detesto hospitais, contenho o vómito quando passo a porta de entrada, o cheiro a hospital mesmo disfarçado provoca-me o mesmo que o cheiro a gordura frita às 9 da manhã, um vómito involuntário que faz estremecer. Empurro-me e contenho-me, este hospital nem é dos maus, não tem macas nos corredores nem pessoas a gemer, não há aglomerações, pessoas, choros, gritos nem tragédias. Não se vislumbra a morte nem a doença senão no cheiro. Mas ainda assim sabemo-las lá, presentes, expectantes, atentas. Um pequeno descuido e somos apanhados, percorreremos também nós os corredores a empurrar o frasco de soro até ao fim para um cigarro escondido, acordaremos de noite muitas vezes sem saber onde estamos, alagados em suor, transidos de medo dos fantasmas dos que morreram ontem e anteontem e cujos corpos jazem algures por baixo dos nossos pés, pisamo-los mas não adianta, eles estão à nossa volta, fazem parte deste edifício, são como nós parte de um conjunto de seres vivos ou mortos, a diferença é uma questão meramente temporal.
Sou como os outros e só entro em hospitais quando vou ver uma pessoa de quem gosto mas ainda assim não suporto o cheiro da doença, o bafo da morte a enfiar-se lentamente nos ossos. Ninguém pode gostar de hospitais e é pena, porque deviam ser sítios maravilhosamente agradáveis, cheios de plantas, de cantos de pássaros, de cheiro a chocolate quente no Inverno e de risos de crianças.
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