duas mulheres falam muito alto. discutem, penso, mas ao chegar mais perto estão apenas a contar as novidades uma à outra.
e disse-me que não me atrevesse a pôr lá os pés outra vez porque me matava. só estive com ele duas semanas e sabia lá que o homem era assim, parecia-me um senhor.
a minha mente, visual como de costume, preenche os brancos e imagina um homem género Francisco Pinto Balsemão ou Miguel Horta e Costa sentados numa sala de visitas de uma cadeia [das dos filmes, uma mesa metálica com um pequeno separador no meio, duas cadeiras de costas de metal], gravata de seda e fato Zegna, as bocas mexem sem dúvida mas não são aquelas as palavras proferidas.
obviamente, a minha noção de "senhor" e a desta mulher são completamente distintas, tento então imaginar o que será a imagem de "senhor" dela. não consigo, desisto.
chego apenas à conclusão que me persegue desde sempre - a mente humana tem uma capacidade infinita de se enganar a ela própria.
2 comments:
O senhor dela seria mais do tipo Pinto da Costa.
(gosto muito, muito da última frase)
É mesmo verdade...
Custa-nos encarar a Verdade quando ela é bem diferente do que desejamos.
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