8.13.2009

A “Problemática“ das Separações: a Viagem de Férias

Adoro a palavra “problemática”, profusamente empregue, entre aspas e tudo, nos programas das listas candidatas às direcções das associações recreativas e nos manifestos das estruturas de base dos partidos políticos, geralmente em frases abundantemente pontuadas por exclamações.

Pois tenho agora o ensejo de a esbanjar a torto e a direito, entre aspas, ao discorrer sobre “a “problemática” das separações: a viagem de férias”.

Como é natural, a viagem de férias é apenas um dos aspectos da “problemática” (ai que bem que soa aqui! ) em análise. Outros, de alguma relevância, têm sido amiúde tratados, até neste blogue. Os filhos e a saudade ou não saudade deles, a redução das probabilidades de distensões musculares nocturnas, a liberdade de espalhar livremente a roupa pelos vários guarda-fatos do apartamento, as partilhas, etc, são prós e contras inerentes à “problemática” (oh sim, que prazer em escrever esta sensual palavra) muito mais discutidos, e que por isso não vão merecer agora uma linha sequer.

A viagem de férias torna-se parte da "problemática" (aaaah) da separação quando é marcada e paga pelo casal (palavra tronchuda) com muito antecedência, e a ruptura ocorre antes da partida. A "problemática" (siiiim!) agudiza-se quando estava em causa uma viagem de avião, pois o carácter nominativo do bilhete impede a milagrosa substituição da outra parte por alguém desencantado, in extremis, no ginásio.

É, pois, natural que a separação, nestas condições, acabe por levar a um cancelamento das férias, o que agudiza a problemática (mais!). Esta senhora palavra convola-se naquilo que, em linguagem técnico-jurídica, se chama “o prejuízo”.

“O prejuízo” resulta da dificuldade em reaver a integralidade da massa de volta da agência em caso de cancelamento da viagem, já que as agências são, de modo geral, pouco sensíveis "à problemática" (ssssss). A farinha feita pelo casal (palavra tronchuda, repita-se) enche-se ainda mais de grumos, já que à amargura e possível tristeza resultantes da separação, soma-se a concomitante sensação de perda financeira irreparável.

A iniciativa privada revela, na "problemática", as suas limitações, pois o mercado não oferece um seguro que seja que cubra “o prejuízo” a que nos referimos. Se o liberalismo económico não tem solução para acudir à nossa problemática, olhai bem para a vossa esquerda nas próximas eleições, pois só o Estado a pode ajudar a resolver , com subsídios que reponham “o prejuízo” do casal (que bonita palavra).

4 comments:

Clara said...

Subsídios esses a depositar pelo estado na CGD, em conta poupança a 20 anos e passível de liquidação no final do prazo caso o casal [é bonito o termo, sim senhor] prove a não reconciliação durante esse período. algumas recaídas efectivas durante o período de acumulação de juros [20 anos] serão justa causa para a perda do direito ao subsídio e de todas as suas contrapartidas [que o estado é generoso mas justo].

Martim said...

Estava-me mesmo a apetecer escrever o post mais silly da season

Catarina said...

este post devia ter sido escrito para/por mim.

Clara said...

Catarina, Martim, Martim é a Catarina. Não se conheciam, presumo.

pessoas com extremo bom gosto