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Começo a medo, com receio de tocar nas teclas do computador. Devagar constato que os meus dedos ainda não se esqueceram das posições das teclas, ainda percorrem o teclado à mesma velocidade de antes.
Hesito em começar, em criar este blog, mesmo sabendo que vou precisar dele daqui a uns tempos (dias? meses? horas?). Foram 45 dias de férias, um mês e meio sem vir a casa e sem lhe sentir a falta. Não quero passar a porta, recomeçar a vida depois da praia, dos amigos, das saídas. Não quero.
É por isso também que não quero começar a escrever aqui (e escrevo), porque isso é assumir que tudo voltou ao mesmo. Tenho o corpo e a cabeça ainda em férias. Sinto o cheiro do mar e o toque da areia. Ainda estou na cidade onde estão as pessoas de que gosto (as muitas que não estão aqui), ainda não voltei realmente para a cidade que me vai manter cativa por largos meses (A contar os dias como os prisioneiros dos filmes, com pauzinhos riscados na parede, um pauzinho por dia até perfazer 9 meses).
Há cerca de 4 anos escrevi este post. sei porque o fiz, porque comecei o blog, e se não é evidente para todos, passo a explicar: comecei-o quando entrei num divórcio, sozinha com dois filhos, numa cidade estranha para onde fui para que a carreira do meu então marido pudesse florescer.
A pessoa pensa, passa pelas coisas e nada depois será pior, aprenderemos com as nossas dores, seremos pessoas melhores, mais fortes e nunca mais nada nos derrubará. pensamos, só temos de aguentar agora, só um bocadinho, só até o fim do dia e ficará tudo bem. até que um dia é mesmo verdade, ficou tudo bem ainda que não igual, diferente mas até a essa diferença nos habituamos pois há poucas coisas às quais o espírito humano não se habitue, à solidão, ao medo, ao terror, à fome, às tareias, à prisão. é ler sobre a vida num campo de concentração e entender que mesmo no meio do frio, das dores, da fome, da falta de amor, de amizade, de respeito, ainda assim importava apenas e só sobreviver, viver, por isso, não me lixem, o espirito humano é mesmo assim, habitua-se.
Passaram agora 4 anos, o que me parece uma altura perfeita para acabar aqui e recomeçar noutro lado porque é disso que preciso, de recomeçar, que amanhã seja outro dia e pelo menos, que me traga diferentes palavras, dores, alegrias. que seja diferente e não exista mais tudo aquilo que aqui escrevi, que seja outra coisa, noutro lado. enfim, que eu possa ser outra pessoa que não esta clara [nem outra].
Obrigado por me lerem, por me comentarem, talvez por se terem identificado um pouco comigo durante todo este tempo.