5.22.2008
Tempo
daqui.
É tão assustador imaginarmos o quanto somos reféns desta palavra.
Como ficar a trabalhar até às 3 da manhã, ver o nosso nome numa ficha técnica pela primeira vez, acordar cedo.
Como percorrer Lisboa (que saudades da minha cidade), passar na Castilho e ver os Jacarandás pisados pela chuva (eu sem máquina fotográfica), lembrar-me da Feira do Livro daqui a dois dias, a Feira do Livro de Lisboa que sempre foi subir e descer o Parque Eduardo VII com carrinhos de bebé, agonizando com o calor, atirar livros para a rede do carrinho, comer gelados e disputar garrafas de água (como será agora debaixo dos chapéus de chuva?).
Como morrer num hospital, velar a morte de alguém, imaginarmos a nossa morte (não quero que ninguém me vele, não quero medidas extremas e máquinas, quero que me lembrem viva e não nesse momento em que a morte me tornará suplicante).
Como lembrar-me da minha avó no velório dela e pensar que aquela não era a minha avó, que a teriam trocado na morgue, de não a reconhecer tendo-a visto apenas umas semanas antes, e não era, a alma dela (ou energia, ou sopro, ou vida, como lhe quiserem chamar) tinha já partido e por isso já não era a minha avó. Que o mesmo acontecerá comigo (não quero que me velem, ver-me-ão reflectida nos genes dos meus filhos, netos se os tiver).
Que o tempo será o que tudo cura, o que tudo traz, o que tudo leva.
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4 comments:
bonito.
Pois é, o tempo até se leva a ele, ou não será?
Mas, o que a levou a escrever algo tão triste?
A quase morte de uma pessoa que me é querida.
Fique bem!
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