É uma coisa curiosa. Os hotéis em Inglaterra não têm. Nas casas de banho dos hotéis não há. Já há muito tempo que tinha notado. Ontem foi o mesmo. Na casa de banho. Não há, definitivamente. Pelo menos, nos hotéis de Londres, que o resto não conheço. Na casa de banho falta. Quer dizer, banheira, lavatório e a louça dos aflitos, mais sua nuvem privativa, há. Mas aquilo a que me refiro, que normalmente repousa ao lado da louça, não há. É uma lacuna que exaspera à espera de ser integrada.
Acho estranho. Os ingleses são muito ciosos do due and fair process. A metodologia é omnipresente naqueles espíritos organizados.
Em Inglaterra, pode e deve ser-se imaginativo, inventivo, flexível, criativo, liberal. Mas as decisões têm de passar sempre por um exercício vinculado de racionalidade. O método inglês amarra a decisão do ser mais livre às grilhetas impiedosas da cost versus benefit analysis. Numa folha branca de papel, escreve-se os prós numa coluna e os contras noutra. Comparam-se e opta-se. E tem que haver alguém de fora a ver se a comparação está bem. Para a auditar. E, finalmente, deve consultar-se amplamente quem possa ser afectado. Nada a opor. Acho bem. Gostava que fossemos um pouco assim.
Se o que vai dito descreve com justiça os ingleses, então a omissão daquilo a que me refiro foi pensada friamente. Foi uma opção deliberada.
A vantagem de, numa casa de banho de hotel, haver aquilo, entra pelos olhos dentro. Mas quais as desvantagens que, neste caso, terão prevalecido para se ter optado por não se ter aquilo? O que terá impressionado autores e auditores da decisão?
O custo não é o problema, com certeza. Já são tão baratos… No Ikea, um simples exemplar não deve ultrapassar os 10 euros. E há o desconto de quantidade, com certeza. Um hotel com 100 quartos não gastaria mais de quinhentos euros por ano para os equipar a todos satisfatoriamente. Podiam ser de plástico. Não há problema.
Só posso pensar numa razão. Alguém decidiu e outrem auditou, num rasgo aristocrático, que um hóspede que paga a conta do hotel não deve ser obrigado a tratar do assunto com aquilo. O hóspede é o marquis do seu quarto e o earl do seu loo. Não é uma função nobre cuidar disso. Com aquilo.
Será que a sociedade inglesa ainda estende, porventura, a sua ancestral estratificação social à divisão destes trabalhos? Talvez que ao hóspede, brasonado pelo cartão magnético entregue pela recepção e investido na potestas sobre o quarto, só caiba accionar o dilúvio, confiar na força da tormenta e sair. Ao serviço competente do hotel caberá o resto. O trabalho dos duros. A reposição da imaculada ordem.
Não sei. Avento. Só sei mesmo que não há. Aquilo.
17 comments:
O bidé?
frio, lápis, frio. Isso é louça. Louça está lá toda....mas usas-se na louça. E mais não comento. Para a semana faço um post mais sério (que me havia de assomar ao neurónio?)
No meu apartamento havia quando cheguei. Deve ser dos hotéis.
(não é o bidé - mas esse não há)
Coisa interessante é também o uso da dupla torneira. Parece que por cá são contra usar uma torneira mista. Portanto ou te escaldas ou te gelas a lavar as mãos...
Exacto, du!a dupla torneira é um desafio intelectual para os neófitos.
cortina de chuveiro?
pincel (revelada a verdade a Clara vai compreender todo o alcance desta folia e não vai gostar)
existe um alcance, portanto. n vou gostar pq?
hummm... talvez seja da hora a que escrevo estes posts mas a mim parecia-me que era um piaçaba. Pincel é um lindo eufemismo para a coisa. Mas piaçaba tem outro encanto. Infelizmente não é só em Inglaterra que se nota a falta, é por esse mundo fora e nos momentos menos simpáticos Talvez tenhamos de considerar a hipótese de o levar no necessaire... PS: recomendo o video gravado Ricardo Araújo Pereira sobre o tema (é só escrever piaçaba no google).
Informação extra: Piaçaba Joful 1,49 € no Continente.
mas este post tb me fez lembrar qq coisa deste fim de semana, talvez seja por causa do final do post 'divisão de trabalhos', 'accionar o dilúvio, confiar na força da tormenta e sair', 'o trabalho dos duros', 'a reposição da imaculada ordem'; definitivamente este Martim é um maroto, ele está é a falar do tal congresso,...
ah, o piaçaba claro. no ikea devem ser ao mesmo preço, 1,5 €.
Adorei a forma de fazer queixa da falta de algo que também reputo imprescindível!
Se bem que, por cá, parece haver muita gente que pensa tratar-se de um apeça apenas decorativa... ou então imbuída do espírito que os hotéis ingleses insistem em ver nos seus hóspedes!!!!
Este blog não diz piaçaba.
Depende Zuza. Há dias em que se diz, outros em que não diz. Não há propriamente um objectivo de dizer sempre qualquer coisa. Não nos levamos suficientemente a sério para isso.
Cláudia, obrigado.
pensando bem nesta problemática, deve ser considerado material de limpeza e só é usado pelas senhoras da limpeza, está naqueles carrinhos que elas empurram pelos corredores de manhã. n será?
Bom, mais uma dúzia de comentários e o começa-se a sentir o cheiro no ar...
:D
Mais informação extra: no IKEA não custam 1,5 euros, mas sim 0,99 euros!
:)
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