10.18.2010

O fim das ansiedades

Estou fortemente convencido que o ano de 2011 vai ser um ano bem mais zen para todos nós do que cada um dos dez últimos anos anteriores.
Não me refiro, obviamente, à mera conclusão empírica de que o despojamento reorienta os valores da vida.
Tenho antes em mente a erradicação completa, e cientificamente previsível, de dois tipos de ansiedade que corroem o nosso dia-a-dia, e que em inglês são denominadas cold feet e buyer’s remorse.
O cold feet e o buyer’s remorse vão ser tão exterminados como o foram os mosquitos vectores da malária dos arrozais de Alcácer, há umas décadas atrás.
O cold feet é aquela indecisão, medo e angústia que precede os grandes momentos. Nomeadamente, o momento daquela compra. Horas de comparações. Leituras de revistas da especialidade ou périplos intermináveis pelas lojas. E ainda voltamos sorrateiramente à montra, quando o empregado já não tem mais paciência, escondidos atrás de uma amiga. Tempo deitado ao lixo. Amigos, mulheres e maridos, namorados e namoradas massacrados com perguntas, convidados a participar na decisão, a aconselhar. A insónia. Qual destes? Ou aqueloutro?
O buyer’s remorse é angústia de se ter decidido, e se ser assaltado pela dúvida sobre o bem fundado da decisão. Mais horas de comparações mais outra e outra vez, para confirmar a escolha. Tempo deitado ao lixo. Releituras de revistas da especialidade. Outra vez, périplos intermináveis pelas lojas. Sai-se e volta-se a entrar. Pede-se desculpa. Humilhamo-nos. Em alguns casos, o nosso objectivo é a superior conquista da devolução do dinheiro gasto. Noutros, a simples troca. Às vezes já se aceita tudo. Uns pontos, um crédito em cartão, para alimentar novos cold feet, novas angústias.
O cold feet e o buyer’s remorse são as causas silenciosas e tantas vezes indetectadas de toda a violência urbana, de todos os desaguisados domésticos, de muitas relações destroçadas, de tantas depressões. Eram. A partir de 2011 acabam. Viva a felicidade.

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