Aqui há muitos anos (quantos? mais de 20, menos de 30, não sei precisar com maior exactidão) o meu avô recebeu em casa um amigo australiano. Era um amigo de há muitos anos que estava a dar a volta ao mundo e, para surpresa do meu avô e do meu pai, apareceu acompanhado da filha recém-nascida. A filha tinha nascido e ele aproveitou para fazer uma muito desejada volta ao mundo durante os meses da licença de paternidade, tendo a mulher ficado na Austrália a trabalhar. Lá como cá a licença de maternidade/paternidade pode ser usufruída por qualquer membro do casal ou mesmo partilhada por ambos.
Contaram-me ambos esta história em simultâneo, o meu avô rematando a coisa com um "lá é normalíssimo e noutros países também, não é como cá" amargurado como de costume com o atraso da nossa sociedade (claro que ele próprio nunca mudou uma fralda ou embalou um bebé, mas isso da teoria à prática já se sabe, é um mundo).
Quantos anos (if ever) demoraremos a chegar a este ponto?
(este post foi inspirado neste e neste, embora não pareça, está directamente relacionado)
17 comments:
Que vivemos numa sociedade machista é uma verdade indesmentível. Que é uma pena e que muitas coisas deviam ser mudadas, também.
Mas, sinceramente, não me vejo a fazer o que a mulher do amigo do teu avô fez. Não é que a censure, mas eu não faria! Mesmo!
Creio que mulher e homem se igualam em valor e dignidade. Seria justo e desejável que se igualassem também em direitos.
Mas não creio que isso passe por as mulheres passarem a fazer o que é mais natural ao homens e vice-versa.
Somos, naturalmente, diferentes e complementares (é por isso que gostamos uns dos outros, eu acho. porque nos completamos), e essas diferenças não nos desvalorizam.
Não sou boa a rachar lenha para a lareira, mas farei outras coisas melhor.
Claro que em relação aos filhos acho que a responsabilidade é dos dois. Desde o início, ou desde antes dele.
Mesmo que na prática o planeamento famíliar passe mais por nós, mulheres, a decisão, a responsabilidade, até o cuidado de nos lembrar no caso de nos podermos esquecer, deve ser deles também.
A decisão de ter ou evitar um filho deve sempre ser dos dois; do mesmo modo a responsabilidade de o criar, cuidar e educar também.
Mas eu seria incapaz de mandar uma filha recém-nascida, viajar com o pai para fora do país, e seguir a minha vidinha normalmente. E se não a censuro por isso, também não me considero "quadrada" por ser assim.
Cada pessoa é um caso, mesmo.
Bjs!
Pois, Margarida (eu sou capaz de me imaginar).
Eu também sou capaz de te imaginar. És bem mais desembaraçada do que eu.
São feitios diferentes, mas é mesmo só isso.
Agora, na questão de igualdade de direitos (e obrigações), estamos absolutamente de acordo de certeza.
Eu não o faria porque não quero, e é esse direito de querer ou não querer, que é o ponto fulcral do teu post, parece-me.
é, mas ainda assim é um direito que só assiste a algumas (escolha), porque a maioria leva mesmo é com a obrigação (e a lei é 100% machista, claro, ou não fossem os legisladores...homens).
Noutro registo, a mim fascinava-me (nos tempos idos em que fiz inter-rail anos a fio) os jovens casais com os filhos às costas, viajando pela Europa. Pensei que gostaria de o fazer também, mais tarde. E fiz...
(Já agora, no último ano três tipos da minha equipa gozaram no início da maternidade os quinze dias que, a juntar aos outros cinco, têm direito. Saiu-me do corpo, mas incentivei-os desde o início a que o fizessem. E deu-me cozo contribuir para que fizessem a coisa certa.
Olhe Leão, e o padrinho do meu filho que gozou a licença de paternidade quando lhe nasceu o filho e ainda mais um mês de férias? (foram 4 meses e meio, parece-me). Acho que o mais complicado para ele foi ter que ultrapassar o que os colegas diziam dele nas costas (mas foi um caso de falta de opção, a mulher não tinha direito à licença).
Eu não digo que não o faria.
Depende da conjugação de alguns factores.
E que a Margarida não faria nem era preciso dizer, que eu conheço-a e sei que não, para sorte da outra parte na questão.
Mas lá que a sociedade e a lei são machistas são. E como tu dizes, se a Margarida, não quer porque não quer porque é assim muito maternal por natureza, para a maioria das mulheres não há cá quereres, e se não tiverem essa vontade toda de estar sempre com o bebé e entenderem deixar essa obrigação um bocado ao pai, não têm sorte nenhuma.
Já foi pior, mas ser mulher ainda é muito complicado!
Beijos
Catarina
Na verdade, eu não conheço bem a lei. Imaginava que fosse igualitária.
Não é possível que a "licença de maternidade" seja usufruida, indiferentemente, pelo pai ou pela mãe?
