12.30.2009

old year

quase parece um crime contra a humanidade dizer isto mas o meu 2009 foi muito bom. e estou segura que o 2010 será melhor ainda, a margem de progressão é grande e tudo se encaminha de forma espectacular.
não se preocupem, é tudo questão de gestão de expectativas. para o final deste ano não me faltou dinheiro para pagar as contas e tenho uma pessoa maravilhosa [a minha mãezinha fofinha] que me vai buscar e às vezes levar os filhos à escola. o meu carro não se avariou [muito] e os quilos que engordei ainda não me impossibilitam de comprar roupa em lojas de tamanhos normais.
no meio de tudo isto, ganhei dois amigos fabulosos.

happy new year.

12.28.2009

new year

talvez ainda seja cedo para balanços mas é agora que os faço, nem que seja por medo que a inspiração me venha a falhar posteriormente como é costume nestas coisas com data marcada. para além disso, dou ao meu parceiro de blog a oportunidade de fazer o balanço dele, se tal lhe aprouver, e será [como de costume] bastante mais erudito e interessante do que o meu:

blog do ano: Sete sombras
blogger do ano (XY): Pedro Lomba
blogger do ano (XX): Sofia Vieira ex aequo Lady oh my Dog
post do ano: por acaso gosto mais das bravo-esmolfe
banda sonora do ano: The XX
filme do ano: 500 days of summer [ah mas nem estreou cá...temos pena, é sacar da net como toda a gente]
livro do ano: triologia Millenium [são três, ah pois é, mas "triologia do ano" não ficava nada bem]
acontecimento do ano: o meu filho que aprendeu a ler sozinho [este é o MEU balanço]
vista do ano: esplanada do silk

12.21.2009

Publi-felicidade

Beira-mar. Fim de um dia de sol. Salta um Labrador da traseira de uma carrinha Volvo e corre na direcção de duas crianças lindas. Salta mais e mais. As crianças abraçam-no, por entre risos de alegria. O pai apeia-se do banco do condutor. É moreno, bronzeado e muito bem parecido. Anda pelos 30 anos. Veste um consensual pólo e blusão de cabedal curto. Tem um olhar sólido, fixo na cena das crianças e do cão. A mãe junta-se-lhe. É louríssima, como uma das crianças. Magra e muito fininha. Mãos arranjadas. Sandálias simples e de bom gosto. Mãe e pai juntam-se às crianças. O Labrador salta e late à volta de todos, recortando o sol alaranjado que já enche o horizonte.

O que é isto? É a publicidade a um PPR. É a publi-felicidade.

Uma família. Tudo giro. Um cão a condizer. Uma carrinha.
Harmonia. E um PPR que protege aquela felicidade toda, como um anjo da guarda.O estereotipo vendido pela publi-felicidade corresponde ao ideal de muitos. Senão não seria eficaz. E são muitos os que replicam o modelo do pai perscrutador de horizontes, do cão saltador e da carrinha nas suas vidas.Pode dar-se o caso de o pai ser um filho da ** do pior e da magia já ter regressado à terra do Mago Merlin há anos. Mas a louríssima mãe tolera tudo. Umas vezes enfastiada. Outras esperançada. “Por causa dos filhos”. Por causa dos filhos? Não. Por causa de uma imagem. Porque aos domingos, mesmo que a semana tenha sido miserável, sobe ao palco a pequena encenação da publi-felicidade. No teatro de um restaurante. Quem sabe, de uma esplanada à beira-mar. Oxalá o Volvo não parta o turbo no regresso. O meu às vezes dava chatices. Porque raio temos de parecer todos felizes? E dizer que estamos sempre bem, sempre óptimos, quando nos perguntam? Por recato, em alguns casos. Mas porque a publi-felicidade se arvorou em ideal social, em muitos outros casos. E se uma pessoa se revela menos feliz, macambúzia, pensativa, preocupada, sei lá, ai, cuidado, coitada, pode estar deprimida. Que horror. E agora? No emprego, deprimida? Sair connosco, deprimida? Pode não se rir das piadas idiotas do Carlos. Já não há harmonia no nosso jantar. Ai Jesus. Que diabo, a felicidade não é uma linha recta.

whole in one

mais importante do que estar sozinho ou acompanhado é estar inteiro.
para sempre, até daqui a uma semana, até daqui a dez anos, inteiro.

[não gosto do amor gritado, exibido, declarado nas ruas para estranhos ouvirem, publicitado, escrito em cartazes, anunciado, fotografado. acima de tudo faz-me impressão o amor que é fabricado para completar alguma lacuna]

12.19.2009

same sex

claro que um homossexual pode adoptar uma criança. basta que não seja casado com outro.

[os meus parabéns ao PS, criar este tipo de oxímoros não está ao alcance de todos].

12.17.2009

richter

ainda mais vantagens de viver sozinho: é verdade que a cidade tremeu mas eu estava a dormir e ninguém para me acordar "olha, está a acontecer um tremor de terra neste momento" [e li vários testemunhos de pessoas a quem aconteceu isto].

[para o martim]

12.16.2009

Sozinho, mesmo sozinho

O estado de “sozinho” pode gerar um misto de encantamento e embriaguez.

Falo do estado de “sozinho, mesmo sozinho”.Não me refiro ao estado “sozinho com pontas soltas”. Com coisas por resolver, que vão e vêm. Isso não é estar sozinho. É a pior coisa que há. Essas pontas dão-nos muito trabalho, a tentar atá-las ou desatá-las. Por ali nos consumimos, sem glória nem proveito duradouro. Ficamos focados na ponta e desfocados do que nos rodeia. Perdemos o bom que circula à nossa volta.

Acho que há cinco anos que não estava sozinho, mesmo sozinho. Tudo começa com uma decisão racional. E com um grito dado a nós mesmos. “Haja dignidade, pá !”, por exemplo. Dignidade para não magoar mais quem gostamos muito, mas não o suficiente. Ou dignidade para nos recusarmos a ser mais magoados por quem não gosta o suficiente de nós. Ou então, se for esse o caso, berramos “esta gaja é uma pulha. Não lhe vou perdoar mesmo”. Inscrevemos no nosso cérebro esse mal todo e com ele vacinamos o coração. Inicialmente custa estar sozinho, mesmo sozinho. Mas depois, aos poucos, vamos começando a saborear-nos. Há quanto tempo não nos saboreávamos, é a pergunta que surge à nossa frente. Deixamos de ter “dates”. Começa a ser natural chegar sexta à noite sem nada combinado. Ou sem a pressão de combinar algo. Para marcar espaço.De súbito, tudo se torna simples. Os amigos deixam de dizer “podes trazer alguém” e dizem apenas “vem”. Começamos a sentir um imenso poder. O poder de saber que não dependemos de ninguém. Começamos a ver a beleza à nossa volta. O nosso humor torna-se mais acutilante. Deixamo-nos de merdas. Sentimo-nos disponíveis para o que de novo aí vier. Deixamos de depender do passado. Deixamos de estar à espera e passamos a ter esperança a sério.Podemos vestir sem receios aqueles boxer anti-sexy, mas tão confortáveis, sem receio de que não possamos estar à altura das circunstâncias, porque sabemos que não vai haver circunstâncias dessas.

Nesta quadra de presentes, o sozinho, mesmo sozinho foi o melhor que pude oferecer a mim mesmo. E sorrio, porque amanhã à noite terei a sorte de estar a admirar as iluminações de Natal nos Champs Elysées. Como o ano passado. Como em todos os últimos anos.

Para a Clara, um beijinho

Só porque me apetece muito.

no mirrors

com amigos assim quem precisa de inimigos?

se isto fosse uma coisa à séria e não esta treta entre quase famosos e opinion fuckers agora estava a montar uma banquinha de bilhetes com o reacça.

neste mini circo blogosférico nacional não passa de um drama de pacotilha.

de qualquer forma, aprendemos sempre qualquer coisa que já sabíamos quando se zangam as comadres: que alguns pedros não têm espinha dorsal e outros sim.

charlotte

fosse a minha vida uma vida normal e, à semelhança do Siddharta, andasse em busca da verdade [ou de mim própria, ou do nirvana, ou de qualquer coisa assim do género], teria já vivido na mentira, tentado os caminhos opostos e chegado ao caminho do meio.
mas, por azar, quem escreveu o guião da minha vida não foi o Hermann Hesse mas sim o argumentista do Sex and the City numa bad trip.
por isso, com licença, que vou só ali fugir com um transexual convertido em padre da opus portador de cilícios em ambas as pernas e braços e que anda a monte por ter morto à facada o pai e a mãe por ter descoberto que o pai não era o pai mas sim a mãe e que a mãe não era a mãe mas sim o pai.
volto já.

12.15.2009

tale of escape



[ou eu, aqui]

sid

ao Buda faltava-lhe a verdade por ter sido criado dentro de uma mentira, mas por não lhe faltar casa comida riqueza saúde dinheiro educação, o primeiro sitio onde a procurou foi na religião asceta, onde não existia nenhuma destas coisas. nem a verdade.
sigamos portanto, até ao caminho do meio.

12.14.2009

our heroes don’t overdose on heroin at 27 II



Parabéns [102 anos, hoje].

chat

os meus filhos sentados lado a lado no sofá cada um com o seu laptop ao colo, a insultarem-se um ao outro no chat do facebook. parece perfeito e silencioso. e seria, não fosse o "oh mãe, ele chamou-me jtupida no chat". agora penso que ele aprendeu a ler só para poder insultar a irmã [antes pensava que era para poder falar com o sensei no club pinguim].

[dis]claimer

não é por escrevermos no mesmo blog que eu e o meu co-autor partilhamos necessariamente a mesma opinião sobre os assuntos acerca do qual escrevemos.
isto vale para o post imediatamente abaixo [e para tantos outros].

12.13.2009

Um discurso sublime

O discurso de Obama em Oslo, na aceitação do prémio Nobel da Paz, é uma peça literária e política magnífica.

Moncler: pode a cimeira de Copenhaga salvá-los?




















Depois do post anterior, sinto-me obrigado a escrever algo de mais optimista.
Pois bem: tenho plena confiança na cimeira de Copenhaga. Acredito que vai pôr fim ao aquecimento global. Acredito que vai continuar a fazer frio, como hoje.
E a prova disso é que decidi presentear-me com um anorak Moncler na quinta passada, em Paris.
Seriam uma das espécies não animais vítimas do aquecimento global. São anoraks tão quentes que deixariam de ser fabricados. Mas eu acredito que vou dar uso ao meu por muitos anos. A cimeira de Copenhaga vai ter êxito. Acredito.

