11.14.2007

Há qualquer coisa

num amor platónico que roça a perfeição. Será o mais perto de uma relação perfeita que conseguiremos estar. Algures no tempo já escrevi sobre isto.
Quem diz amor platónico diz não concretizado, falhado, desigual. Esse é o amor que resiste a tudo e que fácil lhe é resistir, não tem que levar com más disposições, com os pés em cima da cadeira e a luta pela posse do comando. Não precisa de mais cuidados do que aqueles que a nossa imaginação lhes presta e é óbvio que ela não se lembra de o pôr a discutir furiosamente nem a ressonar ao nosso lado enquanto tentamos adormecer.
Também eu tive o meu primeiro amor, pelos 16 anos, falhadíssimo, rasgadíssimo, sofridíssimo. Nessa altura tudo era Camiliano para mim, a vida não valia a pena senão carregada de dores que eventualmente seriam anuladas pelos consequentes prazeres numa lógica de compensação contínua.
Assim viveu ele durante alguns anos, perfeitíssimo (pudera), intacto (como poderia não estar), inteiro (impossível de fragmentar).
A esse meu amor reencontrei-o há meia dúzia de dias, por coincidência tem o filho mais velho no colégio o meu filho mais novo. Não está diferente, tornou-se até um homem mais interessante, os anos revestiram-no de alguma profundidade (ou qualquer coisa que não sei descrever). No entanto, no meio da minha lucidez actual, consigo ver tão mas tão bem o desadequados que estaríamos um para o outro. Na verdade não passa de um homem banalmente comum.
E isso é imperdoável nesse reencontro, descobrir a banalidade com a qual até os nossos amores perfeitos estão revestidos.

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