Na questão das mentalidades a realidade sei bem que é outra.
Margarida, tirando os primeiros 15 dias que são obrigatoriamente gozados pela mãe, o resto pode ser indiferentemente por um ou por outro. Falava noutra coisa, está claro, não nessa licença.
tens razão Clara, se os homens não delegassem o trabalho (quase)todo nas mães se calhar a coisa não acontecia assim.
estamos a anos luz do equilibrio. a cultura é a principal responsável. eu não quero corresponder a leis que disputam direitos e obrigações mas a vontades e prazeres. para mim, no que diz respeito a família, tudo passa pelo prazer que isso me dá e aos que amo.
para além disso, dispenso as leis. Dispensei até hoje e nunca me arrependi.
falo por mim, claro!!
vocês têm a certeza que a culpa é mesmo toda nossa?
se eu escrever no meu blog: "estava ali sentado no sofá, de comendo na mão a passar canais à espera que o jantar ficasse pronto, quando...", acreditem que recebo ou dois ou três comentários a criticar a coisa ou 5 maisl a chamarem-me machista.
se eu escrever no meu blog: "estava a engomar com a televisão assim, com o som baixinho porque a minha mulher já dormia..." recebo comments a dizerem coisas como, "tu engomas?????"
ou seja, enquanto ambas as situações não forem coisas naturais para vocês mulheres e para nós homens, alguma coisa estará a correr mal. acreditem.
eu sou péssimo a matemática porque tive ou péssimos professores ou tive hiatos enormes (no 7º ano nunca tive professor, sequer) sem ter sequer aulas. a minha vida inteira nunca precisei de mexer uma palha em casa, porque a minha mãe se chegava sempre à frente: quer fosse com a comida, quer fosse com a roupa, quer fosse com outra coisa qualquer. nunca, mas nunca incutiu espírito de lavor dito "feminino" a mim. não esperem numa situação destas que nós tenhamos iniciativa (que até tinha) para contornar a coisa. ela fazia assim, porque sim!
não comecem vocês a contrariar a educação que os vossos homens receberam das vossas mãezinhas e depois não se queixem.
não comecem desde cedo a educar os vossos filhos a passar um pano de pó pelos móveis ou a educar as vossas meninas a mudar pneus e vão ver no que se metem.
ah, a propósito. este post está bestial.
Pitx, aqui não atribuí culpas a machos alguns. Disse "sociedade" e quando o disse estava a englobar homens e mulheres. Tenho perfeita noção de que se queremos mudar algo começa por ser na educação dos nossos filhos e filhas. Tenho um de cada género que não diferencio no tratamento que dou, mas tenho perfeita noção que fui privilegiada porque em minha casa sempre vi o meu pai (o homem mais macho que conheço) fazer as tarefas que fossem preciso...
Ah, e o meu (ex)marido tb faria o que eu lhe pedisse, a questão é que nem sequer passava tempo suficiente em casa para fazer fosse o que fosse.
Aquilo no rainha com os profs. de matemática era mesmo uma desgraça, a mim foi no 10º que começaram a descambar.
ó clara, o meu comment não era contra ti, era contra tudo. até, como viste, contra a minha mãe foi.
o que eu acho é que as mulheres têm tanta culpa na coisa como os homens, bolas.
comecem a colocar-lhe as malas à porta de casa e vão ver se eles não piam fininho.
vale uma aposta?
agora se ficarem à espera que tenhamos noção, por nossa própria inicativa, das necessidades que a casa tem, podem esperar sentadas. acreditem, não fomos educados assim.
quanto ao meu post sobre os avós, desisto. ou eu não me fiz entender, ou me fiz entender e vocês (vocês mulheres. não necessariamente, tu, ok?) mandaram para canto ou me fiz entender, vocês continuam a achar que se deve dar primazia à mãe em relação à sogra e então não há nada a fazer.
(fugindo um pouco à lógica - ou talvez não - do post e do que o motivou)
Sabes uma coisa, eu não me sinto capaz de ceder nem um dia da licença de maternidade. Pudesse eu e ficaria ainda mais tempo com eles. Para mim o ideal seria o primeiro ano completo.
Acho mal é que a licença de paternidade não seja maior, isso sim.
Os motivos são mais que muitos e era uma seca estar para aqui a nomeá-los.
E estamos a anos-luz em tanta coisa dos países civilizados, que este ponto é simplesmente apenas mais um.
beijos
Aquilo que obviamente não passou para ninguém era que acho tão justo um bebé ficar com a mãe como com o pai.
Costinhas, quando dizes "ceder" é porque consideras de alguma forma que a licença é tua por direito próprio, mas ela não é mais tua do que do pai.
É verdade. Mas eu tenho motivos muito válidos (pelo menos para mim) que suportam esta a minha convicção.
Mas depois volto, que a esta hora, já estou para lá do aceitável a nível de expor pontos de vista.
beijinhos
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