12.12.2009

Vamos ganhar menos 10% para salvar o País?

A proposta constante deste post é claramente impopular, mas é o que penso há já uns anos.
Parto do pressuposto que estamos mesmo fritos.
Quando o governo pensava que tinha margem para manter níveis altos de despesa em 2010, com os TGVs e apoios vários, eis que as grandes agências de rating nos colocam sobre outlook negativo devido ao endividamento excessivo e ao défice.
Isso significa, trocando por miúdos, que ou há sinais claros nos próximos meses de que é possível cortar esse défice e endividamento, ou o rating da República é de facto reduzido, como aconteceu à Grécia, que está à beira de um ataque de nervos.
Uma diminuição do rating significa taxas de juro mais altas para todos e crescimento nulo. E o crescimento nulo gera mais desemprego e menos receitas fiscais. E consequentemente mais défice. Estamos presos por num círculo vicioso.
A situação é realmente grave. Não nos iludamos.
Há uma razão central para tudo isto: de 1994 a 2000 os rendimentos nominais dos portugueses cresceram demasiado à custa de despesa pública, subsídios comunitários e crescimento induzido do exterior, sem que se fizesse qualquer reforma estrutural que melhorasse o tecido produtivo.
A globalização que se intensificou a partir do ano 2000, com o crescimento da China, apanhou-nos na curva, com salários altos e uma economia antiquada.
Normalmente, a solução seria uma desvalorização forçada e brutal da moeda, para ajustar a economia. Mas não podemos porque estamos no euro.
Por isso, estamos condenados a uma estagnação prolongada, e até mesmo um declínio, se não aceitarmos todos um grande sacrifício: um ajustamento nominal.
Ou seja, aceitarmos uma redução de salários da ordem dos 10%, para adequar mais os salários ao nível da nossa real produtividade.
Isso seria brutal para muitos de nós, mas teria os seguintes efeitos de curto prazo:
a) reduziria a receita fiscal, é certo, mas a despesa do Estado em salários da função pública reduzir-se-ia também.
b) tornaria, num abrir e fechar de olhos, a nossa mão-de-obra mais competitiva, atraindo investimentos estrangeiros que vão para outras paragens.
c) permitiria uma redução dos custos dos nossos produtos, que poderiam ganhar mais facilmente mercados.
d) permitiria a criação mais barata de novas empresas e o reajustamento das que estão activas.
e) diminuiria o desemprego e, consequentemente, aumentaria o número de pessoas que pagam impostos, aumentando de novo a receita fiscal.
f) o rating da República, com a diminuição do défice, aumentaria e teríamos juros mais baixos.
g) em 4 ou 5 anos poderíamos assistir a uma recuperação dos salários e estaríamos, de forma sustentada, muito melhor do que agora.

É duro, de facto. Mas a vida fácil dos anos 90 do século passado já lá vai e temos de fazer alguma coisa para evitar cair no abismo.


12.11.2009

forever young

sei do dia em que me apercebi disto. passagem de ano de 1999 para 2000, ligeiramente depois da meia noite.
passei esse ano em Maastricht. à meia noite fomos à baixa da cidade, lembro-me que não nevava mas havia uma máquina que atirava neve para o meio da rua. nesse momento eu tinha 25 anos e o meu pai 49. então o meu pai ia comigo na rua e ao passarmos a máquina que atirava neve por uma janela eu disse uma coisa qualquer sobre a passagem do milénio e ele respondeu-me "sabia que este dia ía chegar. toda a minha vida esperei que este momento chegasse, a passagem do milénio. sabia que nesta altura já teria 49 anos, mas nunca pensei que me sentisse tal e qual como quando tinha 25".
foi nessa altura que percebi que a idade era a coisa mais ingrata do mundo, porque quando temos 15 achamos que aos 20 vamos ser mais velhos e sentir-nos de forma diferente, quando temos 20 achamos que vamos chegar aos 30 e ser outras pessoas e por aí em diante. e no entanto, pese embora o facto da idade ser aparente para todos à nossa volta, mesmo que os filhos dos amigos nos tratem por tia [foi o dia em que me senti mais velha do mundo, a primeira vez que isso aconteceu] e ainda que ninguém nos peça identificação à porta de uma discoteca, por dentro ainda temos 15.
pensamos da mesma maneira ansiamos pelas mesmas coisas e mesmo que alguns sonhos tenham já morrido foram certamente substituídos por outros que almejamos exactamente com a mesma veemência. mas nem por isso nos podemos portar como tal.

12.10.2009

real talk

- sabes, o meu filho está apaixonado. é tão comovente.
- diz-lhe que o amor é uma merda e que se vai foder mais tarde ou mais cedo.

- é lindo, ele.
- também não é assim tão lindo. é uma pessoa normal.
- por isso mesmo. as pessoas que andam para aí são todas horrorosas.

- mas agora conheci o homem da minha vida, não quero saber do outro.
- quem é, o homem da tua vida?
- aquele. pelo menos esta semana é. e a próxima. na seguinte não sei, logo se vê.

12.09.2009

small expectations

o problema está aí. nunca vou conseguir ser a gata borralheira/cinderela dos suburbanos, a menina que estudou no liceu de queluz [ou do barreiro] e que ao crescer vai a festas da caras, compra sapatos dourados na gardénia e pulseiras de plástico na marc jacobs. não consigo escrever lugares comuns [o homens são...as mulheres vão juntas à casa de banho porque...] desses que enchem páginas de romances e revistas que as pessoas querem ler. posso culpar a minha mãe, que acha brega a marca da roupa a aparecer, a MRP, a caras e os dourados? posso.
é que estas expectativas seriam normais das pessoas. e provavelmente tornar-me-iam numa pessoa normal.

4 dias em Marrakech



Em Marrakech ainda pode sentir-se a tensão pela ira dos circunstantes na Medina, quando se fotografa indevidamente uma mulher tapada, sabendo-se que um “pardon, pardon!” resolve a coisa, de modo civilizado, sem mais consequências.

Em Marrakech ainda pode sentir-se a adrenalina de nos perdermos por ruas estreitas e labirínticas, tendo a certeza de que, inevitavelmente, alguém senhor de um perfeito francês nos ajudará a encontrar a saída.

Em Marrakech ainda pode conviver-se todo o dia, fora de portas, com a simplicidade de um modo de vida ancestral, por entre esconsas edificações de cor ocre e rosa, e à noite recolher ao conforto de sumptuosos palacetes transformados em hotéis e amenizados ao gosto europeu pela observância dos clichés da estética lounge.

Em Marrakech pode andar-se à noite, vestido para matar, no meio de ruas fétidas e mal iluminadas, em busca dos sofisticados restaurantes que servem as melhores pastillas e tagines, sem que os berberes andrajosos com que nos cruzamos pareçam reparar minimamente nisso.

Marrakech é uma cidade pacífica, de pessoas simples e simpáticas. Marrakech dá-nos a aventura e o exotismo suficientes para sacudir um pouco a nossa rotina sonolenta, sem os reais perigos de uma grande metrópole muçulmana.

12.08.2009

12.07.2009

note to self



daqui


a única coisa pior do que uma pessoa antipática é uma pessoa antipática a tentar ser simpática.

12.04.2009

the fountainhead

é provável que o PBD seja um belíssimo arquitecto e um fabuloso fotógrafo. mas só ele conseguiria descrever a minha cidade favorita como eu a sinto. explicar porque Paris, sendo odiosa e fabulosa, é a minha cidade preferida não é fácil. talvez tenha mais em comum com ela do que gosto de admitir [eu não sou uma pessoa simpática, lamento].

12.02.2009

cigarrete break

não fumo mas tenho inveja das pessoas que fumam e descem as escadas para a pausa do cigarro, abrem a porta e mesmo que chova respiram o ar frio da rua misturado com o do cigarro.
como não tenho motivo para fazer pausas, a cada pequena contrariedade [e são tantas] fecho a janela e abro outra. a do reader. a do mail. a do face.
não fumo porque quando fumava doiam-me os pulmões como se estivessem a rebentar e para que não me rebentassem os pulmões [sempre achei que ia morrer assim, afogada em liquído dos pulmões] deixei de fumar.
há-de me rebentar o cérebro e quando isso acontecer estarei certamente aqui sentada, pedaços de crânio vão sair projectados a 12.000 rpm e furar o tecto e as secretárias das colegas de sala. pedaços de massa cinzenta sairão a alta velocidade em todas as direcções formando um ângulo de 360º à volta da minha cadeira e há-de vir o homem do CSI analisar o perímetro e ao ver o angulo de 360º há-de escrever no relatório "explosão cerebral espontânea" e há-de segredar ao colega "ao menos se tivesse feito umas pausas para fumar".

11.29.2009

Pedro Mexia e a Cinemateca Portuguesa

Prólogo: Desculpa, querida Clara...

Pedro Mexia é uma das pessoas mais interessantes da geração dos trinta anos. É muito culto, polifacetado, muito inteligente, escreve muito bem, tem um humor sofisticadíssimo e um charme pessoal que lembra o de um cavalheiro inglês.

E consegue preservar-se. É raro o que diz ser posto em causa por quem quer que seja.

E é ainda director interino da Cinemateca, desde que João Bénard da Costa nos deixou.
Nessa qualidade escreveu o seguinte no website da Cinemateca, sobre a instituição que dirige:

"A Cinemateca deixou de ser um edifício administrativo com um cinema ao pé da porta. Agora é, toda ela, dos espaços subterrâneos aos espaços das cúpulas, um pórtico. Falta abrir a última das sete portas dele e continuar o percurso para o Museu com que sonhamos.
Quando esse Museu existir, o tempo da imagem e o espaço do imaginário confluirão no perpétuo movimento do começo e do retorno".


Creio que se trata de um overstatement literário de Pedro Mexia.

A Cinemateca é um espaço muito agradável e tem um acervo magnífico de filmes, mas é tudo menos um pórtico, na perspectiva do comum cinéfilo, que faça outras coisas além de gostar de cinema, como por exemplo trabalhar.

