9.29.2009

O Norton, o Kasperski e o Ursinho Panda

Estranho, estranho, estranho.

Sempre achei que Cavaco Silva tem muitas qualidades, mas estratégia política não é uma das mais salientes.

A sua principal arma política é a gestão do tempo para falar e do tempo para calar. Deixar mistérios no ar. Fazer longos silêncios. Cultivar tabus. Em muitos casos, com magros resultados, refira-se.

O célebre tabu de Cavaco Silva contribuiu decisivamente para o ambiente doentio dos idos de 94 e conduziu à sua inglória derrota eleitoral contra Jorge Sampaio e à entrada retumbante de Guterres no governo.

Hoje Cavaco Silva decidiu falar. Foi muito pouco claro sobre os factos. Nunca falou de escutas. Deixou espaço para que o PS, num discurso mais preciso de resposta, marcasse pontos.
E rematou com um argumento, que vai ficar na história, para credibilizar a existência de suspeitas: diz que ouviu pessoas "ligadas à segurança", que o alertaram para a existência de "vulnerabilidades" no computadores da Presidência- como que a dizer "vejam, vejam, que é plausível que tenha havido acesso ilegítimo a emails- pois se os computadores são vulneráveis...".

Estas coisas dos computadores já existem há alguns anos, e há três constantes nessa ainda curta história: o crash, o reset e a vulnerabilidade. E isso não prova que haja logo, por si só, fugas ou violações de privacidade.

Outra coisa que também sei é que, para descobrir vulnerabilidades graves em sistemas, não se ouvem pessoas à terça-feira. Manda-se fazer uma coisa chamada "auditoria informática", que demora tempo e é normalmente vertida num calhamaço que é preciso estudar. Pode ser que tenha sido isso que o Presidente mandou fazer. Não sei, porque não explicou.

É que ouvir, ouvir, é mais apropriado para generalidades computacionais. Tipo o Norton ser muito pesado, o Kasperski um verdadeiro glóbulo branco e o Panda um ursinho.

5 comments:

Clara said...

caro martim, recomendo o avg.

Martim said...

Nunca gostei desse, pela proximidade sintáctica com o AVC...
É claro que a Presidência da República tem sistemas de informação bastantes avançados e peritos em segurança informática e de comunicações de grande quilate, como referia o Nuno Rogeiro ontem.Por isso, o combate às vulnerabilidades é o "business as usual" dessas pessoas, que terão com certeza uma noção muito clara dos pontos fortes e fracos dos sistemas. Não há, por isso, razão para apresentar a vulnerabildiade como uma descoberta, o que só é compreensível no contexto da argumentação política, de modo a tornar verosímeis suspeitas de quebra de confidencialidade.
Ainda em tempo, refiro que as explicações dadas para a o afastamento de Fernado Lima são fanatásticas.
Afinal, ao contrário do que toda a gente pensou, ele não foi afastado por o Presidnete assumir que ele tinha, de facto, cometido um erro.
Repare-se que foi essa a interpretação que singrou e que pôs em causa a tese da asfixia democrática usado pelo PSD.
Não. Ele foi afastado para a obviar uma simples suspeita pública de que esse assessor teria violado a regra formal de "não falar nunca em nome do Presidente da República" (a célebre história do contacto com o Público por causa das escutas).
E por causa de uma simples suspeita provoca-se um terramoto destes a poucos dias das eleições? Estou estupefacto.

Clara said...

eu estou só cansada. neste momento não processo assuntos políticos. os jornais são todos uns folhetins de ordem política que se curvam à cor que mais lhes agrada, alternando sempre entre o rosa e o laranja.

ora para mim isto é tudo igual, jornais, partidos, centrão, campanha, difamações. a coisa não se reverte através da ERC [como aliás ficou patente nesta campanha], temos de ser nós [consumidores] a ignorar isto tudo, a não comprar aqueles jornais.

R.L. said...

mais uma vez parabéns pelo texto, Martim. Eu tenho o avast...

Sabina said...

Brilhante. Por acaso, ainda ontem, do pouco que compreendi do discurso do PR, pensei nisso. Se existem desconfianças de vulnerabilidade nos computadores, então faça-se uma auditoria. Se é para ouvir alguém, à pressa, dizer que é possível existirem vulnerabilidades, então eu própria tinha passado por lá e tinha dito isso ao PR. E reparem, a troco de um simples pastelinho de Belém.

A conclusão que eu tiro desta história toda, é que a maturidade política dos nossos governantes está ao mesmo nível dos dirigentes de uma qualquer associação de um bairro social. E isto deve preocupar e entristecer qualquer cidadão não anarca, independentemente da sua cor politica.

(O Panda é um canal de TV. Qualquer criança sabe isso!)

pessoas com extremo bom gosto