A Crezia ficou chocada com o meu post anterior, e a resposta que tenho para lhe dar talvez não seja a ideal.
Começo pelo início. A minha filha andava num colégio no Porto. É preciso que se diga que no Porto 90% dos colégios são católicos, geridos por freiras e padres, que lá a desigualdade social é muito mais marcada do que aqui, que a mentalidade é (e sim, dentro do mesmo país) muito mais fechada lá. Quem foge à regra, quem não é católico, quem não vai à missa, quem não põe os meninos na catequese é olhado, falado e marcado. Quem vem de Lisboa também.
Eu não escolhi aquele colégio, foi o que consegui arranjar. As traseiras de um dos melhores colégios do Porto (de padres) dava directamente para a fachada do meu prédio, por isso tinha-me dado um jeitaço que ela tivesse tido vaga lá. Não aconteceu. É preciso que se diga que no Porto, para conseguir vaga num pediatra bom, num colégio bom, no que quer que seja são precisos anos de espera e alguns conhecimentos locais, coisa que eu não tinha. Porque há muito menos recursos do que cá, tudo é mais complicado, ela entrou para aquele colégio por recomendação de um colega do pai que tinha lá os dois filhos. Lá é assim. Cá também já foi. Por isso não pude realmente torcer muito o nariz à história das internas, era uma coisa pouco falada, não me lembro de falarmos nisso entre os pais, tive alguma convivência com alguns pais, e nunca tocámos nesse assunto. Era talvez um não-assunto em que lavávamos a consciência com um "mas pagamos nós para que elas possam ter uma vida um bocadinho melhor". E de caminho, os nossos terem uma educação fabulosa, umas instalações magníficas, bons professores.
Na primeira festa de Natal, depois dos cantos e teatros, chamaram as internas ao palco e fizeram alguns externos entregar os presentes delas, chamando uma a uma pelo nome. Presentes comprados com o dinheiro que o colégio tinha solicitado aos pais umas semanas antes. Esse foi o espectáculo que me enojou francamente. Aliás, saí da festa.
Não tenho bem a certeza das razões da segregação das miúdas. Aquelas freiras eram do mais retrógrado que há, por isso suponho que fossem as razões mente captas das freiras. Mas sim, acho que muitos pais prefeririam assim. Outros, como eu, limitavam-se a pactuar com a coisa.
6 comments:
Triste, muito triste!
blhéc
Estou a ver. Complicado... Não a parte de pactuar com a coisa, claro, isso percebo perfeitamente. Vejo que uma coisa leva a outra e a outra so pode vir da uma que vai dar à outra que leva à uma. Tudo muito claustrofóbico e dentro do sistema. Sabes, acho que percebo melhor onde a coisa já funciona assim de raiz, do que onde em teoria já não é mas depois se vêem coisas muito provincianas.
A história dos presentes é triste, de facto.
Obrigada pela resposta, até corei quando vi um post começar com o meu nome (sort of).
livra, os católicos do Porto são do piorio mesmo, então. Que quadro!
ainda bem que me fui misturando com poucos ao longo da minha vida escolar - os da parte docente, quero dizer.
colegas e amigos católicos fui tendo vários nas escolas (públicas)onde andei e mesclavam-se benzinho.
Não, Pal, não era de todo isso que eu queria dizer. Ali era assim, porque se calhar não funcionaria bem de outra forma...não creio que tenha a ver com a religião.
Existem mitos sobre o Porto que me deixam de boca aberta. Os lisboetas acham que nós vivemos numa sociedade feudal...e sinceramente eu não entendo. Eu sou do Porto, nao sou católica, não tenho os meus filhos na catequese e ninguém me olha de lado por isso. A minha escola é pública, funciona bem e não precisei de cunhas para nada. Não olho de lado para os lisboetas e não conheço ninguém que o faça. No entanto sei que existe uma determinada "classe" de pessoas que gosta de se sentir exclusiva e portanto tenta que os seus circuitos e contactos sejam seleccionados. Se a Clara escolher os colégios, médicos, etc da moda ( ou melhor, os eleitos por esse grupo de pessoas) é evidente que vai ter dificuldade em entrar ( a não ser que seja um deles). Mas essa "classe" não existe só no Porto....
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