Não falo apenas de uma programação talvez desordenada e discutível, que isso é subjectivo. Falo de coisas simples, objectivas que qualquer um entende.

Depois de gabar a uma amiga o excelente "Unconquered", de Cecil B. de Mille, com Gary Cooper, descobri que passava na Cinemateca este Novembro. Feliz fiquei por poder partilhar com ela o filme.

Azar. Consulto o programa e passa às 15,30 no dia 4, quarta-feira.

Ela é banqueira de investimento, mas podia ser funcionária numa repartição, designer, whatever. Não dá para ir a essa hora. E o filme não repete.

"E que passa ao fim do dia? Se for às 19h já posso", diz-me ela.

Num horário mais acessível a todos deve haver um filme igualmente apelativo, pensei. Consulto o programa. Às 19h passa "El Crimen de la Pirindola", de 1965, Espanha. El Crimen de quê? Pode ser bom, penso com os meus botões, mas nunca ouvi falar. Até percebo de cinema, mas nunca tinha mesmo ouvido falar. Mas porque será que não puseram a Pirindola às 15,30 e o Unconquered às 19h?

Não desistamos. Descubro que no dia 6, pelas 21,30 passa o magnífico "Guess who's coming to dinner", de Stanley Kramer, e convido a minha amiga. A essa hora já dá. Perfeito. Vejo o horário da bilheteira.

A bilheteira funciona num horário limitadíssimo, entre as 14,30 e as 15,30 e as 18,00 e as 22.
E não se pode comprar bilhetes pela Internet. Incrível. Na época da Web 2.0, a Cinemateca ainda continua a vender bilhetes com os métodos usados aquando das estreias dos filmes que projecta.

Eu e a minha amiga trabalhamos perto do Marquês, mas não dá para ir comprar bilhetes às 14,30. Ela já está em frente aos monitores das cotações a essa hora. Combinamos um encontro às 19,30, junto à bilheteira. Compramos bilhetes e vamos picar qualquer coisa ao novo Luca, digo eu, meio satisfeito por lhe ter feito um sibilino convite para jantar. Jantar e filme. Um date completo.

Azar outra vez. Os bilhetes já tinham esgotado entre as 14,30 e as 15,30. E a Cinemateca está cheia de americanos que vivem em Lisboa. Pudera, com este filme... Filme que não repete. Não temos outra oportunidade para o ver.

Gostava tanto, mas tanto, que a enorme energia criativa de Pedro Mexia se pudesse também focar também nestas coisas , como direi, comezinhas. Bilheteira electrónica, horários mais acessíveis e repetição de filmes que se prevê poderem esgotar não é nenhuma coisa que se encontre no Faust de Goethe, mas é tão importante para as pessoas que utilizam instituições públicas como a Cinemateca....

(advertência final: os casos contados são imaginados a partir do estudo da programação de Novembro, mas tive experiências reais deste tipo mais de uma vez)

O Dubai aqui tão perto.



Já estive para ir ao Dubai, uma das sete cidades-estado que compõem os Emirados Árabes Unidos. Mas a ideia acabou por não me entusiasmar.
Qual era o objectivo? Sol e praia.
O Dubai praticamente não tem petróleo. Os rendimentos das actividades em torno do ouro negro representam apenas 2% do PNB. O resto vem de uma intensa actividade imobiliária, turismo e investimentos financeiros. O Dubai é uma praça livre para a actividade financeira e para o comércio, através do tão divulgado DIFC (Dubai International Financial Center), para a direcção do qual foram contratados especialistas europeus de renome.
O Dubai acalentava sonhos de expansão megalómanos no imobiliário e no turismo.
Naquele pedacinho de areia, sob um sol inclemente, projectam-se ilhas artificiais, em forma de palmeira. Constroem-se torres arrojadas que glosam as alturas de Manhatan. Constroem-se enormes pistas de ski indoor.
Em suma, desafia-se a ordem divina. Estende-se a terra para o ar e mar, traz-se a neve ao deserto. Planta-se finança em terra das tâmaras. Planeia-se um concentrado de mundo num espaço mínimo. Uma cidade global, diziam os dirigentes locais.
E como? Da mesma forma de sempre. Faz-se isso com o dinheiro de todos nós. Sim, com o dinheiro do mundo. Com títulos de dívida espalhados por todo o sistema financeiro. Mais pela Ásia e Inglaterra, eventualmente.
Os empréstimos obrigacionistas das empresas do Dubai atingem o valor colossal de oitenta mil milhões de dólares.
Menos, é claro, do que os seiscentos e treze mil milhões do Lehman Brothers no momento do seu ocaso, o ano passado, mas muito, muito para a dimensão do Dubai.
E pronto. A bolha estoirou, porque o imobiliário caiu dramaticamente. A Dubai World, há três dias, anunciou uma moratória unilateral no pagamento da sua colossal dívida. Pago mais tarde, lá para Maio, disse. Todos esperavam a massa em 14 de Dezembro, antes do Natal.
Nem tão cedo a confiança será reposta e as palmeiras poderão continuar a crescer em paz, agora livres do perigo de substituição por imitações de Alpes ou de pirâmides Maias.
Mais uma lição para todos nós. Há pequenos, médios e grandes Dubai espalhados pela Europa, do Algarve à Grécia. Empreendimentos turísticos megalómanos, financiados com dívida, tantas vezes numa modalidade chamada project finance (que se caracteriza por colocar o risco do lado dos financiadores), crescem por todo o lado junto ao mar, violando as regras elementare do bom-gosto e apresentando uma sustentabilidade financeira muito discutível.
É só olhar à nossa volta.

11.27.2009

mentally challenged

Then have him write you a novel while he’s at it.

não me entendam mal, eu gosto daquilo que faço. pelo menos, a maior parte do tempo. a outra parte do tempo é aquela que a minha entidade patronal chama "um desafio".
pense nisto como um desafio, e a pessoa já sabe que vai passar 5 dias a fazer uma coisa e depois 10 a refazer a coisa porque a pessoa que devia ter fornecido os conteúdos não esteve para isso e chamou "um desafio" ao facto de eu ter de fazer o trabalho dela.
para a próxima trocamos, se eu tenho de fazer os conteúdos, a pessoa tem de se sentar aqui e com os programas de desenho [de merda aliás] que me forneceu faz a forma.
vamos pensar na coisa como "um desafio" para ela.

11.26.2009

private post II



na sequência deste post, vejo-me desafiada a escrever mal do blog do rui. eu gosto de desafios mas alguns revelam-se particularmente difíceis, para não dizer impossíveis. não posso apontar nada ao blog, a estética é irrepreensível, o rui escreve para caraças [posso dizer isto aqui?] mas demora demasiado tempo entre posts, escreve cada vez menos e isso não me parece nada bem. nem que fosse postar umas fotozinhas de vez em quando, só para encher [truque que eu praticamente nunca utilizei].

a foto é dele e lembra-me incontornavelmente o jack.

secrets

mãe, eu conto os meus segredos todos todos todos à Madalena.

aos 5 anos está lá tudo, da maneira certa, limpa, clara, sem qualquer dos enrodilhanços que vamos passar o resto da vida a fazer. não podemos [todos] voltar aos 5?

[o meu filho apaixonado aos 5 é tão comovente].

11.25.2009

hot summer*



hoje o meu cabelo está totalmente Daria. pena que o resto nem por isso.

*[já tinha dito que nasci no Verão Quente?]

hot summer



nasci no Verão Quente. acreditasse eu que a data de nascimento está de alguma forma ligada à personalidade que viremos a desenvolver e seria eu agora uma pessoa apaixonada na defesa das minhas causas, caótica, em auto gestão e seria provável que plantasse algumas ocasionais bombas em sedes inimigas. não é de todo o caso, sou uma pessoa que não tem causas, nem inimigos e cujo único objectivo de vida é que a deixem em paz.
por alguma curiosidade histórica gostaria que os poucos meses que mediaram o meu nascimento e o dia que hoje completa 34 anos me permitissem devolver algumas memórias da data. não é o caso. à laia de compensação o meu pai garante-me que me levou ao colo a uma cooperativa de qualquer coisa.

11.24.2009

love is

ligarem-nos e mandarem sms e convidarem-nos para a festa de anos deles.

[m., 10 anos]

love is

namorar e casar e fazermos aquilo que não queremos fazer.

[du, 5 anos].

11.23.2009

E pensamos em quê, quando o avião "borrega"?

Hoje, segunda-feira. Voo TAP das 8.00 da manhã para Bruxelas. O comandante avisa que há chuva e vento forte à chegada. Já sei o que isso significa. Bananal, como dizem os marítimos no Algarve.
Estou estoirado e ainda só são 8 da manhã. A reunião é muito importante e mal dormi a pensar em tudo. O amanhecer em Lisboa está lindo, mas sobre o o Tejo há uma neblina espessa. Nunca tinha visto nada assim do ar. A cidade perfeitamente visível e o Tejo rigorosamente recortado por neblina. Belo.
Os céus do Norte da Europa estão diferentes. Escuridão e nuvens tétricas. O avião abana por todos os lados. O "approach" à pista falha. Quase com as rodas na pista, o avião dança violenta e desajeitadamente, como um pézudo. O piloto põe os motores a fundo e levanta voo. O avião parece um folha de papel ao vento. Há credos em todas as filas. O piloto anuncia que vai tentar outra a aterragem. Tentar?Antes tem de conseguir subir.
E pensamos em quê nessa altura?
Alguns puxam dos telemóveis, talvez a pensar num derradeiro sms.
Pelo meu lado, talvez gostasse de pensar na minha filha, mas não tenho. Ou na minha namorada. Mas não tenho.
Em que pensei quando o avião borregou? Pensei no trollei de couro que habita no hall do apartamento, sempre preparado para mais um viagem. E na roupa, arrumadinha, espalhada por todos os roupeiros do T3 -um pouco original monumento ao celibato. E perguntei se vale a pena. Já com os pés em terra, no táxi a caminho do escritório, sob um dilúvio como não me lembro em Bruxelas, concluí que sim. Mas que é possível fazer algumas afinações. There gonna be some changes. No próximo fim de semana livre vou vagar um roupeiro. É um gesto de boa-fé para com terceiros.

love is

chorar muito porque a rapariga de quem gostamos se foi embora sem se despedir e nem viu a nossa pintura facial.

olhar para um osso de dinossauro fossilizado e dizer "isto é muito muito muito interessante".

