8.17.2009

Porque alguns voltam às mesmas pessoas

Há quem passe pela vida numa progressão linear. Quem nunca olhe para trás. Quem aposte no que virá, com a convicção do que o que já veio, se não ficou, lá vai.
E há quem, nos momentos de transição ou de indefinição, se deixe envolver e enlevar pelo que já passou. Quem pense que, se calhar, o melhor já veio. E que guarda, no fundo, o remorso de não o ter percebido.
Quando o passado das pessoas do segundo tipo é constituído por pessoas do primeiro tipo, as coisas ainda ficam mas difíceis.
É que pessoas do primeiro tipo têm uma racionalidade invejável. O seu cérebro tem um telefone vermelho directo para o coração. E manda-o arrumar o passado no baú das recordações, lá no fundo do espaço ventricular. E as pessoas do segundo tipo ficam encurraladas entre um passado que não as quer e um futuro que não divisam, e em que não acreditam.
As pessoas do segundo tipo têm mais dificuldade em aprender com os erros e, caso a selecção natural seguisse por linhas direitas, seriam eliminadas. Só que os sortilégios da fortuna impedem-no. É que não é improvável que o passado reinventado seja mesmo melhor que o futuro.
O tempo distribui-nos, muitas vezes, as melhores cartas no princípio ou no meio do jogo. E depois sobram os duques.
P.S. (D) Fiquei a pensar se este texto se podia aplicar a João de Deus Pinheiro e a Couto dos Santos, escolhidos para as listas do PSD. Mas não, de facto.

3 comments:

Clara said...

Qual é o teu caso?

Martim said...

Um tertium genus...seguramente, não do primeiro tipo. Mas a nostalgia também não me embala. O post refere os tipos "puros", mas na realidade todos acabamos por ter um pouco dos dois, em proporções diferentes. E tu, minha chefe de redacção?

Clara said...

90% do segundo tipo. já o tinha assumido (aqui no blog e não só).

pessoas com extremo bom gosto