dinheiro de todos nós. Sim, com o dinheiro do mundo. Com títulos de dívida espalhados por todo o sistema financeiro. Mais pela Ásia e Inglaterra, eventualmente.
Os empréstimos obrigacionistas das empresas do Dubai atingem o valor colossal de oitenta mil milhões de dólares.
Menos, é claro, do que os seiscentos e treze mil milhões do Lehman Brothers no momento do seu ocaso, o ano passado, mas muito, muito para a dimensão do Dubai.
E pronto. A bolha estoirou, porque o imobiliário caiu dramaticamente. A Dubai World, há três dias, anunciou uma moratória unilateral no pagamento da sua colossal dívida. Pago mais tarde, lá para Maio, disse. Todos esperavam a massa em 14 de Dezembro, antes do Natal.
Nem tão cedo a confiança será reposta e as palmeiras poderão continuar a crescer em paz, agora livres do perigo de substituição por imitações de Alpes ou de pirâmides Maias.
Mais uma lição para todos nós. Há pequenos, médios e grandes Dubai espalhados pela Europa, do Algarve à Grécia. Empreendimentos turísticos megalómanos, financiados com dívida, tantas vezes numa modalidade chamada project finance (que se caracteriza por colocar o risco do lado dos financiadores), crescem por todo o lado junto ao mar, violando as regras elementare do bom-gosto e apresentando uma sustentabilidade financeira muito discutível.
É só olhar à nossa volta.
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