[aos 5 anos o amor existe, aos 10 já está revestido por uma série de distracções e não se distingue bem, aos 34 está tão tristemente ligado aos momentos que vimos em filmes que o melhor é nem ir por aí].

11.22.2009

Ich bin ein Eltviller



4 dias em Eltville parecem 4 semanas.A mesma rotina. Acordar bem cedo no quarto da espécie de residência universitária despojada. Não há televisão. Apenas mobiliário de pinho tipo quarto de crianças do IKEA. Funcionalidade. Olhar para o mítico e wagneriano Reno. Pequeno almoço frugal de pão escuro, fruta e queijo. Trabalhar. Passear pela cidade de casinhas independentes e jardins, com o travejamento de madeira pintada à vista, tão tipicamente alemãs. Um estilo imutável do século XVI ao século XIX. Apartamentos? Nada, ou pouco. E pouca iluminação nocturna. Céu vibrantemente estrelado. Muito comboio. Muitos Renault, Volkswagen, Toyotas e Opel. Muito comboio. Poucos Mercedes, BMW ou Audi, que isso é mais em Lisboa. Muitas lojinhas. Muitas. Poucos supermercados modernos. Não encontrei sequer recargas Gilette e a pele da minha cara, mal habituada, devolveu-me uns cortes jeitosos à passagem das lâminas Prinz, ou Prince (nunca tinha ouvido falar). O tempo parece parado. Há muito silêncio. As sonoras e francas gargalhadas das minhas colegas italianas tornam-se assim muito mais presentes. Correr no passeio junto ao Reno e cruzar-me com pessoas que passeiam vagarosamente os seus pastores alemães. Muitos pastores alemães, de focinho grave e calmo. Viajo, muito, ao ponto de estar muito cansado de estar sempre a partir, ou se calhar sempre a chegar, mas desde ontem trago Eltville no coração. Pronto, o café é mau.

11.20.2009

O Nome da Rosa

(Um post que evita o mais possivel as palavras sem acentos devido ao teclado alemao).
Ontem tive uma noite magica. Ou melhor, tivemos. Eu e a Mara, a Anna Maria, o Marc, o David, a Nicole, o Bob, o Horst, a Emanuela e a Anne-Sophie.
Estivemos no mosteiro de Eberbach.
O local onde Sean Connery disse nunca ter sentido tanto frio, quando protagonizou a adaptacao ao cinema d'"O Nome da Rosa".
A historia passa-se num mosteiro em Italia mas foi Eberbach, ao pe de Eltville, na Alemanha, o escolhido para acolher as cenas do filme.
Nao ha palavras para descrever uma visita a Eberbach numa noite gelada. Uma beleza despojada, simples, mas absoluta. Uma beleza impiedosa, que exigia rigor e provacoes sem fim aos monges beneditinos que lhe fizeram votos de fidelidade. Mas que lhes protegia as enormes pipas de Riesling sob os magnificos arcos romanicos e goticos. E que testemunhava a qualidade do vinho, cobrindo as paredes de manchas de fungos vinicolas, ainda hoje tao presentes.
Percorrer aquele mosteiro a noite, com um copo de vinho na mao, por entre luz palida e sombras, numa visita so para nos, e inesquecivel. Ha dias tao bons....

sad but true

perdi um amigo para salvar a minha sanidade mental. porque quase sempre a vida é feita de escolhas merdosas.

Photo shop



daqui

retomo o tema do post anterior [é coisa para dar assim uma série infinita de posts].

adoro quando, olhando para uma fotografia como a de cima, oiço alguém dizer "isso é photoshop". eu trabalho todos os dias com o photoshop. não sou nenhum génio do photoshop, sou uma pessoa que usa o photoshop para trabalhar [todos os dias]. aqui há uns 9 anos, quando aprendi photoshop, gostei muito daquela ferramenta "magic wand". mas isso foi antes de descobrir que aquilo não se usa porque não transforma fotografias minhas em fotos como esta, limita-se a seleccionar pixeis da mesma cor ou semelhante.
[passa a ser um segredo nosso, mas o photoshop só suaviza, ajuda na luz ou pode apagar pequenas coisas, milagres não faz].

11.19.2009

bring it on

a maneira como nós [mulheres] olhamos umas para as outras, nos criticamos e nos invejamos é uma coisa assim um bocadinho para o deprimente.
é espreitar a caixa de comentários deste post da kitty [rapariga que leio com gosto, diariamente]. a quantidade de mulheres que acha a helena coelho "banal e com pele péssima" e a claúdia vieira "parola cheia de silicone" não deixa de me chocar. peloamordedeus, são duas mulheres lindíssimas, uma [ou ambas, sei lá] pôs silicone, pois fez ela muito bem, eu também poria se pudesse, qual é o problema? deixou de ser bonita porque tem silicone, querem ver? temos de ser todas muito naturais. é por isso que não vamos à depilação, pintamos o cabelo, usamos maquilhagem, saltos altos e soutiens almofadados.
querem ser naturais, be my guest, eu vou continuar a sonhar com o silicone.

put me out of my misery



icanread

tantas vezes repeti que não queria que acabou por ser mesmo assim. não quero.

can we?



icanread

até aquela altura em que não nos conhecíamos. e ficar assim para sempre.

11.18.2009

on the other hand

este Pedro ficou particularmente desinteressante* quando se tornou uma "pessoa conhecida". tudo parece rodar à volta disso agora, de "pessoas conhecidas". como a Caras em versão intelectual. ser "conhecido" e escrever bem são aparentemente características incompatíveis.

*o blog, não a pessoa, que desconheço de todo.

heart break

coisas incríveis não há?

infelizmente sim. e não se pode fazer um referendo/petição/demolição pública?

isto é pouco, mas é o que há. é assinar.

[um dos comentários da notícia do Público, que subscrevo na íntegra, diz "simplesmente a igreja mais feia que já vi na vida, nem Deus quer lá entrar"].

cold turkey*




o meu sonho menos original de todos é ser fotografada pelo sartorialist ou pelo alfaiate. o meu desejo de fama é muito modesto em quantidade mas pouco em qualidade.

*forçada a largar o facebook.

11.17.2009

these days

arrasto-me sem vontade. pairo. não penso. dispenso. tenho sono. não tenho fome. atribuo tudo à falta de férias. é tão bom ter um alibi para tudo. é falta de férias pouco sono excesso de trabalho pensas demasiado não pensas o suficiente teres de fazer tudo sozinha há-de haver sempre uma maneira tão simples de justificar a nossa insuficiência. eu não chego. só isso.

11.16.2009

these days

há dias em que tudo parece impossível.

fashion

de todas, as maiores vítimas da moda são os homens.

[porque o Pedro e o Pedro são os maiores escritores da bloga, para mim].

nice



via Suction

isto é tão tão bom.

whatever gets you through the day



foto Sara Dunn

o meu mantra é ainda o dos drogados um dia mais, só mais este dia, tenho agora noção que somos todos, ninguém aguenta a vida sem fugas, whatever gets you trough, jogo compras droga noites sexo alcool música filhos viagens televisão filmes jogos virtuais centros comerciais concertos internet revistas de moda jornais política ginásio, whatever gets you trough, e de repente o mundo divide-se entre os que se perdem e os que se encontram no meio de tudo isto, whatever gets you trough, viciosos somos todos, até mesmo os que enfiam um cilício na perna.
olá, eu sou a Clara e sou viciada em fotografia*

*[com certeza não esperavam que eu aqui confessasse os meus verdadeiros e perniciosos vícios]

11.13.2009

home

aqui na bloga [como na vida] há pessoas com problemas. acontece que por aqui algumas dessas pessoas sentem-se, sei lá, à vontade para espraiarem os seus complexos sem qualquer tipo de filtro assumindo, sei lá, que ninguém descobre que são elas. algumas serão bem sucedidas. para outras a necessidade de aparecer é tanta que voltam sempre ao mesmo papel, mesmo que já andem no 20º blog e nick. há dias em que, como hoje, tenho medo de cá andar.

Cara Tapada

Esta noite sonhei que vivia num País em que só havia pessoas francas, limpas, leais e honestas. Sonhei que, dada a honestidade colectiva e o uso generalizado do email, toda a gente vivia feliz, menos as fábricas de envelopes.
Estes curiosos artefactos de papel, cuja função primacial é o de envolver algo, escondendo-o ou protegendo-o, deixaram pura e simplesmente de ser vendidos.
A procura cessou e quem os produzia teve de se dedicar aos cartões de Natal e de Aniversário, com renas, pinheiros nevados e grandes corações vermelhuscos.
E a felicidade geral aumentou, pois toda a gente trocava estes cartões sem nada que os escondesse, às claras, manifestando abertamente os sentimentos sem receios.
Quando acordei, estremunhado, com o noticiário da TSF, fiquei triste.
A primeira notícia era, precisamente, sobre o consumo crescente de envelopes. E todos os jornais falam disso outra vez, pela enésima vez esta semana.
Triste. E paradoxal. No país do plano tecnológico continuar a usar-se muito o envelope de papel...

11.12.2009

just around the corner

ali em baixo num comentário um anónimo [ou não] convidou-me para café. imaginei que pudesse ser uma de quatro pessoas. duas delas não tinham nenhuma piada ao escrevê-lo. outra era nojenta se o fizesse. a quarta teria mesmo imensa graça.
quase que aposto que não foi nenhuma dessas quatro.

non sequitur II

agora [por já não ser verdade] posso dizer-te escrever-te mandar-te email ligar-te gritar-te abraçar-te sussurrar-te pedir-te convidar-te avistar-te.

agora [por já não ser verdade] amo-te.

[post dedicado a 3 amigos e um conhecido].

11.11.2009

default

eu tenho um amigo que é tão meu amigo que até quando eu digo que falo demais [a mais absoluta verdade] me responde que isso faz parte do meu charme.

[eu detesto cada um dos meus defeitos mais do que qualquer outra pessoa, descansem]

love is



James Knight-Smith


do ponto de vista marxisto-patético o amor é um capricho burguês que pode ser contrariado com um reforço ideológico. do ponto de vista anarco-conservador quaisquer 50€ compram isso às 3 da manhã.

[gesto meio patético de agradecimento pela amizade do Jorge - porque eu não sei exprimir sentimentos - obrigada].

