3.10.2010

based on a true story

Henrique. Em criança era sossegado, uma criança normal, filho único, dos que não dão trabalho a criar. Passava horas a brincar com carrinhos e bonecos no quarto, fabricando lutas e jogos em que, invariavelmente, acabavam todos mortos ["matados"] e espalhados pelo chão do quarto. A mãe gritava-lhe que apanhasse aquelas coisas todas e as guardasse na arca dos brinquedos, ao que ele acedia, apanhando e guardando tudo como sabia ser obrigação sua. Por vezes era necessário chamá-lo repetidas vezes para a mesa ou para fazer os trabalhos de casa ["não ouve nada, este meu filho, está sempre com a cabeça na lua"] mas nem durante a puberdade se lhe ouviu um queixume, uma birra. Acontecia durante a infância os amigos gozarem com ele, como todas as crianças gozam com todas as crianças, e henrique limitava-se a sorrir meio desligado, o que fazia com que desistissem imediatamente e procurassem outro alvo, mais propenso a irritações.

Na adolescência, henrique tirava boas notas, não porque se dedicasse ao estudo mas porque se sentava na fila da frente, descobrira que se prestasse atenção suficiente nas aulas isso chegava. Por esta altura os pais preocupavam-se ligeramente, talvez henrique não tivesse amigos na escola, não parecia ser convidado para as festas como os filhos dos vizinhos e passava mais horas a esventrar objectos como telefones e lanternas para lhes compreender os segredos do que a jogar futebol na rua com os outros rapazes do bairro. Mas ele era assim, o que fazer, nem todas as crianças são iguais [pelo menos não se metia em confusões].

Não foi surpresa para os pais quando entrou para o Técnico na sua primeira opção: engenharia química, nem quando terminou o curso em 5 anos e foi convidado para ir trabalhar para uma grande empresa do estado. O menino sempre fora de oiro e agora poderiam começar a pensar no casamento com a namorada, sua colega de curso [boa rapariga]. os pais rebentavam de orgulho e, mesmo antes do casamento, fizeram questão de oferecer o sinal para a compra do T3 em Massamá. é verdade que assim se foram todas as suas economias, mas henrique merecia, tão bom rapaz, nunca lhes tinha dado um desgosto que fosse.

até março de 2010.

4 comments:

Anonymous said...

afinal só não fumava, nem bebia...

Zigue Zague said...

Os santinhos... lá está.

Maria Inês said...

n será demasiado linear?

Clara said...

ines, claro que é. o que sei eu sobre estas coisas? [foi escrito à pressa, queria ter escrito diferente].

pessoas com extremo bom gosto