1.16.2009

Das viagens de metro

Por muito que esteja desligada de tudo, a histeria matinal não me abandona. Mandei o meu filho para a escola sem pequeno almoço porque não o quis tomar.
Penso nisso enquanto dura uma viagem de metro, não é assim tão pouco tempo e cheguei ao Chiado encharcada em lágrimas invisíveis.
Quando me abandonarão os remorsos de gritar com eles de manhã, quando poderei gritar quero cá bem saber, despeça-me mas não me faça mandar o meu bebé sem pequeno almoço para a escola, o meu menino tão magrinho, é doente ele, sabe, não sabemos o que tem, tão birrento, como poderá entender ainda antes dos 5 anos que a mãe não pode esperar tranquila que a birra passe, aguente-se a vida não é justa que novidade - eu falo comigo própria na terceira pessoa - aguente-se que justiça haverá para também eles serem arrastados para isto quando podiam ter uma vida tranquila e cómoda, a sua obrigação era aguentar, tivesse tomado comprimidos vodka psiquiatra mas aguentasse, agora fazê-los passar por isto para quê e não acha que é demasiado tarde para olhar para trás, é para a frente, amanhã tomará o pequeno almoço, será tranquilo, cada dia será um pouco mais fácil aguente-se se não houver café paciência aguente-se que justiça há para os outros e tantos que acordam mais cedo com mais filhos menos ajuda vida pior se acha que tem direito de se queixar engana-se aguente-se que é o mesmo que os outros fazem paciência amanhã talvez ele se lembre que tem mesmo de tomar o pequeno almoço.

6 comments:

Catarina said...

Foda-se.

Anonymous said...

As minhas manhãs com a minha filha são iguais.

Ela também nunca quer comer o pequeno almoço. Insisto que pelo menos beba um pacote de leite.

Um dia cheguei à escolinha dela lavada em lágrimas porque ela não queria beber o leite. A professora disse-me:

- Traga-lhe sempre um pacote de leite que eu consigo que ela o beba antes de entrar.

Senti-me muito muito grata àquela Mulher.

Clara said...

Cópia, já passei por isso com a minha filha quando ela era mais pequena. Acabámos por chegar a uma solução de compromisso, na qual eu também tive de aceitar que ela não tem mesmo apetite de manhã.

Aqui a questão é outra, com ele. É sono, é birra, é não se alimentar e não fazer absorção do que come porque tem qualquer coisa (sem diagnóstico) e é também eu não ter cabeça para lidar com isto, sozinha, sempre. É estarmos os dois constantemente a levar-nos uma ao outro à exaustão (e outras coisas ainda).

MISS PU said...

Oh Clara, quantas e quantas vezes quis escrever a mesma coisa!

O stress matinal toma conta de mim e é gritos e nervos a disparar por tudo e por nada. E o coitadinho do M lá vai, sempre muito calmo, muito devagar...
Mal o largo no colégio, lá vem o remorso. A vontade de voltar atrás, abraçá-lo, pedir-lhe desculpa, dizer que o amo acima de tudo. É um sufoco!

Como eu te percebo. E também sou sozinha. Não é fácil mesmo...

beijosss

Clara said...

Sim, às vezes parece que não podemos ser mães sem estarmos cobertas por um manto de culpa (sempre tão devagarinho, o ritmo deles, coitados).

Mocas said...

fiquei com um nó na garganta.

bj ...

pessoas com extremo bom gosto