11.10.2009

adopt me



Andy Spyra

às vezes eu tinha frio e eram as tuas palavras que me envolviam como uma manta.

11.09.2009

non sequitur

o problema da "experiência de vida" é que quando chega é sempre tarde demais para se aplicar ao objecto que a ensinou. na prática é como aqueles cromos que se vão colando na caderneta com o mero objectivo de a completar. sabemos que não a vamos acabar. sabemos que, mesmo completa, não serve para nada. e no entanto andamos a comprar carteirinhas.

11.06.2009

love


o meu amor às fotografias é tanto que sacrifiquei a estética do blog para as poder ter maiores.

[claro que o amor não é isto. alguém que saiba o que é faça o favor de me explicar sem poeminhas. ou vão ter de continuar a aturar estes posts estúpidos].

11.05.2009

Descodificador de blá-blá-blá político

Quando algum responsável público ou empresarial diz:

a) “essa situação é delicada mas estamos a acompanhá-la com atenção” isso significa “não estamos a fazer rigorosamente nada, ou porque não é da nossa competência ou porque não temos meios, mas não o podemos admitir”.
b) “A solução dos problemas passa pelo aumento da competitividade e produtividade e pela aposta nas novas tecnologias” isso significa “não faço a mínima ideia sobre o que se deve fazer. Socorro!”.
c) ”não vamos abandonar este projecto porque ele é estratégico para o País” isso significa “vamos enterrar dinheiro até mais não nisto e vamos averbar prejuízos colossais, mas agora já não recuo possível, senão perdemos a face”.
d) “Portugal (ou a nossa empresa) tem de encontrar uma ambição, um desígnio, uma ideia mobilizadora” isso significa “não tive a mínima hipótese de preparar este discurso ou esta apresentação com tempo. Desculpem”.

or two



daqui

11.04.2009

as pessoas se ouvissem as minhas conversas de pequeno almoço achariam muito mal de mim. o provável é que já achem muito mal de mim. siga.



era só isto.

lemon curd

todas as separações sabem a limão.

eu gosto do sabor a limão.

Distorção



Ilha da Boavista, 2003, com objectiva fisheye.
A fisheye comprime todo o nosso campo de visão no pequeno espaço do negativo e provoca uma dramática distorção da paisagem. Por isso deixei de a usar. Talvez seja sinal de maturidade admitir que não abarcamos tudo sem pagar o preço da distorção. Se calhar não vale a pena querer contextualizar sempre as coisas. Acabamos por as distorcer, no esforço de as compreender. Se calhar vale a pena olhar apenas para a igrejinha e dizer "é uma igrejinha mesmo, pode ser bela, está em ruínas mas podemos reconstruí-la". Se calhar é melhor não cedermos à tentação de considerar também a paisagem desoladora para concluir que uma capelinha no deserto não vale a pena. Se calhar isso é distorcer as coisas.

11.02.2009

private post*

a questão metafísica é: se eu escrever um post a criticar o blog do rui será que ele me convida para tomar café?

*para a Isabel [para o Rui também, mas isso goes without saying].

unhappy

hoje posso passar o dia todo a queixar-me. estou verdadeiramente infeliz. ah preciso de uma razão? posso imaginar várias. tal como as outras pessoas do mundo tenho razões para estar infeliz.

10.30.2009

hands on



daqui

faço as pazes com o meu corpo demasiado anguloso - sem formas voluptuosas nem arredondadas, sem interesse - nas fotografias de modelos.

[as pessoas magras têm complexos, as pessoas bonitas têm complexos, as pessoas inteligentes têm complexos. todas as pessoas têm complexos. só que algumas não o podem confessar].

toothache



daqui

ela pergunta porquê e eu a explicar-lhe que
- ah e quando eu queria fazer qualquer coisa, ir a algum lado, ele nunca vinha comigo, nunca queria vir.
- então não era seu amigo, mãe, a Mariana até à casa de banho comigo vem, se eu lhe pedir.

e de repente saudades das amizades de adolescência, da entrega completa, total, sem medo de, sem restrições auto impostas. não sei bem porquê, se no fundo eu continuo a viver estas coisas da mesma maneira. como se tivesse dez anos.

10.29.2009

love is

estar a enviar um mailling para 5.000 pessoas e sorrir ao descobrir o nome dele no meio daquilo tudo. sorrir para um monitor de computador como uma pessoa idiota. e parar nesse nome. só para o poder escrever duas vezes, uma vez à mão, outra no teclado, como uma pessoa estúpida.

[claro que o amor não é isto].

reminder



daqui

comprar shampoo.

10.28.2009

Bagdad Bob


Alguns ainda se lembrarão de um Ministro-clown de Saddam Hussein, o Ministro da Informação Muhammad Saeed al-Sahaf.

Sempre que aparecia na televisão, na II Guerra do Iraque, em 2003, dizia coisas absolutamente apalhaçadas para justificar o que se passava no campo de batalha.
Uma das mais divertidas foi esta:

It has been rumored that we have fired Scud missiles into Kuwait. I am here now to tell you, we do not have any Scud missiles and I don't know why they were fired into Kuwait.

A sua principal característica era pintar cenários côr-de-rosa e de vitória para as tropas iraquianas no combate com os americanos. Já com as tropas americanas dentro de Bagdad, disse que os iraquianos estavam a dar-lhes tanta tareia que os soldados americanos se suicidavam aos milhares nos muros da cidade:

I can say, and I am responsible for what I am saying, that they have started to commit suicide under the walls of Baghdad. We will encourage them to commit more suicides quickly.

Outra fantástica:

Now even the American command is under siege. We are hitting it from the north, east, south and west. We chase them here and they chase us there. But at the end we are the people who are laying siege to them. And it is not them who are besieging us.

No fundo era um optimista, um alheado da realidade.

Admito mesmo que, em certa medida, acreditasse em algumas coisas que dizia. Lembro-me muito dele. I miss him. Mas não sofro muito com isso, porque todos os dias há políticos que têm tiradas dignas daquele maravilhoso truão e que se encarregam de me matar saudades.

Há sinais claros de que a direcção do PSD tem vindo a passar à imprensa, de forma muito discreta, a ideia de que os resultados da passagem de Manuela Ferreira Leite e da sua equipa à frente do PSD até foram muito positivos. A edição de ontem de um jornal dava eco desse balanço positivo.

O propósito destes recados não é divertir-nos. É tão simplesmente o de preparar a sucessão de Manuela e justificar a entrega do partido a alguém da sua equipa, descartando a necessidade de uma renovação. Se a coisa até foi boa, em equipa que ganha não se mexe. Olha o caso do meu Sporting.

10.27.2009

works on paper

Entre homens e mulheres, as amizades tendem a não ser muito mais do que falhas de comunicação.

[é lamentável mas quanto mais depressa encararmos a verdade, mais rapidamente a vida segue o seu curso tranquila, com os ocasionais sobressaltos que lhe assistem].

10.26.2009

Os pássaros são assustadores?

No sábado passado consegui obter esta imagem na Piazza Navona.
A extraordinária organização deste gigantesco bando de pássaros fez-me lembrar, por um momento, os outros pássaros, os "Pássaros" de Hitchcock.

10.25.2009

Julgamentos morais sobre a conduta de terceiros

No princípio dos anos 50, no ambiente moralmente opressivo de uma pequena Universidade Americana fundada pela Igreja Baptista, Marc Messner, um jovem filho de um talhante kosher, que se dedica ao estudo e nada mais que ao estudo, engraça com uma colega bonita mas completamente diferente do comum e que frequenta as mesma aulas que ele.
Os pais dela, Olivia, de seu nome, são divorciados. Ela ela teve um problema de bebida e tentou suicidar-se. Um cocktail explosivo face à mentalidade ainda muito limitada da América profunda de cinquenta.
Assim que ganha coragem para a convidar para jantar, Marc, completamente inexperiente, sente-se dominado pelo desejo e, no regresso a casa, pára o carro e ousa, um pouco a medo, o contacto físico. Ora, pois Olivia não só não resiste como se mostra partilcularmente activa e desinibida.
Marc está cheio de ideias modernas, é ateu, lê Bertrand Russel e tem alguma intolerância para com os colegas normaizinhos. Mas isso não o impede de cair numa armadilha moral, que vem a condicionar todo o seu destino.
O que Olivia faz dá-lhe prazer, mas ele considera-a uma galdéria por o ter feito, e afasta-se dela.
Quando se reencontram por acaso, ela explica-lhe que fez aquilo porque gostou dele. E diz-lhe: "Eu-quis-dar-te-aquilo-que-querias. São palavras assim tão difíceis de entender"?
Philip Roth, no excelente Indignação, recentemente traduzido para português, ao contar esta história, evidencia uma verdade moral simples: dos relacionamentos íntimos à política, passando pelos pequenos favores ou condescendências que recheiam a nossa vida social, é uma hipocrisia condenar moralmente aqueles que fazem algo que que mais não é que aquilo que, no fundo, apenas corresponde ao que procurávamos e desejávamos.


10.23.2009



Nathan Coley

e se eu já tiver esgotado o número de pequenos milagres que me estão reservados?

on my way

estou assim sempre. a caminho de. ainda aqui sentada, a minha alma - cansada de ser sexta feira - já se pôs a caminho de casa [Gotas de abacinhos, mãe?] e está a passar no sítio mais feio de lisboa, com o nome mais deprimente que conseguiram arranjar mas que se lhe adequa como uma luva [buraca]. falta tão pouco para chegar a casa e ter os teus braços no meu pescoço [mãe, posso dar-te um beijo na boca?]

birthday



foto Helmut Newton


o meu colega de blog, Martim, faz anos.
os meus parabéns e eternos agradecimentos por partilhar comigo esta viagem que até para mim, em certos dias, se torna tremendamente aborrecida.

10.22.2009

silly season

já chove. tenho frio. olho para o edredon na dúvida. gosto tanto do meu edredon. é mesmo a única coisa de que gosto no inverno. também gosto um bocadinho dos saltos muito altos de algumas botas de inverno.
parece-me que a silly season já terminou. por isso vamos começar a ignorar as polémicas do anúncio, da Maitê e do Saramago e começar a pensar em coisas sérias. como isto.

10.21.2009

love me or leave me

true blue

à medida que envelhecemos a verdade vai-se tornando uma espécie de incómodo que urge purgar aos pedaços. dizê-la inteira e sem analgésicos a alguém não passa de uma brutalidade insensível.
queremos a verdade mas não aguentamos a verdade.

10.20.2009

the usual suspects

- tens tanta piadinha. se calhar quando cresceres não vais ser actor, como diz a Isabel, mas sim palhaço.

- nem pensar, mãe. eu gosto de dizer piadas mas é de fixes.

- [suspiro].

wishlist









10.19.2009

too litlle too late



Dita e Scarlett

quando somos novos inexperientes ingénuos inocentes ou seja lá o que for, achamos sempre que aquela vez há-de ser a única última maior desesperada para sempre.
depois crescemos e descobrimos que atrás de uma vem outra. e depois outra. isto parece fixe e dá-nos um aspecto muito moderno, sempre cool e sem grandes dramas.
mas, make no mistake, o que nós gostávamos mesmo era de ainda ter capacidade de acreditar que aquela havia de ser a única última maior desesperada para sempre vez.

10.18.2009

A aspirina com Coca-Cola é uma droga fatal?

Antes do 25 de Abril, havia uma coisa chamada “condicionamento industrial”. A ideia era simples: a instalação de indústrias de relevo dependia de licença ou autorização mais ou menos discricionária do governo, que a negava quando os interesses da Nação estivessem em perigo.

O esquema protegia os grupos económicos nacionais da concorrência internacional e permitia que prosperassem à sombra da bananeira, mesmo se economicamente ineficazes. Foi por isso, por exemplo, que a Coca-Cola só entrou no nosso País em 1977. Antes era bebida non grata para o governo do Estado Novo.

Para ajudar à festa, espalhavam-se falsos rumores que atingiam a honorabilidade da marca. Lembro-me bem, ainda muito pequenino, para aí em 1973, de, no banco de trás do Fiat 850 Special Sport amarelo torrado da minha tia, ouvi-la contar à minha mãe sobre a pedrada fatal que uns jovens tinham apanhado em Angola por terem misturado Coca-Cola com aspirina. Um perigo, um perigo. As crianças não esquecem as histórias de terror.

Depois do 25 de Abril, os grupos económicos instalados com a protecção do Estado foram nacionalizados e os empresários perseguidos.

Por causa disso, na segunda metade da década de 70 e primeira da década de 80, podia dizer-se que havia uma clara e renhida luta de classes no País, com radicais clivagens ideológicas e sociais.

O CDS e o PSD, por exemplo, eram partidos muito ligados à agenda dos grandes empresários e para a restauração do capitalismo de mercado, pugnando pelas reprivatizações.

As nacionalizações provocavam uma divergência fundamental entre o CDS e o PSD, por um lado, e o PS e o PCP por outro, já que estes últimos as defendiam com unhas e dentes.

Quem ia a Cascais às discotecas, nos anos 80 não encontrava “betinho” de pullover Ted Lapidus à volta da cintura que não fosse do CDS ou do PSD e que não odiasse os “súcias” e os “comunas”.

Entretanto, no final dos anos 80, princípios dos anos 90, o Estado devolveu aos grupos económicos perseguidos aquilo que ilegitimamente lhes tinha expropriado.

E pronto. Acabou-se a razão para a luta de classes. Na posse do que era seu, os empresários deixaram de ter agenda ideológica. Deixaram de se importar com o capitalismo de mercado. O ideal era que o Estado os protegesse, como dantes. Não com o condicionamento industrial, que esse não é já possível no mundo globalizado e na União Europeia. Mas, por exemplo, gerando encomendas e contratos.

Para este tipo de ajuda os empresários já não precisam de um partido específico, de classe. Isso até é mau. Convém ter pontos de apoio em todos os partidos do chamado “arco da governabilidade”.

Os contratos e negócios não têm ideologia. Uns tantos empresários inteligentes passaram a fazer múltiplas no Totobola. Passaram a acolher, com afecto, colaboradores de destaque que apoiam diferentes partidos, incluindo o PS.

Hoje já não é nada possidónio um betinho de Cascais apoiar o PS.

A classe empresarial mais elevada continua a ser a classe social mais influente e dinâmica no País. Reparte-se entre o PS e o PSD. E não está nada interessada em liberalismos. Está mais preocupada em assegurar contratos.

Em rigor, é com isto que se tem de viver. Os escândalos financeiros do capitalismo anglo-saxónico, de matriz liberal, deixam-nos sem alternativa de monta. A única causa por que vale a pena lutar agora é muito simples: contratos, pois sim, mas com verdade e transparência. Só isto. Não é verdade que a aspirina não possa ser bebida com Coca-Cola.

10.16.2009

i'm really more of a dog person

Achieving life is not the equivalent of avoiding death.
[Ayn Rand]

não há qualquer nexo de causalidade entre a forma como vivemos ou como morremos. descobri ontem que afinal os gatos eram da empregada da minha avó.
não que isso tenha importância, a forma como morremos. a mim assusta-me mais a forma como envelhecemos.

10.15.2009

i could get used to this

desço e subo demasiado baixo demasiado alto demasiado rápido. hoje é bom e viciante. amanhã já não sei.

10.13.2009

copo meio cheio

agora que a minha alma agoniza aos bochechos convulsivos e se esvai em sangue, posso aproveitar o CV novo para enviar para os sítios onde queria trabalhar [ou qualquer desculpa é boa para desviar a atenção da alma daquilo que lhe caiu em cima]

[em modo repeat] se trabalhar fosse uma coisa boa não te pagavam para fazê-lo

10.12.2009

Os assaltantes eram de Leste

Na madrugada de sexta para sábado, os pais de um grande amigo meu foram assaltados em casa. Foram alvo de violência física e psicológica durante um par de horas, até darem tudo o que tinham de valor. Os energúmenos, encapuçados e com sotaque de Leste, queriam sempre mais. Não se contentavam. Homejacking, é o nome desta hedionda prática. O Correio da Manhã fez primeira página com o acontecimento.
As vítimas, na casa dos sessenta anos, estão muito fragilizadas psicologicamente. Quem sabe não recuperarão mais. Serão assaltadas outras vezes, dezenas delas, agora por pesadelos.
Se estivessem a passear pelas zonas mais escuras da Ribeira, poderiam ter sido assaltadas pelos gangues do Aleixo ou de Miragaia ou pelos Gunas.
Mas descansavam em sua casa e os assaltantes eram de Leste.
Se deixassem o carro com um telemóvel à vista na zona da Avenida de Roma, um "adicto" do Relógio poderia partir-lhes o vidro e levar-lhes o dito.
Mas descansavam em sua casa e os assaltantes eram de Leste.
Se fossem a Setúbal passear pela Avenida Todi nas noites quentes deste Outubro, um bando da Belavista podia gamar-lhes as carteiras.
Mas descansavam em sua casa e os assaltantes eram de Leste.
Portugal é um país demasiado fraco para lidar com estas novas ameaças de violência. Continuamos a receber demasiado bem quem não conhecemos.
Elogiamos a integração dos imigrantes de Leste, cuja cultura afinal não compreendemos bem. Franqueamos-lhes a portas, com um sorriso politicamente correcto nos lábios. Ignoramos que os países de Leste têm uma história de violência e desprezo pela vida humana incomparáveis, que se impregnou bem fundo na identidade dos seus cidadãos.
As máfias de leste são uma coisa abstracta para nós.
Nunca colocamos a hipótese da nossa simpática empregada moldava dever favores e prestar informações sobre os nossos pertences aos conterrâneos marginais e violentos que cá a puseram clandestinamente, em condições sub-humanas.
Não sabemos. Só nos preocupamos em preencher lugares com essa pobre gente, em empregos subqualificados, que os nossos conterrâneos há muito deixaram de querer.
Não nos preocupamos em registar a origem, a morada, os dados dessas pessoas, e em confirmá-las. Em pedir-lhes os papéis.
As autoridades não se obrigam a um período de vigilância e acompanhamento, por exemplo, de três anos, sobre a actividade que os imigrantes desenvolvem no nosso País. Seguindo-os no emprego e no desemprego e cruzando a informação com notificações obrigatórias das entidades patronais. Achamos isso desumano, ou muito dispendioso.
E depois gastamos o couro e o cabelo a tirar impressões digitais e a recolher DNA da casa das vítimas. E em prestar-lhes "apoio psicológico". Pobres de nós.

se por acaso se lembrassem de tornar o election day feriado por cá, até teria ido votar



assim [não] sendo, o meu domingo foi mais produtivo, mesmo em fast foward.

10.08.2009

Estrelinhas flutuantes




Ahá!
Fisguei um micro-partido que defendia, nas legislativas, a nacionalização da grande propriedade e dos serviços básicos, entre os quais os transportes, a sustentar agora, nas autárquicas, a municipalização dos solos e dos transportes públicos. E quando forem as presidenciais? A presidencialização?
Alinhei a estrela à esquerda (trata-se de uma fotografia subaquática tirada por mim no Algarve)pelo conselho da Clara, num post abaixo.

1917-2009




Irving Penn

gestão de expectativas

Expect the best. Prepare for the worst. Capitalize on what comes
[Zig Ziglar]

imaginemos o sr. X., vai casar e precisa desesperadamente de um roupeiro novo para a roupa da futura mulher. veio a saber, numa conversa de corredor, que o IKEA vai ter uma promoção de roupeiros e marcou no calendário o dia da promoção e a referência do roupeiro que vai comprar. no dia marcado, à hora de abertura da loja acotovelou-se para entrar com mais uns milhares de pessoas. acontece que roupeiros daqueles só haviam 14 para venda e o sr. X foi o 15º cliente a chegar à zona de promoções de roupeiros, já vazia. furioso, procura um vendedor e faz a sua reclamação. embora no folheto de promoções esteja claramente escrito "limitado ao stock existente", o sr. X está furioso e tenciona deixar uma reclamação por escrito. é chamado o apoio ao cliente e o gerente oferece ao sr. X nova promoção: um roupeiro maior ao qual é feito um desconto de peso, ficando apenas por mais 10% do valor do primeiro mas com muito mais espaço e o formato exacto para tapar o buraco que o técnico da TV cabo deixou quando furou a parede do quarto para passar o cabo. o sr. X aceita a oferta e vai a correr telefonar à noiva, explicando devidamente que escolheu o maior roupeiro do IKEA. a noiva fica exultante com o espaço que terá para guardar a roupa no futuro e nem se maça quando o sr. X lhe conta que irá a 2 jogos de futebol nesse fim de semana.

imaginemos agora o sr.Y. neste fim de semana combinou com um grupo de amigos uma excursão no Douro no seu iate. tem tudo pronto e está prometido que um dos amigos levará a amiga da mulher recém divorciada que o sr. Y acha imensamente interessante. claro está que o sr. Y consultou todos os sites de meteorologia que existem e todos lhe garantiram tempo perfeito para o fim de semana: sol e vento suficiente para ir à bolina umas milhas pelo Douro, avistando vinhas enquanto se deliciam com o champanhe da reserva especial do amigo e as ostras que o sr. Y mandou vir do adriático. no sábado de manha, porém, rebenta uma tempestade monumental e são forçados a desmarcar o passeio. o sr. Y passa o resto do fim de semana enfiado na cama a beber jameson, furioso por ser derrubado por um factor que não controla.
na verdade, poderia ter pegado no seu jacto particular e ter ido até Zermat, onde a neve estava perfeita e bastaria um telefonema para a empresa que toma conta do seu chalé acender a lareira, rechear a despensa e preparar os quartos para os amigos. mas o sr. Y não se lembrou disso.

10.07.2009

O estranho homicídio de Sofia Azinhaga. Uma novela policiária em post(a)s

Post(a) 1

O Inspector Apolinário marcava encontros pelo Meetic e lixava-se sempre.

Desta vez, jantava vegetariano com uma fulana que não parava de falar sobre Astrologia e ainda tinha metade do Tali do Psi no prato, enquanto ele já tinha rapado o seu e queria pedir a sobremesa.

Apesar de ser um Inspector da Judiciária habituado à rudeza da profissão, Apolinário apagava-se perante as mulheres. Aos hábitos corteses que a mãe lhe incutira acrescia a mãe de todas as timidezes. Ainda por cima, não era um homem bonito, não senhor.

Pois era tudo isso que agora o paralisava face à ruidosa gralha de cabelo escarlate que tinha a sua frente, e que ele tomara por uma normalíssima cor castanha na fotografia a preto e branco, cheia de sombras, e que pensava ser apenas expressão de sensibilidade artística, afixada no portal do Meetic.

Como um azar nunca vem só, a manga esquerda da camisa, demasiado comprida para o braço curto do Inspector, eclipsara totalmente o Tissot quartzo do pulso, pelo que ler as horas implicava um ostensivo safanão que pusesse a cebola a descoberto, gesto inadequado para um cavalheiro.

Para agravar, a sua maçadora companhia havia retirado o seu próprio relógio do pulso e, à medida que discorria sobre as forças ocultas do Universo, girava a pulseira de metal dourado fechada em torno do dedo indicador. Assim, nem olhando de soslaio para aquele Citizen quartzo rotativo podia Apolinário aferir a duração do seu suplício com discrição.

A libertação de Apolinário chegou sob a forma de uma imprevista chamada de serviço. Tinha de ir, explicou à ruivaça, por causa de um homicídio. Pedia desculpa, muita. Mas é que, ainda por cima o cadáver tinha sido descoberto no Gabinete de Sua Excelência o Ministro das Ciências Sociais e da Língua Portuguesa.

CONTINUA

10.06.2009

mesmo básico

design parolo = align center.
design = align right/align left/justify.

as hipóteses de falhar são de uma para quatro. e ainda assim conseguem acertar na errada tantas vezes.

10.02.2009

baby blog mood

bisneta - eles estão a comemorar o quê???? 60 anos de comunismo???? estão a comemorar isso??? não têm vergonha?
bisavó - olha, mas sabes tu o que é o comunismo?
bisneta - sei que matou milhões de pessoas, sei!

[seguiu-se a explicação politicamente correcta do comunismo blá blá blá as pessoas dão tudo ao estado e depois o estado distribui pelas pessoas blá blá blá mas então as pessoas não podem escolher o que querem fazer nem vestir nem ler nem onde moram nem nada porque é o estado que decide por elas blá blá bla]

eu juro que tento explicar a coisa sem preconceitos mas eu não sei explicar a coisa sem preconceitos.

10.01.2009

Gostar de barbas [à quinta e nos outros dias da semana também]



Patrick Petitjean

Simplex [ou como andando por aqui há 34 anos a pessoa aprende a ser indiferente a tudo]

este ano passei o meu filho para uma escola oficial. a escola obriga a uma declaração médica aquando da entrada da criança na escola. a educadora passa a primeira semana de escola a pedir a declaração - com toda a razão uma vez que o ministério vai obrigá-la [mais cedo ou mais tarde] a enviar as fichas de inscrição das suas crianças devidamente acompanhadas da declaração médica.
hesito entre enviar um mail ao pediatra particular da criança, que a passará sem o ver, ou pedi-la no Centro de Saúde. opto pela segunda, mesmo sabendo que terei de marcar consulta com um médico qualquer - à nossa família não foi atribuído médico de família desde que mudámos para a freguesia, há dois anos atrás. as razões são logísticas, o C. S. é muito mais perto de casa do que o consultório particular.
ligo para o C.S., descubro afinal que já tenho médico de família, mas noutra extensão: foi-me atribuído um a duas semanas das eleições, que coincidência espantosa.
ligo para a nova extensão a pedir consulta para a declaração médica obrigatória, a pessoa que atende pergunta para que quero a declaração e responde, singelamente, que se é para o Jardim de Infância, vai pedir ao médico de família que a passe [uma pessoa que nunca vi à frente] e posso levantá-la daí a 2 dias.

o estado que obriga à entrega de uma declaração médica para a frequência de um estabelecimento de ensino próprio é o mesmo que declara aos médicos que passem declarações para frequência do estabelecimento de ensino sem verem as crianças [aqui deve ser a parte simplex da coisa].

9.30.2009

É estúpido pensarmos que só se cresce com o sofrimento

porque às vezes nem assim. outras sim, crescemos mas só por olhar os outros e aí nem tivemos de sofrer, bastou-nos observar.
crescer é sempre bom mesmo que seja à custa do sofrimento porque crescer é aprender e isso é sempre aumentativo para nós.

acontece que eu nem sempre lidei bem com as amizades que tive e também nisso tive de crescer, aprender a lidar melhor. o que me custou alguns amigos e muitas mágoas. mas permitiu-me ganhar outros e preservá-los.

actualmente já quase aperfeiçoei a arte de me afastar quando é preciso que um amigo caia estrondosamente. porque, embora isso me seja extremamente doloroso [aqui ainda não consigo apreender estas dores como não sendo minhas], sei que é a única maneira que tenho de o ajudar [quando tudo o resto já falhou].

se ele está à beira da piscina achando que são águas límpidas e maravilhosas [e eu sei que é apenas uma lama venenosa e tóxica] mas sem coragem de saltar, ou o empurro ou tenho de virar as costas para não ver.

Da amizade

vejo-me forçada a concordar mais uma vez com o Pedro, a amizade está mais perto do amor e da paixão do que queremos admitir, dificilmente aceitamos que temos ciumes, revolta pela incompreensão, sentimento de insegurança para com os nosso amigos. Mas temos, conseguimos é lidar com eles de uma forma mais "natural" do que quando nos apaixonamos por alguém.

A explicação parece simples, temos sempre vários amigos de quem vamos estando mais ou menos próximos conforme as circunstâncias da vida. Mas temos apenas um amor de cada vez [na maioria das vezes, pelo menos]. Os sentimentos "maus" que nutrimos por alguns amigos são diluídos, compensados, revistos noutros amigos. E assim, não se concentrando num único alvo, eles não são ampliados, desmesurados, complicados como são quando se focam apenas num individuo.

Não sei quem inventou a monogamia obrigatória [de certeza que terão sido os Cristãos ou Judeus, a culpa é sempre deles] mas está na hora de acabar com este preconceito. A minha convicção nisto é tal que estou quase a criar a causa no facebook [se não achasse que ela já existe].

9.29.2009

O Norton, o Kasperski e o Ursinho Panda

Estranho, estranho, estranho.

Sempre achei que Cavaco Silva tem muitas qualidades, mas estratégia política não é uma das mais salientes.

A sua principal arma política é a gestão do tempo para falar e do tempo para calar. Deixar mistérios no ar. Fazer longos silêncios. Cultivar tabus. Em muitos casos, com magros resultados, refira-se.

O célebre tabu de Cavaco Silva contribuiu decisivamente para o ambiente doentio dos idos de 94 e conduziu à sua inglória derrota eleitoral contra Jorge Sampaio e à entrada retumbante de Guterres no governo.

Hoje Cavaco Silva decidiu falar. Foi muito pouco claro sobre os factos. Nunca falou de escutas. Deixou espaço para que o PS, num discurso mais preciso de resposta, marcasse pontos.
E rematou com um argumento, que vai ficar na história, para credibilizar a existência de suspeitas: diz que ouviu pessoas "ligadas à segurança", que o alertaram para a existência de "vulnerabilidades" no computadores da Presidência- como que a dizer "vejam, vejam, que é plausível que tenha havido acesso ilegítimo a emails- pois se os computadores são vulneráveis...".

Estas coisas dos computadores já existem há alguns anos, e há três constantes nessa ainda curta história: o crash, o reset e a vulnerabilidade. E isso não prova que haja logo, por si só, fugas ou violações de privacidade.

Outra coisa que também sei é que, para descobrir vulnerabilidades graves em sistemas, não se ouvem pessoas à terça-feira. Manda-se fazer uma coisa chamada "auditoria informática", que demora tempo e é normalmente vertida num calhamaço que é preciso estudar. Pode ser que tenha sido isso que o Presidente mandou fazer. Não sei, porque não explicou.

É que ouvir, ouvir, é mais apropriado para generalidades computacionais. Tipo o Norton ser muito pesado, o Kasperski um verdadeiro glóbulo branco e o Panda um ursinho.

9.28.2009

Porque é tão difícil renovar um partido político como o PSD

Imaginemos que se inscreve no PSD um médico com uma carreira profissional de sucesso, cheio de ideias sobre a saúde e com vontade participar na renovação do partido.
Após receber o cartão pelo correio, o nosso médico é integrado na secção do partido do local onde reside. O que ele sabe é de saúde, mas não há nenhuma estrutura dos militantes da área de saúde. A área geográfica é que conta.
Lá vai ele, por exemplo, para a secção A, de Benfica. Na primeira Assembleia de Secção onde participa, cedo compreende que não é ali que vai poder discutir as suas ideias. Não há lá mais nenhum médico, nem sequer quem perceba de saúde. Aliás, o ambiente pode ser deletério.
O médico apercebe-se também que as pessoas que participam na Assembleia estão mais ou menos pré-ordenadas pelas tendências nacionais que degladiam: barrosista, cavaquista, santanista, passoscoelhista, etc. E fica desagradado com a confrangedora discussão a que assiste, pois que os participantes se limitam a repisar o que o que já foi pelos mentores das tendências.
O nosso médico não se revê em nada disto. Entrega então um pequeno memorando ao presidente da Secção com as suas ideias para a saúde, pedindo-lhe que o faça chegar à estrutura adequada do partido.
O presidente da secção, que está nesse cargo há mais de dez anos, e que apoiou todos os líderes, sem excepção, e que se sucederam uns contra os outros, desconfia. E o papel por ali se fica.
Inconformado pela falta de notícias quanto ao destino do memorando, o nosso médico decide que o melhor é tentar falar directamente ao coração dos militantes reunidos em Congresso, ou em Assembleia Distrital.
Não dá. Apesar de altamente qualificado e de ter propostas escritas, só se for eleito delegado na secção A é que lá pode ir. Mas para isso precisa de ter votos. De ser proposto e eleito delegado. Numa palavra, de estar inserido numa tendência pré-existente e de conhecer alguém na secção que valorize o seu contributo.
Ora, era contra as tendências já existentes que o nosso médico queria trabalhar. E para alguém valorizar o seu contributo, era preciso que percebesse do tema, o que não acontece.
Azar. Inconformado, decide mandar as suas propostas por carta ou email, para a sede do partido.
Ninguém lhe responde. O email está pensado para enviar propaganda a anunciar comícios e arruadas, não para receber contributos de militantes. E mesmo que os receba, é lido por uns funcionários que não têm competências para avaliar o seu conteúdo.
E lá morre uma segunda vez a contribuição do nosso médico.
A lição é simples: as estruturas partidárias não se adequam aos tempos modernos, que exigem uma hiper-especialização temática.
A estruturação por áreas de residência perpetua a máquina partidária, e afasta as pessoas de qualidade da sociedade civil que poderiam trazer ideias e propostas novas.
Com as máquinas partidárias imutáveis, as tendências instaladas perpetuam-se. As pretensas renovações não são mais do que cooptações promovidas pelas tendências dominantes e validadas em assembleias por elas condicionadas.
Para renovar é preciso abrir o partido. Mudar os estatutos. Criar secções por especialidade e não apenas por residência. Abrir o Congresso e as Assembleias Distritais aos militantes que registem uma proposta de moção temática, mesmo que não sejam eleitos delegados. Substituir a estrutura piramidal de organização territorial por uma geometria flexível sectorial.
Em suma, transportar o partido para o século XXI.

9.27.2009

O enjoo de terra

Estas eleições produziram-me um efeito que não consigo bem explicar e que nunca tinha sentido no passado.
Como se estivesse quase mareado, apesar de estar com os pés bem assentes na terra.
Não é bem uma náusea, mas é uma sensação de enjoado torpor.
Parece que a vontade geral de mudança se dissipou e perdeu gás, face à pungente evidência da pouca espessura das alternativas. E parece que a alternativa é mesmo ficarmos mais leves, mais indiferentes, mais concentrados no nosso dia a dia.
Mas, para agravar, nada é afinal grave. Não é preciso nenhuma ruptura. As coisas compor-se-ão, como sempre. Não se compuseram? Não chegámos até aqui? O ar não está assim tão irrespirável. Há só um desagradável halitozinho de cárie. Oratol e passa. Está lá, mas não se nota.

9.25.2009

Mandem-me um contacto de um exorcista, urgentemente

em casa tenho, para além da minha, duas vozes.

uma [maior] diz:
-mãe, vote na Ferreira Leite, nós* precisamos do seu voto.

outra[mais pequena] diz:
-mãe, vota no sócrates porque ele vai ganhar.

É óbvio que os seus pequenos corpos foram invadidos pelo espírito de dois assessores dos partidos do centro - os argumentos, a forma de tratamento e a insistência no tema eleitoral não deixam margem para dúvidas.

E agora, para não privilegiar nenhum, sou obrigada a votar noutro partido qualquer. ou em nenhum.

*não, não é filiada na JSD. pelo menos que eu saiba.

9.24.2009

Filosofia de pacote



foto Greg Williams

na saúde como na doença, é sempre essencial ouvir uma segunda opinião.

9.23.2009

[da série] comentários fabulosos I

Fico surpreendida com exposição apresentada. Compreendo que de manhã cedo a compreensão dos factos esteja lentificada. Mas o que é certo, é que 9h da manhã já não é propriamente cedo. Muitos portugueses pensam assim, e deve ser por isso que o país tem tantas carencias. Será que ninguém percebe que o mundo não pára, mesmo quando a maioria dorme? Sejam eles o INEM, a polícia, os estabelicimentos de actividade nocturna, os hospitais.... que seria do epilético ou do bêbado se toda a gente não compreendesse o mundo às 9h da manhã?
[anónima, no post aí em baixo].

Mais alguém tinha dúvidas que o país não anda para a frente por eu ter sono numa segunda feira, às 8 e meia da manhã?
Ainda bem que estamos esclarecidos.

9.22.2009

Credo como me aborreço

esta noite sonhei que era muçulmana e muito nova. o meu pai queria casar-me com um qualquer [o meu pai não era o meu pai, nem sequer aparecia no sonho] e eu saltava um muro onde um guarda muçulmano guardava um portão para não nos deixar sair [nem nenhum homem entrar]. então saltei com um truque, porque o guarda estava armado, eu e a minha amiga fugimos a correr por entre os tiros, a correr pelo meio da rua que era o nada e corremos até nos cansarmos e deixarmos de ouvir os tiros. tínhamos os cabelos ao vento e rimos, felizes, mas depois percebemos que tínhamos de continuar a fugir e a correr para sempre e desatámos a correr de novo até que a minha amiga, cansada, desistiu e voltou para casa. eu continuei a correr, conheci uns rapazes a quem roubei uma bicicleta, entrei num colonato judeu [que era uma espécie de tenda enorme com pessoas muito bem vestidas e a comer muito bem], pedi comida e ajuda, ninguém me ajudou, nenhum dos estupores dos judeus de camisa Polo Ralph Lauren me deu sequer um bagelzito, antes olhavam para mim como se eu fosse o inimigo, como se os quisesse fazer explodir debaixo da tenda de luxo.

e mesmo esse sonho era melhor do que o da noite anterior onde tudo o que fazia era tentar comprar heroína.

À porta da escola

duas mulheres falam muito alto. discutem, penso, mas ao chegar mais perto estão apenas a contar as novidades uma à outra.

e disse-me que não me atrevesse a pôr lá os pés outra vez porque me matava. só estive com ele duas semanas e sabia lá que o homem era assim, parecia-me um senhor.

a minha mente, visual como de costume, preenche os brancos e imagina um homem género Francisco Pinto Balsemão ou Miguel Horta e Costa sentados numa sala de visitas de uma cadeia [das dos filmes, uma mesa metálica com um pequeno separador no meio, duas cadeiras de costas de metal], gravata de seda e fato Zegna, as bocas mexem sem dúvida mas não são aquelas as palavras proferidas.

obviamente, a minha noção de "senhor" e a desta mulher são completamente distintas, tento então imaginar o que será a imagem de "senhor" dela. não consigo, desisto.

chego apenas à conclusão que me persegue desde sempre - a mente humana tem uma capacidade infinita de se enganar a ela própria.

9.21.2009

Corações ao alto

também há-de existir quem conquiste pela arrogância.

À porta de casa

antes das nove, o homem de colete amarelo fluorescente agachado, mãe deve ser epiléptico, eu ainda a processar o colete e a imaginar a declaração amigável, ela já deve ser epiléptico. olho mais atentamente, o colete diz INEM e há uma moto estacionada em frente no passeio, amarela. olha agora o INEM tem motas? sim, mãe são chamados os veículos rápidos. eu ainda a processar a mota amarela a dizer INEM e já ela são veículos rápidos. há bocado ao pequeno almoço falámos das sondagens à boca das urnas e nem sabia o que são urnas.
o homem diz vou vomitar. o do INEM responde vai vomitar? eu chamo o meu filho, puxo-o com força pela mão e arrasto-o até o carro. alvitro a hipótese de se tratar de um alcoólico, que os alcoólicos também têm tremuras, não só os epilépticos. num dia normal haveria uma qualquer lição de moral a tirar disto, mas não hoje, é segunda feira e ainda nem nove são da manhã.

9.18.2009

e pur si muove

aguardo que te chegues para lá para que também eu possa avançar.

todos os dias. aguardo.

já está?

9.17.2009

Coisas boas da crise

Ocorrem-me duas imediatamente: os saldos muito mais saldos e muito mais cedo na Oficina Mustra, na Emporio Armani, na Fashion Clinic e na Boss. E o realismo dos bons chefs portugueses.
Estes voltaram ao conceito da tasca fina, mas low cost. O Sobral abriu em Campo de Ourique a Tasca da Esquina, que se recomenda. E agora o meu muito preferido Miguel Castro e Silva deixou o Porto e abriu o De Castro, na Elias Garcia, em Lisboa. Acabei agora mesmo uma excelente refeição, por um preço muito razoável. Que bom, que bom! Nem os dois piercings bem colocados da minha companhia me distrairam... excessivamente....

9.16.2009

Das caixas de comentários

Porque comentamos nós num blog?

Eu, sem dúvida que o faço por puro masoquismo. Gosto de umas chibatadas de vez em quando mas, a ver, selecciono cuidadosamente quem está na outra ponta do chicote.

Qualquer dia entro em greve aos comentários em blogs alheios*. Hoje é o dia.

*há apenas um em que posso comentar de acordo com a lógica mas, para não obviar a coisa, a greve estende-se a este também.

pessoas com extremo bom gosto